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Um olhar sobre o ensino de português

As transformações econômicas e culturais ocorridas no mundo, aliadas à dinamicidade do mercado de trabalho causaram inúmeras mudanças na sociedade brasileira. Por isso, esse mundo contemporâneo está a exigir um profissional que domine a língua portuguesa com maestria, saiba ler um texto e escrever outro.

As novas demandas surgidas, na pós-modernidade, conferiram à leitura e à escrita importância nunca antes alcançada. Todavia em um mundo no qual a aquisição de informação torna-se um diferencial significativo, não basta mais somente aprender a ler e a escrever, é preciso ir além, fazer uso da língua como prática social, como um instrumento, um veículo que permita ao usuário se situar bem na vida cotidiana. Para tanto, faz-se necessário que os referenciais pedagógicos visualizem o ensino escolar como um processo  contínuo de apropriação das práticas sociais, as quais se manifestam através de textos (verbais e não verbais) que transitam nos diversos espaços públicos, formais e informais.

Todo profissional, particularmente aqueles de Língua Portuguesa, deve ter o olhar voltado para a formação de cidadãos críticos e reflexivos. Como afirma Imbernón (2005, p. 15) “formar o professor na mudança para a mudança”. A boa ou a má formação do professor irá refletir nos resultados do ensino e na formação intelectual das pessoas.

O que se deseja, com este texto, é despertar, no professor de língua portuguesa, a consciência para a necessidade de se revisar as práticas de estudo e aplicação da gramática normativa em sala de aula. Espera-se despertar os espíritos adormecidos e/ou acomodados em práticas antiquadas, no sentido de fazer brotar em cada mestre, o amor pelo ensino e pela disciplina língua materna, fonte importante para a compreensão das demais áreas do conhecimento.

Uma estratégia produtiva, acredita-se, seja a leitura e a  (re)escritura de textos, vistas como um meio e um fim de se avançar numa educação de qualidade, numa maneira democrática de ler e dizer do mundo, metodologia pautada na inclusão do ser humano no seu próprio mundo. Essa prática redundaria no bom alvo a ser atingido para o aprimoramento da qualidade e da humanização do sistema de ensino de português, calcado em regras, em decoração de normas e não na prática da escrita e elaboração de textos.

Paulo Freire (1994, p. 98), um dos maiores filósofos educacionais do Brasil, disse que “a leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”. Essa é uma das ideias mais brilhantes de Freire. A minha leitura de mundo precedendo e determinando a minha leitura da palavra, e esta sendo fundamentalmente essencial para a continuidade e a ampliação daquela. Neste sentido, poder-se-ia dizer que texto e mundo se confundem: a leitura e/ou a escrita do texto pode decifrar o mundo.

Sabe-se que ler e escrever são, pois, um direito de todos e é dever da escola possibilitar a realização deste processo aos alunos. É desumana a escola que não viabiliza aos estudantes, em ambiente escolar, o acesso a saberes e práticas que dignifiquem a vida do ser humano enquanto cidadão pensante e agente da sua própria história. A escola é o espaço de abolir preconceitos e estabelecer a democracia e o respeito de uns pelos outros. Assim, a escola é o espaço de incluir os excluídos pela sociedade e pelo mundo. É o espaço de gerar sonhos e colaborar para a realização deles.

Entende-se o educar como uma arte e, assim sendo, ela assume, ao mesmo tempo, as funções de compartilhar saberes, prazeres e sonhos. Tomando esse ponto de vista como válido e relevante, não se pode negar que a arte não exclui. Ela, ao contrário, inclui o leitor/apreciador no mundo que ela cria/traduz/retrata. O artista mescla realidade e fantasia na busca incessante de compreender o seu mundo e os outros mundos, nas tonalidades grave e agudo.

Igualmente os educadores deveriam assumir a sua função, inspirados nos trabalhos dos artistas (teimando, e sofrendo, e suando, e limando, e fazendo, e refazendo). A educação não está pronta, o ensino também não. A escola deve ser espaço para criar e recriar, não para copiar e reproduzir ideias e sentimentos antigos. É preciso mudar a concepção de práticas educacionais prontas. Assim, agindo, poder-se-ia, talvez, pensar num mundo mais fraterno, justo e solidário para todos, capaz de ser um lugar comum para abrigar os sonhos humanos.

Assim sendo, a educação como o lugar para abrigar e realizar sonhos é o ideal sonhado pelos bons educadores. E a democracia cultural se alcança através de um processo de distribuição igualitária de “bens simbólicos”, onde os valores de significações estejam acima dos valores de mercadoria.

O acesso à leitura e à escrita aqui é visto como uma condição de existência dessa democracia cultural. É uma forma de se inserir seres humanos no próprio mundo em que vivem e de onde foram excluídos por não dominarem a leitura/escrita.

Compreende-se, por fim, ser a linguagem uma capacidade humana de articular significados coletivos e compartilhá-los em sistemas arbitrários de representação, que variam de acordo com as necessidades e experiências da vida em sociedade. Dessa forma, pode-se atribuir à língua a responsabilidade de construção e “desconstrução” dos significados sociais, o que conduz a situá-la no emaranhado das relações humanas, nas quais se insere o aprendiz.

DICAS DE GRAMÁTICA

Diferença entre “onde” e “aonde”

Onde = que lugar, em que lugar, qual lugar. Indica permanência, uma ideia estática, o local em que se encontra ou ocorre algo. Vem normalmente acompanhado de verbos que indicam estado ou permanência.

Exemplos:

Onde você está?

De onde você está teclando?

Não sei onde ele estava e nem perguntei.

Afinal, onde você mora?

Aonde = a que lugar, para onde. É a junção da preposição “a” + onde. Dá a ideia de deslocação. Vem normalmente acompanhado de verbos que indicam movimento como ir, chegar, retornar, voltar e outros.

Exemplos:

Aonde você vai a essa hora da noite?

Aonde nos levará essa política brasileira?

A jovem ficou perdida, simplesmente não sabia aonde ir.

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Luísa Karlberg – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ: Membro da Academia Brasileira de Filologia; Presidente da Academia Acreana de Letras.

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