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‘Você tem que persistir’, diz Coronel Kinpara, primeiro policial acreano a servir nas forças de paz da ONU

Nascido e criado na baixada da Sobral, em Rio Branco, o coronel da reserva da Polícia Militar do Acre (PMAC), Marcos Kinpara, é um dos militares de maior destaque da coorporação e conquistou, ao longo dos mais de 20 anos de dedicação, a admiração e o respeito dos colegas de farda, chegando a ser nomeado Comandante da PMAC no ano de 2018.

Assim como a maioria dos brasileiros, Kinpara teve como propósito a perseverança para conseguir vencer na vida. Tendo como base a família, o militar desde cedo já estava convicto de que somente através dos estudos poderia alcançar seus objetivos, e galgar voos maiores. Em entrevista ao site A Gazeta do Acre para a série Gente do Acre, Kinpara falou sobre a sua história: de superação e de muitas conquistas, mas acima de tudo de temor a Deus e gratidão à mãe, Damiana Mourão, a qual tece os maiores elogios.

“Sou acreano de Rio Branco, meu pai é japonês e minha mãe é acreana de Sena Madureira. Cresci e morei na Baixada da Sobral, no Palheiral, e sempre estudei em colégio público. Minha mãe é uma lutadora, ela se divorciou do meu pai quando eu tinha três anos e conseguiu me criar. Ela é meu grande exemplo. Sou filho único por parte da minha mãe, e tenho mais cinco irmãos. Tenho duas filhas, uma já é adulta, a outra é a Dani, que teve câncer, e em função das radioterapias teve um AVC. Ela também é meu grande exemplo. Sempre motivada, não reclama de nada. Ficou sem andar nem falar na UTI, e hoje está se recuperando”.

“Se for fazer alguma coisa, tem que fazer da melhor forma possível”, diz Kinpara (Foto: Arquivo pessoal)

Para Kinpara, as pessoas de origem humilde sempre têm dois caminhos: estudar e vencer ou optar pelo lado do crime, de facções e drogas, levando à morte ou prisão.

“Graças a Deus, mesmo nascendo em um bairro da periferia, segui o caminho do bem, assim como a maioria das pessoas que moram nessas regiões. Estudei e mudei minha história, assim como muitos podem fazer. Meu pai, que faleceu em 2011, nunca deixou bens materiais, mas sempre falava que para vencer na vida tem que estudar, o que sempre fiz. Me formei em Inglês, Direito, em Segurança Pública, fiz o concurso da Polícia Militar e galguei todos os postos, chegando a coronel. Se for fazer alguma coisa, tem que fazer da melhor forma possível. Procurei sempre ser um bom militar. Passei um ano no comando da PM, e fiz o que pude em prol da corporação”.

Ao longo de sua jornada, o militar somou diversos cursos em seu currículo, entre eles os realizados fora do Brasil: Special Operations Research and Development (Pesquisa e Desenvolvimento de Operações Especiais), realizado na Carolina do Sul, Estados Unidos, Combat Shooting (tiro de combate), Law Enforcement (Gestão em Segurança Pública) e Vip Protection (Proteção VIP), todos realizados na Flórida, também nos Estados Unidos. Entre os cursos, destaques para o Info-Communication (comunicações informatizadas), realizado na terra de origem da sua família, o Japão.

“No Japão sempre tem os cursos, o que acontece todos os anos com os profissionais de Segurança Pública. É feita uma seleção a nível do Brasil para participar. Na primeira vez que fiz, fiquei para disputar com um delegado da Policia Federal de Brasília, ficamos empatados, e ele como era mais velho, foi quem conseguiu ir. No ano seguinte, 2009, participei de novo do processo seletivo, e consegui fazer o curso. Na ocasião, aproveitei para visitar meus parentes orientais. Em 2011, fiz um curso na polícia dos Estados Unidos, fiquei na Florida e tive a oportunidade de trabalhar com os xerifes daquela região, visitei as penitenciárias, a SWAT. Esse intercâmbio foi bom para minha aprendizagem, além de aperfeiçoar o meu inglês”.

(Foto: Arquivo pessoal)
(Foto: Arquivo pessoal)

O militar foi o primeiro acreano a participar de uma missão de paz organizada pela ONU, no Sudão do Sul, no continente Africano.

“Na verdade, quando entrei na PM, esse era um sonho meu. Você sair do seu país para ajudar pessoas de outros países, arriscando sua vida. Por isso, uma das primeiras faculdades que fiz foi de Inglês. Para a ONU foi a mesma coisa que aconteceu quando queria ira ao Japão. Estava preparado, fiz o teste, e mesmo indo bem, tinha outras pessoas de postos maiores que foram indicados. Mas, da mesma forma não desisti, continuei estudando e consegui ir na segunda vez que tentei. Essa foi a missão mais difícil que participei a nível nacional, com policiais de todo o Brasil. Depois fui ao Rio de Janeiro para me preparar para a missão.

Militar acreano ficou seis meses no Sudão do Sul (Foto: Arquivo pessoal)

Kinpara ressaltou que a experiência foi gratificante. “No Sudão do Sul são mais de 60 tribos que brigam entre sí. As vezes, uma tribo mata a outra. Dentro da ONU tinhamos três acampamentos de refugiados, com pessoas de vários países. É como se fosse uma cidade. Meu serviço era de Policial Militar. Tive colegas da Rússia, Japão, China, Índia, que trabalhavam comigo, na mesma equipe. Foi uma experiência boa. Se você é uma pessoa resiliente, aprende a ser mais, pois vê as dificuldades que aquele povo enfrenta. Tenho alguns relatos, como de uma criança, de uns nove anos, que chegou sozinha no acampamento. Fomos investigar sua vida, seu pai morreu, sua mãe não resistiu aquela situação e cometeu suicídio. Ou seja, a criança andava sozinha. Isso marcou muito. A gente ver muita probreza e os horrores da guerra. Fiquei seis meses no Sudão. Eles gostam muito dos brasileiros. Fiz muitos amigos e fui muito bem acolhido”.

Polícia Militar

O coronel fala do orgulho de fazer parte da Polícia Militar do Acre. “A Polícia Militar é a minha vida. Tenho muito orgulho de ter sido funcionário da Educação, depois passei um ano na Saúde, sendo agente. Logo em seguida passei no concurso da PM. Fiquei em nono lugar no concurso. Tinha 19 anos. Como não tinha academia no Acre, fui para Salvador, morei lá um ano. Depois fui para João Pessoa/PB. Adoro a hierarquia e disciplina militar, amo a minha instituição. Tudo o que eu tenho foi graças a Deus, a minha família e ao meu trabalho na polícia. Sou um cara correto e acessível, quando fui comandante procurei sempre ser justo. Estou na reserva há pouco tempo, mas sai com a sensação de dever cumprido”.

Endomarketing

Endomarketing – O caminho da implantação é o primeiro livro de Kinpara (Foto: Arquivo pessoal)

Entre suas muitas facetas, o coronel também se tornou escritor, e lançou sua primeira obra: Endomarketing – O caminho da implantação, onde aborda este conceito de marketing que visa desenvolver o senso de propósito das pessoas dentro de uma organização, seja ela privada ou pública.

“Não sou formado em Administração Pública, mas gosto muito, sou curioso. Sempre estudei essas ferramentas sobre administração. Meu trabalho, quando fiz minha pós-graduação, que é um curso da PM que você tem que fazer para ser promovido, o tema foi justamente esse: o endomarketing, que é o markentig interno, com os funcionários, para motivá-los, fazer com eles se sintam donos da empresa também, e o patrão valorizar o seu trabalho. Se a empresa crescer ele cresce, se a empresa acabar, ele também perde o emprego. Dentro do que pude tentei fazer isso na Polícia Militar. Estou na estruturação de um livro que vai falar sobre as missões que participei, dos casos que presenciei no Sudão do Sul”, concluiu.

Veja a entrevista na íntegra:

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Agnes Cavalcante: