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O silêncio dos deuses

Olá!!! Como estamos?

Hoje, na minha caminhada matinal, percebi como estava à vontade com o silêncio que pairava as 5h30 da manhã, o cantar dos passarinhos, dos grilos, o pisar de cachorros e gatinhos nas folhas secas, o barulho de algum peixe nadando no lago e os meus pensamentos, que pareciam que falavam comigo, seja uma bela melodia de oração ou a minha consciência relatando os deveres que tinha… E comecei a refletir sobre o silêncio.

Esta “senhora” dos devaneios adora o silêncio. Às vezes, é nesse vazio de signos que se tem as melhores compreensões acerca de si mesmo e das coisas e, em outra medida, a construção de um mundo simbólico e imaginário. Neste sentido, no “nada”, veio a compreensão de como não estamos mais usufruindo de momentos de silêncios, de oportunidades de captarmos tudo, naquele exato instante da ausência de palavras e sons.

Podemos notar que vivemos numa sociedade barulhenta, em todos os sentidos. Temos que ter, do poder público, leis e fiscalização com o barulho produzido pelos seus habitantes; os celulares (este nosso “quinto membro”), insistentemente, pedem permissão para que as redes sociais, os sites, os bate-papos façam notificações, o famoso “plim-plim”,  porque tudo é uma emergência.

A música troca a melodia; a poesia é substituída pelo sons produzidos através de recursos digitais e tecnológicos – sintetizadores (equipamentos que tem como fim elaborar sons artificialmente); e os filmes românticos, os momentos dos suspiros, do encontro de dois lábios, ocorre em meio aos toques dos celulares, avisando que existem outras realidades paralelas acontecendo.

Não estou aqui fazendo alusão a um passado bucólico… Porém, estou elencando os “sons” intermitentes a que todos estamos sujeitos e, como consequência, o cansaço sobrevém. Como diz um filósofo contemporâneo, por quem tenho enorme admiração, Byung Chul-Han, em seu livro ” A Sociedade do Cansaço”, estamos vivendo, de fato, em uma sociedade do cansaço e, dentre tantas causas, temos o exagero de tudo, tudo é muito…

Neste sentido, que faço um alerta: se nós, adultos da geração antes da década de 80, 90, estamos vivenciando os efeitos patológicos de uma contemporaneidade que não descansa, imaginemos o que isso acarretará para a vida futura, como efeito colateral, dessas crianças e adolescentes que já nasceram expostos a esse “barulho social”?! Aliás, nem preciso dizer de “futuro”, não acham??

Não é brincadeira, temos que considerar a higiene mental, o momento de parar e silenciar, ouvir a própria voz. Várias são as práticas que colaboram pra essa sustentável leveza do ser.

Os estímulos são importantes, mas tudo em demasia provoca doença, irritação, mal-estar e disfunção. Talvez, devamos considerar o “nada”, a falta de sons, a “faxina” dos pensamentos, o momento do ócio. Garanto que ninguém perde tempo e, sim, recarrega as “baterias” para uma existência mais criativa e significativa.

Marcela Mastrangelo: Marcela Mastrangelo é socióloga, bacharel em Direito, coach e terapeuta sistêmica e estudante de Psicologia.