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Baobá

Acabo de ler um texto triste e, ao mesmo tempo esperançoso, de um colega com quem estive em um grupo de poesia no fim do ano passado. Não o conheço profundamente, mas lembro muitíssimo bem de seus poemas. Em especial de um que escreveu em dupla com uma outra colega de curso. Trabalhar em dupla é pra mim, talvez, a atitude mais generosa a que um escritor pode se entregar, confiar a um outro o completar de uma ideia sua, de uma criação sua, não é pouca coisa. O texto?

Sim. Ele falava de um desejo de dizer aos que encontrasse na rua de que é feito o Brasil. Ou melhor, de quem é feito o Brasil. Dizia da vontade de sacudir os ombros do motorista do aplicativo e lembrar-lhe de Antonio Candido, Fernanda Montenegro e Darcy Ribeiro, de “…pôr em roda umas crianças na praça e contar-lhes as histórias da Maria Carolina de Jesus e da Cora Coralina. Repartiria com elas o que disse, o que fez Nise da Silveira, Eunice Paiva, Zuzu Angel, Conceição Evaristo”.

Eu fiquei comovida. A gente anda precisado mesmo de lembrar. Não sei exatamente por que, mas associei o texto a um momento lindo que tive com minha mãe nas férias de janeiro. E lhe enviei prontamente as palavras de Marcílio Godoi, o lembrador de Brasil que me movimentou a segunda-feira. A lembrança?

Sim. Ela me contava, a riso frouxo, que, durante muito tempo, acreditou que os baobás chamavam-se obasobas. E explicava, “acho essa árvore a coisa mais linda, gosto quando vejo uma, talvez por isso, acreditei que dois obas seguidos seriam nomeação adequada”. Se isso não for poesia, eu não sei mais o que é.

Recife tem 150 baobás, segundo matéria do Diário de Pernambuco, 13 tombados pela prefeitura. Recife tem a minha mãe. Eu desejo que, como Marcílio, você se lembre, se possível todos os dias, da força dos seus, diga da força dos seus. Que, como a minha mãe, você veja poesia em árvore, em gente, em palavra. Que, como eu, você deseje. Boa semana, queridos.

 

 

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