Qual é a distância entre uma pessoa e o seu sonho? Para a estudante Antônia Roseli Cavalcante Melo, de 20 anos, são exatos 636 quilômetros entre sua cidade natal, Jordão, no interior do Acre, e a capital, Rio Branco, onde ela foi aprovada no curso de Saúde Coletiva, na Universidade Federal do Acre (Ufac), por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Mas a mudança não é tão simples, considerando que o acesso ao município de Jordão só é possível por meio de barco, em um percurso que leva de dois a três dias, ou de avião para o município de Tarauacá, em uma viagem que custa em torno de R$ 400 reais. Desta forma, morar em Jordão e cursar faculdade na capital é completamente inviável. Por isso, para realizar o grande sonho e se tornar a segunda pessoa da família a conquistar um diploma universitário, Roseli promove uma rifa, com o objetivo de custear a mudança de cidade.
Filha do casal de agricultores Antonio de Paiva Melo e Maria de Jesus Alves Cavalcante, ambos de 53 anos, Roseli conta que o maior desafio não foi conquistar uma vaga na Ufac, mas sim ter que se mudar para Rio Branco. O curso está previsto para começar no dia 21 de março.
“O desespero bateu, a angústia, o choro, as noites mal dormidas. Na minha cabeça, vinham várias perguntas: ‘Como vou conseguir ir até Rio Branco?’, ‘Será que vou ter o que comer amanhã?’, ‘Os meus pais não podem mandar uma quantia em dinheiro para mim todo mês. Como vou me virar?’. Nunca foi fácil e nem tá sendo, mas, acima de tudo, eu acredito muito em Deus, porque ele já está fazendo que tudo aconteça e que tudo possa dar certo”, afirma a estudante.
Mesmo com pouca idade, Roseli trabalha desde cedo, tendo atuado como doméstica, babá, além de ajudar a família na produção rural. Em uma pequena área de terra, ela, os seis irmãos e os pais fazem o plantio de diversas culturas, como milho, arroz, banana e mandioca, utilizada também na produção de farinha que a família comercializa. Além disso, eles também criam galinhas.
“A ‘colonha’ do meu pai é muito longe, às vezes até oito horas andando, dependendo de como tá o ramal, são oito horas, mas, quando chega o verão, facilita mais. No inverno, infelizmente, a gente enfrenta a realidade de ir andando, porque não temos nenhum meio de transporte, mas, desde criança, eu sempre tive vontade de trabalhar na área da Saúde, sempre procurei me dedicar aos estudos na escola. Como eu não tinha outra forma de dar orgulho aos meus pais, sempre procurava tirar as melhores notas, sempre queria fazer um bom trabalho, fazer muito mais do que os professores pediam”, relembra.
Apesar das dificuldades impostas pela falta de oportunidades, Roseli conta que sempre recebeu o apoio dos pais.
“[Eles ficaram] muito felizes porque é um sonho que eu quero realizar, de poder estudar, me formar, dar uma vida melhor para os meus pais, porque meu pai não quer que a gente viva a mesma situação que a gente já viveu. A gente sofreu bastante, eu quero muito poder me formar, porque a nossa vida não é fácil. Acredito que muitas pessoas passam pela mesma situação que eu, então, eu aproveito as oportunidades. Minha família ficou muito feliz. Eles sempre me motivaram, meus pais, principalmente. Meu pai até fala ‘minha filha, você vai passar por muita dificuldade, mas cabe a você saber enfrentar'”, ressalta.
Rifa
A rifa vendida por Roseli custa apenas R$ 5 e tem 22 prêmios que serão sorteados no dia 4 de março. A compra pode ser feita por meio de transferência bancária PIX, através da chave de CPF 704.474.932.13.
Mais informações podem ser obtidas por meio do telefone (68) 98401-7873.