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Jovens trans barradas em casa noturna denunciam empresários e PM por transfobia, no Acre

Giovanna França e Jo Larah, ambas de 19 anos, foram impedidas de usufruir o direito da entrada gratuita para mulheres em casa noturna de Cruzeiro do Sul.

“Eu tô dizendo que vocês não são mulher” (sic), foi o que as jovens trans Giovanna França de Lima e Jo Larah da Silva Lima, ambas de 19 anos, ouviram de um policial militar ao serem barradas na entrada de uma casa noturna, na cidade de Cruzeiro do Sul, no último sábado,5. Elas registraram um boletim de ocorrência, na última quarta-feira, 9, por transfobia, por serem impedidas de usufruir o direito da entrada gratuita para mulheres no estabelecimento.

Um vídeo registrou momentos após elas tentarem entrar na boate. No local, os homens deviam pagar R$ 20 para entrar, enquanto mulheres tinham entrada gratuita até 22h30.  Giovanna contou que chegaram às 22h, mas que o dono da casa noturna, que estava na portaria, as barrou.

“Antes de entrar, a gente já foi barrada. Ele falou que para entrar a gente tinha que pagar porque a gente estava se vestindo de mulher para entrar na boate. A gente explicou para ele que a gente estava no nosso direito, e ele continuou falando que a gente tinha que pagar porque a gente era  homem”, relatou Giovanna.

Elas relatam ainda que já haviam entrado no local outras vezes e que essa foi a primeira vez que isso aconteceu. Segundo Giovanna, o empresário decidiu ligar para a Polícia e elas concordaram com a atitude, mas foram surpreendidas com a postura do militar, que foi registrada no vídeo.

Em um dos trechos, ele diz: “porque que vocês entraram e hoje não entram ele já explicou. Que mulher que não paga, vocês pagam!”. Em outro momento, é possível ouvir Giovanna questionando “Olha para mim, você está vendo um homem ou uma mulher?”, e a outra dona do estabelecimento responde: “mulher vocês não são, né?!”.

“Me senti muito constrangida e muito desamparada, pois no momento não me senti com direito a nada e nem com respeito por parte deles, pois, pra eles, estava me sentindo uma palhaça”, declarou Jo.

“Foi humilhante para a gente. A gente também vai dar parte dos PMs que estavam presente, porque eles também estavam errados, estavam sendo preconceituosos, estavam sim sendo transfóbicos, e a gente vai seguir em frente com isso”, afirma Giovanna.

No boletim de ocorrência, as denúncias foram tanto contra o casal de empresários quanto aos policiais militares.

O site A Gazeta do Acre tentou falar com os empresários, mas até a publicação desta matéria não teve retorno. A Polícia Civil informou que o caso está sob investigação, mas que as vítimas já foram ouvidas. O empresário e demais envolvidos também serão ouvidos. A assessoria da Polícia Militar afirmou que, até o momento, não foi realizada nenhuma denúncia sobre o fato. Mas que, caso haja, um procedimento apuratório será instaurado.

Giovana e Jo também foram ouvidas pelo promotor de Justiça Ildon Maximiano, nesta quinta-feira, 10, no Ministério Público do Acre (MPAC). Segundo o promotor, toda forma de preconceito não pode ser admitida, e o caso será devidamente apurado. Para o Ministério Público do Acre, práticas discriminatórias em função do sexo, gênero ou sexualidade do indivíduo não devem ser toleradas.

Grupo de apoio

Preocupados com a segurança das jovens, um grupo de apoio à comunidade LGBTQIA+, organizado pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) aguardou pela decisão das vítimas em denunciar o caso. Um dos integrantes, o professor Éverton Melo de Melo foi quem as acompanhou na Delegacia, no MPAC e na Polícia Militar. No boletim de ocorrência, as denúncias foram tanto contra o casal de empresários quanto aos policiais militares.

“Elas foram muito bem recebidas nos órgãos competentes, como na Delegacia da Mulher, e no MP, que entrou em contato, o promotor foi extremanante elegante. Com ecxecção do batalhão da PM que nos deixou a manhã lá esperando e ninguém nos atendeu”, afirmou Éverton.

Ele explica ainda que a maioria dos casos de homofobia e transfobia não chegam a ser denunciados por medo das vítimas. “Por ser uma cidade pequena e por toda a problemática que uma denúncia traz a quem faz. A partir do momento que elas decidiram denunciar a gente se prontificou em ajudá-las , mas ao mesmo tempo ficou essa discussão sobre a proteção da integridade fisica delas. A úncia proteção que a gente acha que pode garantir a elas é divulgar essa história”, declara o professor.

Vale destacar que a homofobia/transfobia é crime desde 2019 no Brasil e está atrelada à Lei de Racismo.

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Daniel Scarcello: