Há quatro anos, Lúcio Antônio, de 18 anos, descobriu o Jiu Jitsu, arte marcial na qual se aprimorou, até conquistar sua terceira medalha de ouro, em um campeonato estadual, em novembro do ano passado, em Rio Branco. Morador do Eldorado, bairro carente da capital, ele é um dos 80 alunos que integra o projeto social “Em forma com o Batalhão”, da Polícia Militar do Acre, que teve mais nove jovens vitoriosos, na 1ª Etapa do Circuito Capital Acre Fight de Jiu Jitsu.
As aulas ocorrem no pátio do 3° Batalhão da PM, no bairro Vitória, onde um tatame é estendido duas vezes por semana para receber os alunos. O “Em forma com o Batalhão” começou em 2017, a partir da ideia de oferecer a prática de uma atividade física para os policiais e familiares, mas resultou em um projeto que já recebeu mais de 300 alunos.
“A gente começou a abrir para a comunidade e se tornou um projeto social. No início, a gente tinha um tatame pequeno e, depois, através de projetos com a Vara de Execuções Penais, a gente conseguiu comprar um tatame maior e passou a atender mais crianças”, conta o Major Airton, comandante do Batalhão e coordenador do projeto, desde 2018.
Lúcio recorda que começou a se interessar pelo esporte quando viu amigos praticando a luta. Ao descobrir a oportunidade de fazer aulas gratuitas, decidiu entrar para o projeto. “Eu não consigo ver minha vida sem o Jiu Jitsu hoje. Algo que tenho em mente é de levar para minha vida inteira. Porque tem todo um benefício de disciplina, de saúde física, mental. Além de fazer amigos, confraternizar e competir”, comenta.
Assim como Lúcio, a maioria dos alunos é moradora da região e vai para as aulas a pé. Entretanto, o projeto aceita moradores de todos os bairros, a partir dos oito anos de idade. A condição é que o aluno esteja frequentando a escola, tenha boas notas e bom comportamento dentro de casa. “A ideia do projeto é trazer para essas crianças uma referência positiva, então a gente cobra essas questões”, explica o Major.
O responsável pelas turmas é o professor voluntário sargento Radnson Fontoura. Ele, que é faixa preta há dez anos, substituiu o sargento Ricardo Ferreira, em agosto do ano passado, e recorda que também começou a praticar esportes por meio de um projeto social, no bairro onde cresceu. “Comecei na capoeira, em um projeto no José Augusto. E da capoeira, fui para o Jiu Jitsu, que estou até hoje. É uma sensação muito boa de trabalhar com o público de crianças carentes, já era um plano que eu tinha, é uma missão pessoal também”, afirma.
Para Lúcio, que hoje é faixa azul, o projeto se torna uma “verdadeira escola”, em que os aprendizados vão para além do esporte. “A cada treino vamos aprendendo mais, evoluindo no Jiu Jitsu e como pessoa também. Também é como uma terapia, se a gente chegar ansioso, com raiva, estressado no treino ou se tiver com problemas em casa, a gente sai de lá leve. Isso é muito bom para a gente”, comenta.
O comportamento ansioso e até agressivo foi um dos motivos que fez Gigliane Leite levar seu filho, Guthery Wally Leite, de 15 anos, para participar dos treinos no Batalhão, há quatro anos.
“Foi de grande ajuda! Meu filho estava bem peralta na escola, não queria fazer as atividades, batia nos colegas e, ao entrar para o projeto, isso mudou. Hoje tenho um filho empenhado com os estudos, com o jiu-jitsu e, de fato, com a vida. Sou muito grata pelo projeto. Meu filho participou de cinco campeonatos, nos quais ganhou cinco medalhas de ouro e um troféu de finalização mais rápida. Ver o esforço dele e a dedicação é o meu maior orgulho. Hoje o professor, sargento Fontoura, tem feito um grande trabalho com as crianças e adolescentes, a dedicação dele é enorme para com todos os alunos”, declara a mãe.
O projeto é totalmente voluntário e o sargento Fontoura reforça que uma das dificuldades é oferecer mais qualidade material na prática, como na aquisição dos quimonos. O major Airton afirma que a PM pretende buscar recursos para melhorar o serviço para os alunos.
“É um projeto muito bem visto pela PM e o comandante tem interesse que ele permaneça acontecendo. Estamos tentando uma verba federal para a construção de um lugar específico dentro do Batalhão mesmo, que tem espaço para ampliar essa prática. A gente faz ainda no pátio, coloca o tatame, faz a prática e recolhe”, afirma o Major Airton.