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Trabalho igual, salário igual

Juliana Moreira advogada coluna

“Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, no mesmo estabelecimento empresarial, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade” Art. 461 CLT.

Desde criança eu sempre ouvi da minha mãe que o estudo seria sempre o meu primeiro marido. Você quer viajar? Trabalhe. Você quer uma casa melhor, um carro melhor? Trabalhe.

Esse era o diálogo na minha casa: trabalhe e será recompensada. E eu acredito que esse é o diálogo na casa de inúmeras meninas, adolescentes e até mesmo mulheres adultas até hoje.

Trabalhe e será recompensada. E é verdade. A maioria das pessoas que trabalham, são recompensadas pelo seu trabalho.

Mas não da mesma forma. Existem inúmeros fatores que fazem um trabalhador ser recompensado de maneira diferente dos outros. E isso é inclusive regulamentado por lei, sabiam? Melhor expertise, background educacional, vivência, fluência de múltiplos idiomas influenciar para uma contraprestação maior pelo trabalho.

No entanto, o que não deve contribuir para a diferença salarial é o gênero. Só que infelizmente o cenário mundial é outro.

Não raro diversas pesquisas apontam dados que de homens e mulheres não recebem igual pelo mesmo trabalho de igual execução.

É isso mesmo: Tudo igual. Menos o salário.

Quando chega o contracheque no final do mês o homem ganha até 35% a mais do que mulher.

Se fizermos um quadro comparativo com os trabalhadores, homens e mulheres, podemos constatar que a média da remuneração das mulheres em 1970 era de apenas 50% do que os homens recebiam, já em 2020 essa média chegou a 81%.

Isso significa que onde os homens ganham, por exemplo, R$ 5.000, as mulheres estão ganhando R$ 4.050, ou 19% menos que os colegas do outro sexo.

Já entre as profissões de alto escalão, a diferença chega a 33% menos.

O represamento dos aumentos passa, principalmente, pela dificuldade maior das mulheres em se manter de maneira contínua no mercado de trabalho e conseguir promoções e evoluções na carreira.

É fato que ao chegar na casa dos 20-29 anos, no período pós faculdade, homens e mulheres almejam formar família. E é aí que a desigualdade salarial começa.

Os filhos.

Hoje para tentar diminuir, escutem, DIMINUIR, a diferença salarial, as mulheres sacrificam muitas vezes o desejo de ser mãe, postergando ao máximo o período gravídico, isso quando há oportunidade.
Tudo em nome de uma melhor remuneração.

A diferença vai ficando maior conforme aumenta também o grau de qualificação, já que são carreiras em que há mais caminhos para progressão, mas onde há também maior abdicação de tempo com a família e mais tempo dentro dos escritórios e da indústria.

Lado outro, as mulheres que não conseguem uma alta qualificação, e submetem ao restante da força de trabalho, onde estão os profissionais de baixa escolaridade e que representa a larga maioria do mercado no Brasil, há pouca evolução de cargo, de especialização ou de salário. Assim, elas chegam ao fim da carreira ganhando ainda valores baixos e muito próximos do começo.

Além disso, a maternidade, os filhos e os afazeres domésticos ainda pesam mais sobre as mulheres e demandam mais flexibilidade. A cultura organizacional ainda promove os profissionais baseados em critérios masculinos, um exemplo clássico é que o empregado deve estar totalmente disponível ao trabalho ou trabalhar várias horas. Como uma mãe vai se dedicar ao trabalho e aos filhos com essa exigência do mercado?

Hoje, de acordo com os dados da pesquisa, as mulheres que têm entre 20 e 29 anos ganham, em média, 11% menos que os rapazes da mesma idade, considerados apenas os profissionais com formação superior. Entre aqueles com mais de 45 anos, a remuneração feminina já fica 38% menor que a masculina.
Ainda, a mulher possui a dupla jornada de trabalho, que virou tripla para quem faz home office com os filhos em casa ou ainda estudam. Outras nem tiveram a oportunidade de trabalhar de casa. Por isso, podemos afirmar que os anos de 2020 e 2021 vão mostrar, estatisticamente no futuro, anos de perdas no mercado de trabalho para o grupo feminino.

E aí, você me pergunta, diante de todos esses números, o que podemos fazer para combater essa desigualdade?

A cultura organizacional é algo que é topdown (de cima para baixo). Não conseguimos fazer mudanças em uma área pontual se a lógica não for aplicada em toda a organização, desde os líderes até os funcionários.

Mulheres que alcançaram posições de liderança deveriam ver seu sucesso não apenas como um objetivo final, mas também como uma responsabilidade social perante as novas gerações. Como temos poucas mulheres na liderança, cada uma delas deveria se fazer visível dentro e fora da sua organização – tanto para crianças nas escolas, quanto para mulheres no início da carreira.

Também devemos trabalhar na eliminação dos estereótipos de papéis de gênero (de que a mulher cuida da casa e dos filhos, enquanto os homens saem para trabalhar) são persistentes no Brasil e passam de pais para filhos. Mulheres que trabalham fora gastam uma média de 18 horas por semana em tarefas domésticas ou cuidando de dependentes familiares – 73% a mais que os homens.

Promovendo igualdade e responsabilização equilibrada e dividida dentro dos nossos trabalhos e, principalmente dos nossos lares.

É comum que na contratação de uma mulher, o contratante leve em consideração que ela irá ao médico periodicamente, que se tiver filhos, ela terá que levar os pequenos nas consultas.
Mas aí surge a seguinte pergunta: isso é de fato uma regra ou um costume?

Por que o homem não leva o filho ao médico? Por que esta questão não é um problema na contratação de alguém do sexo masculino?

Precisamos normalizar a divisão de tarefas, ao passo que dessa normalização teremos os primeiros passos para um equilíbrio da contraprestação salarial da mulher.

Essas soluções são maneiras eficazes de combater a desigualdade salarial entre homens e mulheres, mas muito mais do que soluções, nós precisamos de mudança, precisamos de um novo mindset que aceite as ambições profissionais da mulher para que ela sinta que aquele lugar é dela. A gente não está falando de lugar por caridade, mas lugar por competência.

Afinal, competência não depende do gênero. Quantas mulheres brilhantes poderiam integrar sua equipe hoje?

Fontes de pesquisa:

  1. Documentário Netflix: “Porque as mulheres ganham menos?”
  2. https://www.cnnbrasil.com.br/business/mulheres-ganham-19-menos-que-homens-no-topo-diferenca-e-de-mais-de-30/
  3. https://einvestidor.estadao.com.br/comportamento/mulheres-ganham-menos-doordash
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