Notícias de abuso sexual são vistas, infelizmente, com frequência nos noticiários de todo o país. No Acre, a situação fica ainda pior, quando observamos os municípios do interior, em que os familiares são os principais agressores. No livro “Sussuro”, lançado pela jovem acreana Gabriela Nascimento, de 23 anos de idade, no início de março deste ano, histórias reais e ficção se misturam para falar sobre relações de amizade e família a partir de situações traumáticas de abuso sexual.
Para a autora, seu primeiro livro vem como a realização de um sonho e com a esperança de inspirar outras pessoas a partir das histórias de Kiara e Cibele, que começou a escrever no final de 2020.
No livro, de quase 200 páginas, o leitor acompanha a história de Kiara, que sempre viveu dramas familiares que desencadearam tentativas de suicídio. Ela e sua irmã mais velha foram molestadas pelo padrasto na infância e, tempos depois, descobrem que a irmã caçula, de apenas 13 anos, também fora estuprada, pelo cunhado. Em meio a tanto desespero, Kiara ainda teve que ser o apoio para a sua melhor amiga, Cibele, que, infelizmente, também teve traumas parecidos. Enquanto elas lutam contra os traumas juntas, Kiara resolve inscrever a amiga em um concurso de poesias e, pouco a pouco, encontra alguém capaz de remexer seus sentimentos e lhe ofertar amor.
“É uma história muito forte, tocante. Me deu vontade de escrever sobre isso porque eu queria muito que as pessoas soubessem o quanto elas foram corajosas, foram fortes, não para dizer quem foram, mas por saberem que existem pessoas assim, fortes e que mesmo com toda a luta não deixam de ser boas, de acreditar, e de ter um bom coração”, explica a autora.
A publicação de “Sussuro” foi possível por meio do edital de incentivo à cultura e publicação de livros da Fundação Elias Mansour (Fem). Gabriela diz que a publicação foi a realização de um sonho.
“Não achei que teria a coragem de publicar , não achei que teria a repercussão toda que teve. Já realizei um sonho pessoal, então estou tentando atingir o máximo de pessoas com a mensagem principal do livro, que é a da força da mulher, a força da amizade e a de sempre acreditar e lutar por justiça. Sempre vai ter alguém para nos ouvir e nos ajudar, não vale a pena desistir. É isso o que eu quero passar para as pessoas”, afirma Gabriela.
Paixão de infância
Formada em engenharia agronômica, mestranda em agronomia e estudante de jornalismo, Gabriela Nascimento é de Cruzeiro do Sul, mas cresceu no município de Guajará (AM) e hoje vive em Rio Branco. Filha de professora, ela conta que a relação com os livros começou ainda na infância, por influência da mãe.
“Comecei escrevendo cartinhas, poemas… Então, sempre escrevi muito, mas nunca tinha coragem de expor meu trabalho. Comecei a fazer um livro que não cheguei a concluir. Sempre achei que ninguém ia se interessar pelo meu trabalho, que não valorizavam a escrita e a literatura na minha região”, recorda.
Ela diz que cresceu com o sonho de escrever um livro e no início da pandemia, em 2020, concluiu sua primeira obra, mas recorda que fez por pura realização pessoal e a manteve guardada. Até que surgiu a ideia do seu primeiro lançamento.
“Quando eu consegui escrever esse livro, que era uma coisa bem pessoal, só para mim mesmo, despertou em mim a vontade de escrever mais e realizar esse sonho de publicar. Isso me reaproximou da escrita, me fez voltar a escrever poemas”, comenta.
Gabriela se declara apaixonada pela literatura brasileira e cita Clarice Lispector, José de Alencar, Carina Rissi e Machado de Assis como principais referências. “Um dos livros que me marcou foi ‘Dom Casmurro’. Li ele muitas vezes, sou apaixonada pela forma intrigante como Machado de Assis escrevia. Ele que me inspirou, observava como eram interligados os capítulos dele, e me fazia questionar se eu conseguiria escrever um livro inteiro”, conta a acreana.
O livro pode ser adquirido diretamente com a autora, por meio do seu perfil no Instagram e no site da Amazon.