Nos últimos dois anos, o número de notificações de casos de hanseníase aumentou no Acre. Em 2020, foram 81 pessoas e, em 2021, foram 91 novos casos, segundo dados do programa estadual da doença. Entretanto, para o Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), mesmo com o aumento, o número não corresponde com a atual situação do Estado.
“São dados longe da realidade, porque são casos espontâneos, houve uma retração das notificações. Se tivesse sido feita uma busca de caso ativos em todo o estado do Acre, esse número teria triplicado. Estamos tendo crianças com 7,10, 14 anos de idade fazendo tratamento de hanseníase, em Tarauacá, por exemplo. É complicadíssimo, a gente tem cobrado muito para se fazer uma campanha e busca ativa de casos porque a tendência é aumentar os números”, afirma o coordenador estadual do Morhan, Elson Dias.
Na última semana, o órgão realizou uma ação nos municípios de Sena Madureira, Manoel Urbano e Tarauacá, de onde duas pessoas foram encaminhadas para a Casa de Repouso Souza Araújo, em Rio Branco. Durante a ação, foram realizadas rodas de conversa com pacientes, familiares, agentes de Saúde e da assistência social, para informar sobre o tratamento e como identificar a doença. Uma dessas visitas foi na casa de Dona Luzia, que recebeu ajuda da prefeitura após a divulgação do seu caso no site A Gazeta do Acre.
A hanseníase é uma doença causada pelo agente infeccioso Mycobacterium Leprae que atinge os nervos e se manifesta na pele. De tratamento simples, o mais importante é o diagnóstico precoce da doença, possibilitando a cura sem sequelas. Com o avanço da doença, o dano nos nervos periféricos pode levar a lesões nas mãos e pés, além de outras partes do corpo.
Durante a visita aos municípios, Elson Dias relatou que o “grande problema” encontrado é o abandono familiar e a falta de cuidado. Muitos dos pacientes possuem úlceras, que precisam de cuidados adequados e curativos diários.
“Às vezes é pela falta de condições financeiras, e também faltam muitos profissionais no Estado, na área da hanseníase. As pessoas que estão hoje já são pessoas de idade. A maior dificuldade é no interior, segundo o responsável pelo programa de hanseníase, aqui não está tendo condições, pelo programa estadual, para essas visitas itinerantes, aos ribeirinhos que precisam de buscas ativa dos casos de hanseníase. É um desafio muito grande que o Morham cobra do governo do Estado, que se faça, imediatamente, uma força tarefa, uma busca ativa de novos casos, para que a gente não tenha, futuramente, pessoas com graves sequelas da doença e complicações”, afirma Elson Dias.
No Brasil, com a pandemia, houve retração nas notificações, que passaram da média de 28 mil casos, em 2019, para 18 mil casos, em 2020.
O que é o Morhan
O Morhan é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 21 de setembro de 1982, por Francisco Augusto Vieira Nunus, conhecido como Bacurau. Suas atividades são voltadas para a eliminação da hanseníase, através de atividades de conscientização e foco na construção de políticas públicas eficazes para a população. O Morhan luta pela garantia e respeito aos Direitos Humanos das pessoas atingidas pela hanseníase e seus familiares, tendo no voluntariado a maior força de luta.