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‘Livre para fazer o que quiser’: Danilo de S’Acre fala sobre carreira e planos para o futuro

(Foto: Arquivo pessoal)

Com referências que vão de Salvador Dalí (1904-1989), pintor espanhol considerado o mestre do surrealismo, até Hélio Melo (1926-2001), seringueiro e artista acreano, que viveu a natureza como elemento indispensável das suas obras, Danilo de S’Acre contou um pouco da sua história ao site A Gazeta do Acre. Com um olhar tímido, porém, com percepções que evidenciam o seu trabalho, o multiartista, assim como pode ser considerado, falou que a arte está presente em sua vida, desde a infância.

Em entrevista À GAZETA, Danilo contou que a arte está presente na sua vida desde a infância. (Foto: Dell Pinheiro)

“Meu nome de batismo é Danilo Batista de Sá, adotei Danilo de S’Acre como meu artístico. Desde a minha adolescência que uso esse nome. Nasci em Rio Branco, em 1958, na colônia Custódio Freire, que hoje é parte do bairro Irineu Serra. Passei parte da minha infância neste local. Depois, vim para a parte central da cidade, já com uns sete anos de idade. Sempre me interessei pela arte, isso desde criança. A floresta, o local onde nasci, que me abriu a mente para a arte, o lado estético, a observação das coisas, da natureza, dos animais, das nuvens, e de tudo que ela oferece”, disse o artista autodidata.

De S’Acre falou do início da sua carreira, em um Acre onde o ‘respirar’ cultura ainda precisava de balões de oxigênio, não tão diferente dos dias atuais.

“Naquela época, meados dos anos 1970, em Rio Branco, não existia nada de arte, exposições ou outras manifestações artísticas. Eram poucos artistas. Acredito que eu, e Dalmir Ferreira, somos dois dos mais antigos artistas acreanos, sempre trocávamos ‘figurinhas’. Era muito difícil encontrar livros de arte. Então, o contato era mais dessa brincadeira de desenhar, de descobrir coisas. As histórias em quadrinhos estimulavam a gente nesse sentido”.

Danilo iniciou na carreira na década de 1970 e recorda a escassez de trabalhos artísticos no Estado, na época

Da Capital Federal ao Velho Continente

“Em 1977, fui morar em Brasília. Lá, terminei o segundo grau, hoje conhecido como ensino médio. Na capital Federal, tive contato com artistas e com grupos de teatro. Aliás, o teatro me ajudou, pois, sou muito tímido. Foi no palco, diante do público, que tive uma segurança maior para me expressar, além de conhecimento. Fiquei dois anos em Brasília, onde também fui cartazista, desenhando cartazes para lojas, e até bancário, porém, só aguentei por um ano o trabalho, que achava muito desgastante. A alma de artista falou mais alto. Pedi demissão do banco e voltei para o Acre, novamente, onde iniciei no grupo teatral Semente, isso em 1979. Também trabalhei na Ufac, e colaborei no jornal Varadouro com os meus desenhos. Depois, fiz alguns exposições no Nordeste”, salientou Danilo.

A carreira de Danilo é marcada por exposições na Europa, onde morou durante 13 anos

O artista comentou que sempre teve vontade de viajar para outros países. “Tinha vontade de ir para o exterior, não sabia para onde ainda, mas queria. Quando morava em Brasília, visitava algumas embaixadas, e sempre procurando uma oportunidade de sair do Brasil. Daí, pintou uma oportunidade de conhecer a Itália, onde um amigo meu estava morando. Então, fui, com a ‘cara’ e a coragem, isso em dezembro de 1980. Foi uma aventura muito louca, pois tinha poucas condições financeiras. Também conheci Ancona, que é uma cidade mais ao Norte da Itália. Depois, fui para Roma, local onde estudei Belas Artes. Foi uma experiência única, são muitos museus, galerias de arte, livrarias e muitos artistas, do mundo inteiro. Aliás, a cidade toda é um museu, obras de arte em diversos lugares. Também fiz algumas exposições na Europa, onde fiquei 13 anos”.

As mais diversas formas de arte

“Foi na Itália que a minha cabeça se abriu para muitas coisas, inclusive sobre o abstrato, pois lá eu só fazia o figurativo, depois é que comecei as primeiras tentativas de abstrato. As primeiras tentativas de abstração foram lá, o que não é fácil, como muita gente pensa. Não é somente jogar tinta e demais elementos no quadro. Tem que ter uma segurança, e um controle estético muito grande. Você vai vivendo e vai absorvendo muita coisa. Isso acumula, e você tem que por para fora. Quando retornei ao Brasil, senti isso, que tinha que mostrar todas as vertentes do meu trabalho, seja nas mais diversas formas de arte. A bagagem dos anos de trabalho te possibilita muita coisa, como ser livre para fazer o que quiser”.

A imersão na cultura européia trouxe a segurança e o conhecimento para iniciar na arte abstrata: “Não é fácil como muita gente pensa”, destaca De S’Acre

Referências

Referências no Surrealismo marcam trabalhos do artista, que é fã de Salvador Dalí

“São muitos artistas que tenho como referência, que me ajudaram a ser mais coerente e forte no que faço. Na adolescência, a escola que mais me impressionou foi o surrealismo, na figura de Salvador Dalí e do  artista e fotógrafo francês André Breton. No Acre, tenho como referências diversos artistas, como Garibaldi Brasil, Dalmir Ferreira, Ivan Campos e Hélio Melo, que nos influenciou através desse olhar para a floresta, da luz, das coisas simples que a arte contém. Você capta a essência de cada um deles”, ressaltou  De S’Acre, que também se considera um artista visual que passeia por várias tendências de arte.

“Gosto muito da fotografia, que é a imagem. Isso sempre me fascinou. Gosto de brincar com as imagens, sobrepor, fabricar poesia no que vejo. A fotografia sempre foi um passatempo muito prazeroso, uma terapia. Meu mais recente trabalho: ‘Fractais: abstrações poéticas em imagens diluídas’, fala muito sobre tudo isso , são fotos poemas. Não paro, estou sempre desenhando, pintando, produzindo alguma coisa. Já estou preparando um novo livro de poemas e desenhos em preto e branco. Essa é uma missão que todo artista tem, sempre idealizando e descobrindo coisas, o que já faço há mais de quatro décadas”, finalizou.

Assista na íntegra:

 

Agnes Cavalcante: