O chocolate é um dos produtos mais apreciados em todo mundo e, ao longo do tempo, acabou se tornando item indispensável durante a Páscoa. Foi exatamente neste período, no ano de 2012, que nasceu uma das empresas mais conceituadas do Acre, pioneira no segmento: a Josefina.
Conhecida por seus produtos de extrema qualidade, Josefina foi idealizada por Rossandra Melo, administradora e especialista em Gestão de Qualidade em Processo de Serviços. “Naquela época eu trabalhava na área comercial de uma multinacional em São Paulo e vim de férias para o Acre, meu Estado, para ‘experienciar’ uma oportunidade de mercado, e vender os famosos ovos de colher, com o apoio apenas da minha família. Conversei com algumas pessoas e no início por ser uma ‘executiva da área comercial’, muitos estranhavam o meu desejo de iniciar o meu projeto”, relembra ela.
Rossandra conta que sempre trabalhou com carteira assinada e, apaixonada pela área comercial, Marketing e vendas, como ela mesma diz, acabou descobrindo um novo amor: o chocolate. “Tomada pelo desejo de retornar para o Acre, por não desejar mais viver longe da minha família, eu decidi arriscar e seguir meu coração. No final da Páscoa de 2012, eu tive a certeza de que eu poderia me dedicar a apreender sobre a área de chocolates e doces. Vendi quase 60 kg de chocolate belga que trouxe na bagagem e vi que produtos de qualidade caberiam na história da Josefina”, relembra.
Logo após, ela conta que retornou para São Paulo decidida a estudar e buscar condições para realizar o seu sonho de abrir uma confeitaria onde todos pudessem consumir produtos com alto padrão de qualidade.
“Eu sou a primeira pessoa a desenvolver receitas de chocolates importados no Acre e, mesmo sendo criticada por muitos – inclusive por pessoas da minha própria família – eu decidi fazer acerto com a empresa, fazer alguns cursos e voltar pra minha terra natal em busca do desafio de empreender nela. Naquela época, o Acre tinha uma doceria que trabalhava com alguns produtos e, desde então, criei o conceito único que a Josefina possui em seu DNA até hoje. A minha paixão pelo chocolate me fez melhorar como pessoa e, ali, a Josefina se funde a minha alma e juntas criarmos a exclusividade do sabor incrível que seus blends de chocolates com alto percentual de cacau possuem”, destaca Melo.
O período mais doce
Nascida na Páscoa, há 10 anos, para Josefina o período sempre foi o mais doce e, assim, ano após ano, a marca se consolida inspirando até mesmo outras empresas que nasceram depois de sua criação.
O negócio que começou em meio a muitas dúvidas, hoje conta com o apoio de familiares e uma cartela de clientes fiel. Até mesmo o próprio pai de Rossandra duvidava dela, como ela mesma gosta de lembrar, sobretudo, com tempo e dedicação, Josefina se tornou o que é hoje.
“Minha família é meu tudo. Já se passaram 10 anos e me lembro das primeiras palavras de meu pai dizendo que as minhas ‘bolinhas não davam camisa pra ninguém e que filha dele não tinha estudado pra fazer brigadeiro’. Nunca foi fácil, sempre fui desafiada, duvidada e tachada de entusiasta, mas eu desejava criar uma linha de chocolates que viesse mudar o mundo dos muitos acreanos que só conheciam as receitas de coberturas com gordura hidrogenada. Chocolates pra mudar o mundo, a mudança tem sido real nesses 10 anos e, a cada capítulo que vivo, vejo o agir de Deus em minha vida”, comemora.
A primeira loja Josefina foi inaugurada em 2015. Naquele período, Rossandra lembra que chegou a trabalhar quase 30 horas ininterruptas devido a alta demanda. “Meu Deus, que época maravilhosa. Eu cheguei a trabalhar 30 horas e nunca pensei que chegaria até aqui… Ali o mercado nos escolheu, nos acolheu, nos abraçou e nossos produtos ofertados a época foram para as mãos de muitos e muitos acreanos”, diz ela que, como todos os empreendedores, em algum momento também pensou em desistir.
O diferencial
Com uma década de expertise, atualmente a Josefina trabalha com quatro linhas de produtos: Linha gourmet, Linha corporativa (brindes empresas, órgãos e instituições), Linha clássica, infantil e a Linha trufada com o famoso brigadeiro da casa 50 e 70% cacau. Todos os produtos, frisa Rossandra, têm padrão com DNA de qualidade, blends (misturas) exclusivos de chocolates importados, nobres e alto teor de cacau.
Este ano, para celebrar os 10 anos da empresa, eles decidiram lançar, ainda, um produto exclusivo, o Ovo de Cacau Nativo Amazônico, 100% orgânico. De acordo com a empresária, é o primeiro chocolate Bean too Bar do Acre (expressão vem do inglês e significa “da semente à barra” ou “da amêndoa à barra”. Dessa forma, podemos entender que ele é feito em uma cadeia produtiva curta, sendo que a empresa acompanha todo o processo produtivo).
O novo produto é 70% cacau, sem açúcar e sem lactose, e foi feito para um seleto grupo de clientes.
“Esse ano nós definimos uma estratégia em produzir em uma escala maior de produtos mais acessíveis para que a gente possibilitasse o consumo do maior numero de pessoas. Nossa produção começou bem cedo e focou muito no clássico do chocolate 50% somados aos ingredientes selecionados que a gente já vende dentro de toda a nossa produção, ela oferta um mix grande de sabores como brownie, palha italiana, brigadeiro, recheios atrelados ao morango, uva, cenoura e nós definimos recheios extremamente simpatizados por pessoas que são adeptas do nosso chocolate para que a gente pudesse conseguir precificar numa condição melhor alcançando um maior numero de consumidores”, explica Melo.
Com o mercado em constante crescimento, Rossandra e sua equipe também se reinventam dia após dia. “Nosso know holl (saber fazer) é crescente de chocolate de verdade, graças a Deus, nossa linha de produção hoje conta com equipamentos que facilitam e tornam nosso processo mais rápido, mas tudo isso só aconteceu a partir de 2018. Nos primeiros cinco anos da marca, nós não tínhamos processo de produção otimizado, segmentado operacionalizado com apoio de equipamentos, hoje nós já temos equipamentos que facilitam, desde temperar a porcionar e separar a mistura dos blends de chocolate e dentro disso, a gente consegue vencer algumas etapas de muito desafio no processo de produção de itens de chocolate no cunho artesanal”.
Como na vida de todo empreendedor, os desafios também são constantes para Rossandra e sua equipe. No caso da Josefina, trabalhar com um produto de qualidade não é fácil, pois a aquisição da matéria-prima segue sendo um desafio no Acre.
“Um dos desafios grandiosos que a gente ainda encontra, até hoje, certamente é a dificuldade que o mercado local tem de possibilitar em uma escala ou constância maior produtos de qualidade, infelizmente nós não trazemos 100% da nossa matéria prima dentro do Estado por não termos ainda empresas que possibilitem pra gente o chocolate da origem que a gente trabalha e a logística é bem cruel diante das dificuldades, estamos muito longe do sudeste, que acaba tendo maior oferta de produtos, embalagens e de produtos que nos auxiliem no posicionamento da fabricação e a distancia, a tributação envolvida na importação desses produtos acaba realmente deixando a gente sempre um pouco mais engessado, a gente acaba tendo que podar um pouco da oferta que a gente poderia colocar no mercado de forma mais constante e volumosa ou escalonada”, lamenta ela.
Impacto da pandemia
Como em todos os setores, a empresa Josefina também foi fortemente impactada pela pandemia de covid-19.
“A pandemia pra gente foi extremamente devastadora. Eu que achei sempre estar a frente da liderança da Josefina fui acometida pela doença bem no início na saída da Páscoa de 2020, eu sai infectada, toda a minha família foi isolada e se infectou e eu quase perdi meu pai. Foram dias de terror e incertezas, medos, eu peguei uma broncopneumonia bilateral, mas graças a Deus, eu reagi bem e fiquei 25 dias sem ir na sede da Josefina para ‘blindar’ minha equipe e meus funcionários tão importantes pra mim naquela ocasião”, lembra ela.
“Quando eu voltei em maio, eu não entendia que nós estávamos prestes a combater uma guerra, eu era muito otimista, eu tinha absoluta certeza de que tudo ia ficar bem e eu mandei minha equipe pra casa, lutei muito pra não demitir naquela ocasião, comecei a dispensar pessoas para irem pra casa de férias, pra irem descasar, eu, sinceramente, não acreditava que essa pandemia iria se prolongar por tantos meses”, lamenta.
Com os desafios impostos pela pandemia, uma das soluções encontradas por muitas empresas foi o sistema de entregas, estratégia também adotada por Rossandra para minimizar os impactos da emergência sanitária, no entanto, não foi uma tarefa fácil.
“O impacto foi imediato no nosso negócio fechar as portas pra gente não receber um cliente pra experiência de loja foi uma das coisas mais difíceis pra mim porque eu não sabia agir diferente. O delivery acabou que não entrou na frente do nosso negócio, talvez porque naquele momento eu estava me preocupando muito com o externo, com o que estava acontecendo lá fora, porque eu sou muito apegada às pessoas e, por mais comercial que eu seja, acredito que a pandemia foi tão intensa para a Rossandra que ela acabou me paralisando comercialmente falando e eu acabei não acertando a mão no desenvolvimento da plataforma do delivery que naquele momento era tão especulativo”, relata.
Os reflexos da pandemia foram tão intensos, que a empresária foi obrigada a demitir a maior parte de seus funcionários, um dos momentos mais difíceis de toda a história da Josefina, segundo Rossandra.
“Demitir a minha equipe parecia um abate de começar a matar meu sonho e eu não tive escolha, não tinham incentivos, não houve consideração pelas vidas que a Josefina representava. Cheguei a ficar com apenas 20% dos funcionários. Nove pessoas mais a minha mãe e eu. Mesmo assim, eu ia lutando quando o ano chegou e a gente lacrou. A Páscoa chegou bem cedo, minha necessidade de capital era grande e os golpes eram muitos, fui pra São Paulo em fevereiro de 2021 e vi que São Paulo dormia e se a gigante, maior PIB do Brasil estava daquele jeito, ali eu entendi que era hora de mudar, de arriscar, jogar as minhas cartas, mudar o jogo, hora de descer da condição de achar que sabia algo para reiniciar e assim foi”, relata ela.
A realidade da Páscoa, conta ela, foi bem diferente dos anos anteriores, considerando que ela chegou a derreter cerca de uma tonelada de chocolate no primeiro ano da loja, enquanto no auge da pandemia, foram apenas 300 quilos, um indicador que trouxe consigo grande preocupação.
“Vivi uma Páscoa de lockdowns, foi a minha menor Páscoa desde 2014 e mesmo atendendo um maior numero de clientes através de delivery naquele ano a gente não chegou a derreter 300kg. O engraçado é que, com 1 ano de loja, nós derretemos quase uma tonelada, em 2018, uma tonelada, então, de repente, parece que a Páscoa era, de fato, o meu renascimento, a minha entrada e a minha saída e aí eu optei por encerrar a loja conceito depois de quase quatro anos e meio daquele modelo de negocio”, diz ela.
Sonho em construção
“Eu achei que 2020 era o pior ano da minha vida, as coisas não acabavam e pra piorar, veio o lockdown, quando eu tive que abrir o inicio das demissões eu fazia os acordos com meu coração cortado, porque dos 42 empregos que eu tive – eu nunca tive dentro do meu negocio uma autoridade no mundo da gastronomia, um chefe pâtisserie ou até mesmo grandes nomes, eu sempre modelei o meu time e eu não tinha rotatividade e cada funcionário pra mim, representava cenas do que é a minha historia por mais difícil que seja a relação em muitos momentos do empreendedor com o seu empregado existia muito amor pela marca dentro de mim e dentro deles. a Josefina tem um grande poder de embriagar todo aquele que conhece o processo de produção”, relata.
Mesmo com a pandemia, a empresária conta que seus sonhos nunca pararam e os planos continuaram. Seu maior desafio era separar o Café Josefina da fábrica de chocolates, um novo passo para quem começou do zero.
“Quando chegaram os meses de sazonalidade (…) eu estava com a loja fechada, time reduzido usando benefício do Governo Federal a acreditando que aquilo ia passar. Meu maior objetivo naquele momento era a separação do café Josefina com a Fábrica. Em 2020 fui prospectada por um grupo econômico local para que eles pudessem ser investidores da primeira fabrica de chocolate que a Josefina iria representar. O nosso plano de negócios estava pronto e o contrato e todas as tratativas comerciais para fusão daquele grupo já havia iniciado consolidado em 2019, então, quando a pandemia se instalou, ela veio me tirando a operação da fabrica da mão, ela veio levando embora a Josefina Café e ao mesmo tempo impedindo o nascimento da Josefina Chocolates, parecia que estava tudo certo. Nós tínhamos mais de meio milhão de maquinas compradas em sociedade com esse grupo econômico e tudo estava dando certo até então, porém, os meses passavam e a pandemia não acabavam”, expõe Rossandra.
“Eu pensei muito em desistir, tinha muita fé que a fábrica seria solutiva para separação da Josefina Café e a inserção de produtos em escala média fabricados no nosso Estado, trazendo a linha nativa amazônica para uma linha de frente onde a Josefina teria construído com muita maestria, mas não foi. Os investidores silenciaram, as máquinas não desceram de São Paulo e as máquinas que estavam no Acre calaram, eu calei, minha família calou, meus funcionários, o mercado… quando nós voltamos pro Natal eu me enchi de esperança de novo, mas o gap (quebra de continuidade) de um ano da inércia do grupo de investidores tinha sido extremamente prejudicial, eles era a primeira fresta de prejuízos econômicos que a minha marca sofria e, depois disso, a pandemia foi a segunda parte mais letal pra nossa desaceleração, o Natal não expressou, a venda não aconteceu, a gente trocava mais abraço do que presentes, mas eu estava cheia de esperanças. Já tinha demitido mais de 10 pessoas em janeiro de 2021″, descreve.
Encurralada pelo momento propiciado pela covid-19, Rossandra relembra que decidiu seguir em frente, mesmo sem apoio.
“Eu lutei muito, busquei muito, virei noites, estratégias, planos contingenciais, operacionais, todos os nomes. Eu virava dias noites pra não fechar as portas. Ali eu vi que eu tinha que fazer um movimento bem rápido e tirar do papel tudo aquilo que já era a Josefina na prática mesmo sem capital mesmo sem investimento”.
“O movimento constante para a frente sempre fez parte da nossa história, mudar para a melhor é um dos nossos princípios e agora vamos viver um outro capitulo da nossa história agora, depois de quatro anos, atendendo clientes e amigos na galeria Bessa vamos nos estabelecer 100% delivery encerrar a operação local enquanto durar a pandemia, a nossa história continua preparando novidades”, anuncia ela.
Apesar de as tratativas de expansão não terem dado certo, a empresária conta que não irá desistir e continua com o sonho de erguer a fábrica.
“Estamos aqui vivendo a décima Páscoa reabrindo o primeiro modulo da mudança de cenário da Josefina buscando encontrar o grupo econômico certo para investir a minha experiência de mercado, a minha expertise desenvolvedora dessa marca que é tão aceita pela sociedade acreana. Eu estou muito bem, porque esse ano eu consegui fabricar um pouco de produtos num teste de distribuição para revenda e essa fatia foi 100% absorvida e no meio dessa absorção de mercado, pessoas acreditando no nosso chocolate, querendo atrelar os seus processos de fabricação, os seus recheios ao nosso chocolate para revender é um marco para a nossa historia no momento que eu mais precisei de capital foi uma estratégia positiva para a marca”, comemora ela.
Sobre o aumento da concorrência, Rossandra enfatiza que a oferta de produtos a base de chocolate a incentivam a trabalhar ainda mais. “Me instiga a ser e serei a primeira marca de chocolates desse Estado com produção de escala eu já sou fábrica há muitos anos como marca, mas agora, a gente precisa vir como modelo de negócios, então, a proposta de retorno da Josefina é a opção de retirada para pegar e levar, meu cliente não aceita o delivery, mas ele aceita retirada no local, seja onde for”, ressalta.
Fé
Superando aos poucos os desafios impostos pela pandemia, os planos não param.
“O meu maior sonho agora é construir os primeiros degraus desse novo capítulo na minha história como Josefina e na história da minha família, eu não sei fazer outra coisa, são 10 anos da minha vida vivendo, sonhando realizando vencendo desafios sim sofrendo, nem tudo é só doce, eu não consigo ser outra coisa, eu sou feliz demais por estar viva e por ter a Josefina viva dentro das pessoas mesmo tendo assado por tudo isso e mesmo ainda não sendo a maior estrutura física de fábrica, eu vejo pelos olhos da fé essa indústria acreana nascendo com ou sem o apoio porque sendo acreana como eu sou o que eu mais desejo de coração é contribuir com o desenvolvimento do Acre a ponto de querer representar uma marca nascida e solidificada no Estado”, finaliza.
*Fotos de Alexandre Lima