A dona de casa Aline Freitas de Oliveira, de 26 anos, moradora de Senador Guiomard, procurou A GAZETA para pedir ajuda, diante do desespero pela situação em que vive com as duas filhas, uma delas com deficiência. É que a casa onde moram, no fundo do quintal da mãe de Aline, já não possui condições de moradia, e ela aguarda, há quase dois anos, ser contemplada em um programa habitacional do município.
“Sou mãe de duas meninas e crio mais duas crianças. Morei minha vida quase toda pagando aluguel com benefício [social] da minha filha, porque não posso trabalhar, pois tenho uma filha especial de oito anos de idade. Ela é acamada, portadora de encefalopatia hipóxico isquêmica, em uso de traqueostomia e gastrostomia, não anda nem fala. A gente mora no fundo do quintal da minha mãe, numa casa de madeira de apenas um cômodo. A casa já não tem mais condições de moradia, pois, quando chove, molha mais dentro de casa do que fora, porque tem parte dela que falta madeira. Minha filha que é especial dorme em canto inapropriado pra ela, aliás, vive em canto inapropriado pra ela, porque eu não tenho condições de pagar aluguel ou de, muito menos, comprar uma casa. Moro de favor aqui onde estou, sofro muito com meus filhos. Passamos por altos e baixos”, relata a mãe.
Uma fresta de esperança, no entanto, surgiu quando Aline se inscreveu no Programa Habitacional de Senador Guiomard, como comprova o recibo guardado por ela, datado de 29 de setembro de 2020. Sobretudo, quase dois anos depois, nenhuma resposta foi dada. Anteriormente, conta ela, sequer conseguiu se inscrever devido à burocracia enfrentada.
“Eu tive a oportunidade de me inscrever nas casas que estão quase prontas, aqui em Senador Guiomard. Foi uma batalha para me inscrever, porque eram muitos papeis e tinha que ter dinheiro para tá correndo atrás de autenticar e ir na Lan House, mas consegui fazer minha inscrição. Fiquei com uma pontuação boa, devido ao meu modo de vida e quantas crianças tinha dentro de casa e ainda morava de aluguel. Só que mudou de gestão, daí entrou a prefeita Rosana Gomes. Estive com ela, na prefeitura, para saber porque a demora de me ligarem ou, ao menos, fazerem as visitas, aí ela disse pra não me preocupar, porque ela tinha certeza que tinha visto meu nome na lista de contemplados, então eu voltei pra casa com esperança e feliz”, conta ela.
Apesar da certeza com que saiu da prefeitura, Aline diz que a espera se prolonga até hoje. “Continuou a demora pra me ligarem de novo, aí fui atrás dela [da prefeita], várias vezes, mas não conseguia. Até que ela atendeu e eu fui, ela ligou pro Serviço Social, para saber das pessoas que tinham sido contempladas. Quando cheguei lá, falaram que até reunião de como zelar das casas já tinham feito e que eu não tinha ganhado porque eu não me encaixava no padrão, e as pessoas com deficiência que tinham sido escolhida tinham sido aquelas que não tinham possibilidade de voltar a ter saúde um dia”, relembra Aline.
“Aquilo me doeu, porque minha filha é acamada, desde um ano de idade. Eu sei muito bem que ela não voltará a ser uma pessoa ‘normal’ um dia, porque ela tem paralisia cerebral. Eles nem sequer olharam minha inscrição, porque na inscrição tem o laudo médico dela. A prefeita mentiu pra mim, dizendo que eu tinha ganhado. Ela brincou com sonhos de uma mãe. Peço a ajuda do Ministério Público, das autoridades responsáveis. Eu só quero que a Justiça seja feita, porque, se fosse por Justiça a quem realmente precisa, eu teria ganhado minha casa, um lar para meus filhos”, lamenta a mãe.
“A casa onde eu moro de favor tem vários formigueiros debaixo, muitos insetos… eu passo veneno, mas não dá certo, porque a casa já não serve mais para morar. Minha filha passa dia e noite debaixo de um cortinado, por causa dos insetos. Quem me conhece sabe muito bem disso. Meus outros filhos dormem tudo numa cama só, porque não tem espaço na casa pra botar cama, nem banheiro tem dentro de casa. Tenho que dar banho na minha filha numa pia porque não tem como descer com ela para tá dando banho no banheiro fora da casa. Isso o Serviço Social nem chegou a ver, porque não tive nem oportunidade de ter visitas dele na minha casa. Eles nunca me deram oportunidade de sequer dar um lar para os meus filhos. Eu estava morando aqui de favor, até que entregassem as casas, mas agora o que faço? Vou para a rua com meus filhos? Porque não tenho condições de pagar aluguel”, indaga Aline.
Nove casas devem ser entregues em breve
De acordo com a Secretaria de Assistência Social de Senador Guiomard, apesar da alta demanda por casas populares no município, apenas nove unidades devem ser entregues dentro de alguns meses, referentes ao processo o qual a dona de casa Aline Freitas se inscreveu. No entanto, a secretaria alegou que a documentação entregue pela mãe estava incompleta, o que impossibilitou que ela fosse selecionada para as etapas seguintes de análise.
Além disso, a pasta reforçou à reportagem que “a inscrição não garante benefícios”, e reforçou que a mãe não pode ser inscrita em outro benefício social, visto que o fato de receber pelo INSS se torna um impedidito para novo benefício, mesmo tendo quatro crianças sob sua responsabilidade como mãe solo.