Dois meses após instaurado o inquérito policial, o delegado da Polícia Civil Judson Barros, responsável pelas investigações, concluiu que a morte de um recém-nascido no Hospital Santa Juliana ocorrida na madrugada de 26 de setembro de 2020, foi uma “fatalidade”, portanto, ele irá representar pelo arquivamento do caso.
Embora a morte do bebê tenha ocorrido no ano de 2020, traumatizada pelo ocorrido, a mãe, K.L.R., de 31 anos, só registrou boletim de ocorrência em março deste ano. No decorrer do inquérito policial, realizado em menos de 60 dias, o delegado ouviu 42 pessoas entre médicos, enfermeiros e fisioterapeutas que tiveram alguma atuação no atendimento à gestante e à criança e concluiu que não houve negligência médica.
“Esse bebê foi reanimado por uma pediatra e voltaram os batimentos, mas ele foi intubado porque não ficou respirando normalmente, e o fato é, que 24h depois [do parto], ele faleceu. Foi aplicada toda a medicação necessária para reanimar, conversei com nove médicos, 29 enfermeiros e quatro fisioterapeutas que, de alguma forma, participaram desse evento, atendendo a mãe e o bebê também, e o bebê acabou morrendo. Mas, momentos antes do parto, o bebê estava normal, foi um parto normal, mas, no momento do parto, ele foi asfixiado, pois o cordão umbilical enrolou ou já estava enrolado, e o bebê morreu. Foi reanimado, mas não conseguiu se manter vivo e faleceu”, disse o delegado.
“[Diante das provas colhidas] não vou pedir o indiciamento de ninguém, nenhum dos profissionais. Estou há dois meses debruçado sobre esse inquérito, estudando direto e ouvindo todo mundo e cheguei à conclusão de que foi uma fatalidade. A mãe chegou na maternidade boa, em ótimas condições de saúde, o bebê também foi atendido, mas, no momento do parto, houve essa fatalidade”, destacou.
“Não é normal essa morte por conta de um circular de cordão, não quer dizer necessariamente que o bebe vá ter uma asfixia, mas, nesse caso, houve. Houve um cuidado médico, não ficou caracterizada nenhuma negligência dos profissionais. Foi uma fatalidade que poderia acontecer com qualquer pessoa”, concluiu o delegado, ressaltando que, a partir de agora, cabe ao Ministério Público concordar ou discordar do inquérito policial, oferecendo ou não denúncia contra os profissionais e o Hospital Santa Juliana, onde o caso aconteceu.
Abalada com os desdobramentos do caso, a mãe preferiu não se pronunciar por enquanto.
Relembre o caso
Foi na madrugada de 26 de setembro de 2020 que K.L.R., de 31 anos, perdeu sua filha, logo após o parto, depois que a criança nasceu enrolada no cordão umbilical e sofreu uma parada cardíaca. O boletim de ocorrência, no entanto, só foi registrado no dia 3 de março de 2021, denunciando negligência médica contra a equipe do Hospital Santa Juliana.
Ao site A Gazeta do Acre, a mãe pediu para não ter o nome identificado. À época, o Hospital Santa Juliana informou, por meio de sua assessoria, que não irá se pronunciar sobre o caso.
K.L.R contou à reportagem de A GAZETA, no dia 5 de março deste ano, que desde o dia 24 de setembro de 2020 começou a sentir dores fortes e houve uma sequência de vezes em que ela foi ao Hospital, mas era liberada. Até que, na madrugada do dia 25, ela começou a sangrar e voltou ao hospital, onde ficaria até o momento do parto.
“Passei a noite toda sentido fortes dores e somente as 8 horas da manhã o médico plantonista chegou para fazer a avaliação. Ele fez o toque e verificou que eu ainda estava com um centímetro de dilatação e disse que essas dores e o sangramento não eram normais para um centímetro e, então, disse que iria fazer um exame de sangue para ver se não era uma infecção urinária” relatou.
Ela afirmou que, durante o dia, foi atendida e examinada algumas vezes, mas sempre voltando para a sala de observação.”Nisso, eu continuava sangrando e sentindo fortes dores. Eu já estava a quase 20 horas sem comer, pois as dores eram tão fortes, que eu conseguia tomar mal água, pois dava vontade de vomitar. As 18 horas, me chamaram novamente ao consultório, já não aguentava quase andar de dor e fraqueza, então a doutora me examinou e verificou que eu estava com seis centímetros e que iria me encaminhar à sala de parto. Eu perguntei se não teria como ser cesariana e ela disse que não, porque era minha primeira filha e que a dilatação estava ótima”, explica.
K.L.R aguardou até as 21h, quando a bolsa estourou, mas relata que o médico informou que o colo do útero ainda estava grosso e que não havia passagem para o bebê. “Como eu estava sentindo muitas dores e não estava mais suportando, o médico pediu para aplicar um Atroveran para amenizar as dores, que de nada adiantou”, conta.
Foi por volta das 1h10 da madrugada que a bebê começou a nascer. Sem forças, foi preciso fornecer mais oxigênio para a mãe, quando a cabeça da criança começou a sair.
“Mas eu não tinha força e ela voltou, me deram um remédio para me ajudar a dar força, então ela nasceu, laçada, sem chorar e teve que ser reanimada, pois o cordão umbilical enforcou minha filha. Ela foi encaminhada às pressas e conseguiram reanimar, mas, chegando na UTI, teve outra parada cardíaca e ficou até o domingo, quando faleceu”, afirma.
A mãe contou ainda que, após o nascimento, o médico aparentava estar nervoso e informou que ela havia nascido sem batimentos. “Meu esposo chegou no hospital assim que tudo aconteceu, e o médico abordou e disse que eu era a culpada, pois não tinha ajudado a fazer força o suficiente e que meu médico não tinha feito a ultrassom para ver se a criança estava laçada. E o pior de tudo é que minha filha não estava laçada. Ela laçou no dia de tanto eu ter contrações”, afirma.
Esta foi a primeira filha de K.L.R, que afirma só ter encontrado forças para levar o caso à justiça depois deste tempo. “Parece que estou vivendo tudo novamente. A dor ainda é a mesma, a diferença é que agora mais do que nunca tive coragem de clamar por justiça pela morte da minha filha”, lamenta.