Casos recentes da doença na América do Norte e Europa acenderam o alerta entre especialistas. Endêmico na África, vírus é transmitido por animais contaminados e por contato próximo prolongado entre pessoas.
Autoridades de saúde na América do Norte e Europa detectaram dezenas de casos suspeitos ou confirmados de varíola dos macacos desde o início de maio, o que acendeu um alerta e gerou a preocupação de que a doença endêmica em algumas partes da África se espalhe por outros continentes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse nesta terça-feira (24/05) que há 131 casos confirmados de varíola dos macacos e 106 outros casos suspeitos no mundo, fora da África, desde o primeiro relatado, em 7 de maio.
Nesta terça-feira, Áustria, República Tcheca, Eslovênia e Emirados Árabes Unidos reportaram seus primeiros casos de varíola dos macacos.
Segundo a OMS, o atual surto é incomum, por ser o primeiro a surgir em vários lugares ao mesmo tempo e a não estar associado a viagens para a África. Casos da doença eram reportados antes apenas em pessoas com laços com a África Central ou Ocidental. Mas Reino Unido, Espanha, Portugal, Itália, Estados Unidos e Canadá também registraram infecções, em sua maioria entre homens jovens que não haviam viajado para a África.
O Reino Unido está entre os países com maior número de casos, com 70 infecções identificadas desde 7 de maio. França, Alemanha, Dinamarca, Bélgica, Israel e Austrália também reportaram casos.
A OMS está em contato com autoridades de saúde europeias para monitoramento de possíveis surtos.
Rara nas Américas e Europa, a doença, da qual a maioria se recupera em semanas e só é fatal em pouquíssimos casos, infectou milhares em algumas regiões da África Central e Ocidental nos últimos anos.
No primeiro caso do Reino Unido, o infectado tinha voltado da Nigéria. Autoridades de saúde locais não descartam, porém, a transmissão comunitária do vírus.
Sintomas da doença
A varíola dos macacos causa erupções cutâneas na pele com pústulas e bolhas que se abrem depois de um tempo e formam uma casca. Dependendo da fase da doença, a erupção parece diferente e pode ser semelhante a causada por varicela ou sífilis. A doença passa depois de dois a quatro semanas. Apenas em casos 6% dos casos ela é fatal – geralmente quando atinge crianças pequenas.
O período de incubação do vírus varia de sete a 21 dias. Os sintomas, porém, costumam aparecer após dez ou 14 dias. Além das erupções cutâneas, a varíola dos macacos causa dores na cabeça, costas e muscular, febre, calafrios, cansaço e inchaço dos gânglios linfáticos.
Autoridades de saúde alertam para aqueles que apresentarem mudanças incomuns na pele procurem um médico imediatamente.
Como se proteger do vírus
Não há um tratamento específico para a doença e nenhuma vacina contra esse vírus. Especialistas dizem que a vacina contra a varíola também protege contra a varíola dos macacos e droga antivirais também estão sendo desenvolvidas. Embora ambos os vírus não tenham relação direta, eles são bem parecidos para que o sistema imunológico responda à infecção.
O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças recomendou que todos os casos suspeitos sejam isolados e que os contatos de alto risco recebam uma vacina contra a varíola.
O Reino Unido está oferecendo a contatos de alto risco a vacina contra a varíola e recomendando que qualquer pessoa que possa estar infectada se isole até que se recuperem.
Os EUA têm mil doses de uma vacina aprovada para a prevenção de varíola e varíola dos macacos, além de mais de 100 milhões de doses de um vacina de varíola de geração mais antiga em um estoque do governo, disseram funcionários.
Graças uma grande campanha de vacinação global, a varíola foi erradicada no mundo em 1980. O Instituto Robert Koch (RKI), a agência de prevenção e controle de doenças da Alemanha, alerta que grande parte da população mundial já não possui mais proteção contra esse vírus devido ao longo tempo que passou desde a imunização.
Difícil transmissão
A varíola dos macacos não é de fácil transmissão. O vírus é transmitido por meio de contato direito com animais ou humanos infectados ou com roupas e objetos de infectados, por meio da mordida de animais que carregam o vírus ou consumo destes e por gotículas respiratórias. Porém, neste caso é necessário um contato pessoal prolongando.
A maioria dos surtos pontuais termina com poucos casos. Autoridades de saúde recomendam o rastreamento das infecções. No entanto, essa tarefa se mostrou difícil e tem intrigado especialistas.
No Reino Unidos, quatro casos foram identificados cujos infectados não tiveram contato entre si e também não estiverem em países africanos. Autoridades ainda tentam identificar alguma ligação entre as infecções e onde os pacientes contrariam a doença.
Contato íntimo
Homens que tiveram relações sexuais com parceiros do mesmo sexo são maioria entre os infectados recentemente.
O epidemiologista David Heymann, que preside o grupo consultivo de especialistas da OMS para riscos infecciosos, afirmou que a varíola de macacos pode se espalhar quando há contato próximo com alguém já infectado com a doença, e que “parece que o contato sexual agora amplificou essa transmissão”.
Autoridades de países como Reino Unido, Espanha, Alemanha e Portugal dizem que a maioria dos casos conhecidos na Europa foram entre homens que fazem sexo com parceiros do mesmo sexo, mas especialistas enfatizam que qualquer um pode ser infectado através de contato próximo com uma pessoa doente, suas roupas ou lençóis.
Cientistas dizem que se difícil determinar se a propagação está sendo impulsionada por sexo ou meramente por contato próximo.
Zoonose clássica
A varíola de macaco foi registrada em humanos pela primeira vez em 1970 na República Democrática do Congo. Casos isolados surgiram em outros países africanos. Em 2003, uma infecção por esse vírus foi identificada nos Estados Unidos, e, em 2018, outras duas no Reino Unido e Israel. Desde então, nenhum caso havia sido registrado fora do continente africano.
A OMS considera o risco endêmico da varíola dos macacos como extremamente baixo. A doença é uma zoonose, que passa de animais para humanos.
O patógeno que causa a doença circula entre roedores. Os macacos são considerados hospedeiros de transporte – ou seja, carregam o vírus sem que esse se desenvolva em seus corpos.