O Jornal Gazeta 93FM recebeu, nesta sexta-feira, 27, o ex-prefeito, ex-governador e ex-senador pelo Acre Jorge Viana (PT). Aos jornalistas Brenna Amâncio e Tiago Martinello, Jorge, que é pré-candidato às Eleições 2022, não poupou críticas ao atual governo, mas também falou sobre seu futuro na política.
Durante a entrevista, o político destacou que tem visitado os municípios acreanos, e que, diante do pedido da população para que ele seja candidato, ‘não quer ser indiferente’. “Quero estar nessa estrada, nessa luta, e, se for a vontade do povo do Acre, faltam quatro meses para a eleição, eu vou ter esse mandato pra voltar a ajudar o Acre, pra ver se a gente deixa pra trás esse período de sofrimento, intolerância e de piora na vida das famílias”, afirmou.
Questionado sobre os próximos passos rumo às Eleições, o político destacou que, neste sábado, 28, ele deve ser confirmado, pelo PT, como pré-candidato, durante o encontro estadual online do partido, marcado para às 9h. Embora sua intenção seja concorrer à vaga no Senado, ele manteve em aberto a possibilidade de concorrer ao governo, caso haja uma mudança de cenário até agosto, época de inscrição das candidaturas, e aproveitou a entrevista para fazer mea-culpa, dizendo que “é preciso ter humildade”.
“O Partido dos Trabalhadores, nosso governo, a gente perdeu tudo nas últimas eleições, a gente tinha governo, prefeitura, mandato de senador, e nós perdemos, a população quis mudar, é um direito da população. Eu não fiquei chateado, porque eu falei: ‘quem não votou em mim, em 2018, já votou antes e pode ser que vote mais na frente’, e foi a melhor coisa que eu fiz, então não carrego nenhum ressentimento, mas tem que ser assumido, inclusive por pessoas do PT, que cometeram-se erros, que tinha gente já de sapato alto demais, mesmo com muito trabalho. Mas, ficou o nosso trabalho, a nossa força é o trabalho, tanto pro Lula, quanto pra nós aqui, a força é o trabalho, e é com base nesse trabalho que eu me sinto na responsabilidade, pelo amor que eu tenho ao Acre, de ser candidato”, destacou Viana.
Leia a entrevista na íntegra ou ouça no final da matéria:
Brenna Amâncio – Vamos falar um pouquinho sobre os últimos meses que o senhor tem se dedicado a percorrer os municípios aqui do Acre. Na última semana, você esteve no Juruá, passou por Sena Madureira, Feijó, Tarauacá…Como tem sido essa experiência?
Jorge Viana – Nós estamos dentro do calendário político eleitoral, e eu agora estou sendo convidado, e estou me cobrando para apresentar uma pré-candidatura, ao governo ou ao Senado. A crise é tão profunda, social, econômica, política…O preço da gasolina, do gás de cozinha, o preço da comida é tão alto; isso é consequência de uma crise política que o Brasil está metido há sete anos. Eu acho que isso só vai passar quando se resolver essa situação política, aliás, ontem saiu uma pesquisa, do DataFolha, que teve muita repercussão. Fizeram uma pesquisa completa, e o presidente Lula aparece bem na frente do Bolsonaro, cresceu, e os números mostram que ele pode ganhar no primeiro turno. O Lula estava sendo acusado, há um tempo, acusado injustamente, no nosso ponto de vista e da justiça. O presidente Lula foi tratado como uma pessoa fora da lei, foi preso, e injustiçado e, graças a Deus, se encontrou agora com a justiça, a melhor justiça, que é a de Deus e do povo. O povo agora coloca o Lula em primeiro lugar, e coloca fora o Bolsonaro. Mas, o pessoal fala, ‘mas aqui no Acre’… Eu é que lamento, o Acre tá na contramão, porque uma pessoa que chegou aqui, há quatro anos, e diz que vai metralhar a gente, agora está aí, estão descobrindo os podres dele, está quebrando o Brasil, e se Deus quiser, e se for a vontade do povo, vai sair da presidência pelo voto. E eu acho que uma pessoa como eu, que tem experiência, ter sido prefeito, governador e senador, eu acho que posso ajudar. Não estou querendo ganhar um mandato para montar esquemas, como outros políticos. Toda vez que eu ganho um mandato é pra trabalhar, pra mudar a situação para melhor, e graças a Deus, eu sou reconhecido por isso, e acho que posso da uma contribuição agora. Andei em Xapuri, Brasiléia, Epitaciolândia, Sena Madureira, Manoel Urbano, Feijó, Rodrigues Alves, Tarauacá, Mâncio Lima, e é ouvindo e conversando com pessoas, e estou sendo muito estimulado a ser candidato, e estou me cobrando também isso. Eu não quero ser indiferente, quero estar nessa estrada nessa luta, e se for a vontade do povo do Acre, eu vou ter esse mandato pra voltar a ajudar o Acre, pra ver se a gente deixa pra trás esse período de sofrimento, intolerância e de piora na vida das famílias.
Assista esse trecho:
Tiago Martinello – Como o senhor está enxergando o feedback acreano, com essa movimentação do Lula em uma eventual disputa presidencial?
JV – Eu fico, às vezes, me perguntando, o que está acontecendo com nosso país, porque, de um tempo pra cá, trouxeram pra política, um negócio de ódio, igual essa de matar, metralhar. Quem faz isso não tem bom caráter, não é pessoa que quer construir nada de bom. Pegou e iludiu um monte de gente, que estava cansada de alguns erros e, graves erros até do PT, mas isso não apaga o trabalho que nós fizemos. Veja o Angelim, Marcus Alexandre, eu mesmo fui prefeito, cada um procurou dar uma contribuição. Política, para nós, não é um negócio não, ela é um espaço para fazer as coisas acontecerem. O Lula foi o melhor presidente avaliado na história do Brasil. A última eleição que o Lula disputou foi em 2006, faz 14 anos que ele não disputa eleição, e ele saiu aplaudido pelos fazendeiros, aplaudido pelos industriais, pelo comerciantes, pelos jovens. Depois, tentaram vender a ideia que o cara é um bandido, é um criminoso, mas agora foi provado que não é, então eu acho que, sinceramente, está sendo feita justiça, e eu digo a todo mundo, até quem pensa em não votar: ‘olha, se o Lula ganhar a presidência, vai ser pra pacificar o país’. Quem botou energia em todas as fazendas do Acre, foi na minha época, e agora o cara xinga o presidente, e está atrás de um que nunca fez nada pelo Acre, nunca gerou um emprego, não construiu uma escola. Aí dizem: ‘ foi a pandemia’. Pandemia coisa nenhuma, pandemia salvou foi o governo e as prefeituras. Os caras não fizeram nenhum serviço, a parte de construção civil estava liberada, mas o governo não fez. Tenho esperanças de que o Brasil seja pacificado, que a gente volte a se abraçar, que volte a ter empregos. A gente sai na rua, tem sempre alguém perto de uma lixeira, atrás de tirar alguma coisa pra comer, tem sempre alguém precisando de alguém, isso é culpa da política que o Brasil se meteu nos últimos sete anos.
BA – Sobre o incêndio registrado na Biblioteca da Floresta, quais medidas o senhor acha que devem ser tomadas para garantir a preservação do nosso patrimônio histórico-cultural?
JV – Eu fiquei muito triste, porque, primeiro, a Biblioteca está fechada. Como é que pode isso? Já tivemos uma pandemia, que foi uma tragédia para o nosso povo, agora as coisas estão sendo retomadas, não deu tempo, durante dois anos de pandemia, de reformar as escolas, de reformar as bibliotecas, de reformar tudo. Estava liberada a construção civil para as pessoas, governos e prefeituras, mas não fizeram nenhum plano. E a Biblioteca [da Floresta] é uma das 10 mais importantes bibliotecas do Brasil e fechou. A biblioteca também muito bonita, em Cruzeiro do Sul, foi concebida no governo Binho [Marques] e Tião [Viana], uma biblioteca fantástica, na cidade do governador, está fechada. O Palácio aqui, que tem o museu feito por mim, agora que vão abrir. Passou dois anos fechado. Qual a explicação? Não constroem nem uma escola. Pra que esse pessoal ganhou tudo? Ganharam os três mandados de senadores, presidência da República, governo e prefeitura. Não era pra trabalhar? Mas eu acho que eles ganharam pra brigar, porque o vice-governador agora acusa o governador de corrupção, denuncia o governador na frente da Polícia Federal. O senador mais bem votado, o Petecão, acusa o governador também e já estão brigados para outro lado. Os partidos, MDB com o pessoal, já estão brigados também com o governador, a deputada federal… Agora, a briga também é dentro do partido do governador, a senadora que ficou no lugar do governador com o governador, brigando pela direção do partido. E quem está pagando a conta é o povo, porque o mandato político é para a pessoa fazer o trabalho. Passaram um período querendo ser governo, tinham que chegar lá e fazer o serviço. Não fizeram uma avenida, não asfaltaram nem um ramal, a estrada está um bagaço, e o que temos no Acre hoje é muita gente desesperançosa, juntando dinheiro para ir embora do Acre. Eu tenho a esperança que a gente possa trazer de volta. Não importa quem construiu uma obra, mas o abandono…? É pintando tudo de cor partidária, que é um crime; chegaram lá no parque e, em vez de dar manutenção, meteram umas cores loucas, umas coisas cafonas, a cidade de Rio Branco hoje é uma cidade cafona, graças aos políticos que estão aí. O que que o cara tem de sair por aí pintando tudo com a cor do partido deles? ‘Ah, vocês pintaram’, coisa nenhuma! Eu construí esses prédios todos, o Parque da Maternidade tinha o quê de PT? Tinha nada! Palácio, as escolas tinham o que de PT? Até as delegacias eram coloridas e bem feitas na minha época, porque, pra mim, delegacia é um lugar para resolver problemas. Eu, particularmente, falo isso tudo, porque eu aprendi com meu pai que política se faz com sentimento e quando eu não tiver isso, eu caio fora. E eu tenho dois, que é o [sentimento de] indignação, e o outro, que é emoção. A gente não pode ter o ódio, não pode ter a raiva, prefiro trabalhar com a emoção e com a indignação.
Assista esse trecho:
TM – Vamos falar de Eleições 2022. Qual vai ser o seu papel neste processo eleitoral?
JV: Amanhã, nós vamos fazer um congresso do Partido dos Trabalhadores. O dia todo, com todo mundo, dos 22 municípios, participando e, lá, vai ter uma decisão só. Parece pouco, mas é muito. Lá, vai estar escrito no documento que eu serei candidato às Eleições 2022. Eu estou sendo cobrado e eu estou me cobrando pra ser, porque eu não posso ficar jogando pedras nos outros, só botando defeito no trabalho dos outros, eu tenho que estar disposto a assumir meu papel. Então lá, vai estar dizendo: ‘ o nome do Jorge Viana vai estar nas urnas’. O problema é: ‘pra quê’? (…). Eu acho que aí tem que entrar uma coisa que a gente, às vezes, não pratica muito, que é ter humildade. O Partido dos Trabalhadores, nosso governo, a gente perdeu tudo, nas últimas eleições, a gente tinha governo, prefeitura, mandato de senador, e nós perdemos, a população quis mudar, é um direito da população. Eu não fiquei chateado, porque eu falei: ‘quem não votou em mim em 2018 já votou antes e pode ser que vote mais na frente’, e foi a melhor coisa que eu fiz, então não carrego nenhum ressentimento. Mas tem que ser assumido, inclusive por pessoas do PT, que estava se cometendo erros, que tinha gente já de sapato alto demais, mesmo com muito trabalho. Mas, ficou o nosso trabalho, a nossa força é o trabalho, tanto pro Lula quanto pra nós aqui, a força é o trabalho e é com base nesse trabalho que eu me sinto na responsabilidade, pelo amor que eu tenho ao Acre, de ser candidato. Agora, o problema é o seguinte: tem duas vagas. As pessoas me perguntam se não vou ser candidato, mas, agora, tem uma vaga para senador e uma vaga para governador. O caminho, por enquanto, é pegar o caminho do senador, mas, se a gente tiver alguma mudança, posso disputar o governo, porque o dia de inscrever a candidatura é entre o dia 5 e 10 de agosto. Eu, particularmente, acho que as pessoas não vão, nessa eleição agora, como fizeram em 2018, botar todo mundo do mesmo lado, como tá lá. Aliás, no Senado, é onde o Acre pode ser o tamanho de São Paulo, porque tem três senadores do Acre e três de São Paulo, então se tiver um senador do Acre forte, que conheça tudo, que resgate o prestígio do Acre em Brasília, que possa garantir apoio para prefeitura e governo, mas não é emenda de outdoor, isso aí não funciona, estou falando de trabalho mesmo, de projetos, de equipes, fiscalizando para o dinheiro chegar na ponta (…). Então, candidatura tem, mas devo disputar ao Senado e não é impossível disputar o governo também.