Há dois meses sem registrar mortes decorrentes da covid-19 no Acre, os casos da doença voltaram a subir, nas últimas semanas, o que indica a chegada da 4ª onda de covid-19 no Estado, segundo especialistas. Para se ter ideia, somente nos últimos sete dias, o Acre registrou 331 novos casos de covid-19, conforme boletins divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre).
Diante do aumento, A GAZETA procurou o médico infectologista Eduardo Farias, que ponderou que a nova onda de covid-19 é vivenciada na maior parte dos países, principalmente da Europa.
O aumento de casos é consequência do surgimento de novas variantes mais infecciosas, além da flexibilização das medidas sanitárias, como, por exemplo, a desobrigação do uso de máscaras. No Acre, o uso deixou de ser obrigatório em locais fechados desde o dia 21 de março, conforme decreto publicado no Diário Oficial do Estado (DOE). Anteriormente, no dia 16 do mesmo mês, o uso já havia se tornado facultativo em locais abertos.
“Nós estamos sim com uma nova onda, que já vinha sendo observada em outros países, principalmente na Europa, e também na China. No Brasil, a gente começou a ter esse aumento no Sul, Sudeste e, agora, começou aqui. Agora são as variantes B.As, são variantes que tem alta infectividade. Em relação ao perfil de mortalidade e de morbidade, ou seja, de adoecimento, ele é diferente e não é porque a variante seja menos letal ou menos causadora de doença, é porque você tem a proteção da vacina, tanto é que o perfil das pessoas que estão internando é de um paciente com mais idade, com comorbidades, que já tem dificuldades no sistema imunológico e na condição de saúde”, destaca Farias.
O infectologista reitera, no entanto, que, apesar do aumento de casos, observados nos últimos dias, a eficácia das vacinas é demonstrada, uma vez que, mesmo com o vírus circulando, é baixo o número de casos registrados na forma grave da doença.
“Uma boa parte desses pacientes [internados] não tem o esquema vacinal completo ou alguns nem tomaram vacina. Isso mostra que aquela população que tem vacinação completa, inclusive com as doses de reforço, tanto a primeira dose de reforço, chamada 3ª dose, ou a segunda dose de reforço, que é a 4ª dose, a gente tem esse paciente adoecendo, mas ele não faz uma clínica grave. Ou seja, vai tendo a circulação do vírus, mas não traz uma doença com gravidade, com necessidade de internar em UTI, colapsar o sistema de saúde ou mesmo exaurir o sistema de saúde, como vimos nas outras vezes. Isso está acontecendo no mundo todo, esse perfil menos letal”, esclarece Eduardo Farias.
Farias finaliza dizendo que, nesta fase da pandemia, é importante que o cidadão exerça seu papel, considerando que, a esta altura, todos os cidadãos já estão informados o bastante sobre como agir diante da propagação do vírus e das medidas de higiene, por exemplo.
“É importante que a população entenda que a pandemia não acabou, o que acontece é que ela está encontrando uma barreira, que é uma população imunizada. Com isso, você passa a falsa impressão de que está tudo tranquilo, mas não está. Agora, a fase da pandemia é outra, tem um papel muito mais no indivíduo do que dos governos, porque os governos já fazem a orientação, a própria imprensa também está divulgando as medidas, como a importância da higienização das mãos, do esquema vacinal (…), então não é mais falta de informação, falta de álcool gel, agora a dificuldade é do cidadão. Você vai entrar em um ambiente de muita gente, em um supermercado que tá cheio, em uma mercearia, uma boate… o recomendado é usar sua máscara. Se você está em casa, em um ambiente de rua ou um parque, tudo bem, mas você vai avaliando. Portanto, agora é a decisão individual do cidadão.”
“Mesma coisa com as vacinas: se já está na hora de tomar seu reforço, não tá mais faltando vacina, depende do cidadão. Portanto, cada vez mais o controle da pandemia está na atitude de cada um de nós, para que a gente consiga cortar a cadeia de transmissão, evitar mais mortes e evitar que essa doença se propague”, completa.