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‘Mudou a minha vida’: Projeto Social Juventude Model resgata autoestima de jovens no Acre

O que é moda pra você? Para jovens de Rio Branco, Capixaba e Xapuri, no Acre, a moda representa muito mais que estilo, comportamento ou estética, mas uma mudança de vida. Foi através do Projeto Social Juventude Model que, como o próprio nome indica, tem como foco a moda, que eles tiveram a oportunidade de começar uma jornada única cujo destino final está sendo construído todos os dias com muita fé e determinação.

Criado em 2018 e oficializado a partir de 2019, o Família PJM, como é carinhosamente chamado pelos participantes, é um projeto social criado com o objetivo de proporcionar aos jovens novas oportunidades, através de cursos, oficinas, palestras, entre outras ações, em vários segmentos não apenas da moda, mas da cultura em geral.

“A gente começou o projeto Juventude Model em Rio Branco e, apesar de se chamar Model, ele envolve a cultura como um todo. Desde teatro , dança, e nosso foco são famílias de baixa renda, porque estudar moda é muito caro, então todos nós que trabalhamos no projeto somos ex modelos, produtores, que já tem uma experiência no mercado de moda, sabemos que no Acre, infelizmente, a modanão é um mercado muito amplo, mas o objetivo maior não é retorno financeiro, e sim ocupar a mente dessa juventude”, destaca Diego Nycollas, diretor e produtor do projeto.

Diego Nycollas é diretor e produtor do PJM (Foto: Arquivo pessoal)

Com milhares de jovens impactados pelo projeto ao longo dos anos, a ação alcança, atualmente, mais de 60 alunos da zona rural.

“Em Xapuri a gente tem 60 alunos da zona rural, inclusive eles não faltam nenhum encontro. Nos reunimos uma vez por semana, nosso foco é levantar a autoestima dessa galera, promover o empoderamento das mulheres e dos homens, é um projeto onde eles são livres para ser quem eles são. Eles podem ser gordinhos, baixinhos, não tem isso. A gente trabalha muito com pessoas com depressão, e que com a ajuda do projeto saíram porque o nosso projeto salva vidas”, completa Nycollas.

Para ele, a maior recompensa é o impacto social que o projeto gera. “‘Quanto nós ganhamos’? Nada. O melhor salario é ver a conquita dessa galera. A gente procura capacitar pra fazer com que eles ganhem seu dinheiro, vão aprendendo várias coisas. Fechamos parcerias, vou em cada município e apresento se abraçarem amém, se não a gente vai para as empresas. Hoje temos um mister em Arequipa, no Peru, e vem de um projeto social”, celebra Nycollas, que também é de origem humilde e só estudou moda a partir de uma bolsa de estudos.

O PJM é responsável por revelar muitos talentos. O acreano Kayk Amorim, de 14 anos [à direita na frente], foi uma dessas revelações. Ele está em Arequipa, no Peru, representando o Brasil no Concurso Festival de “Lá Belleza Mundial” (Foto: Divulgação)
“O meu maior incentivo de promover o projeto é porque eu morava no interior de Xapuri na divisa com a Bolívia, pra mim estudar tinha que caminhar uma hora e meia pra ir e mais uma hora e meia pra voltar pra escola e eu ganhei uma bolsa pra estudar moda fora. Aí eu disse ‘quero voltar pro meu estado e fazer algo pelo meu estado’. O Acre é um estado de homens de mulherer bonitas, a gente só precisar eles no caminho certo e empoderar eles. ‘Não’ pra eles não existe”, destaca.

Mas o maior desafio do projeto não começa com os participantes. Não foi fácil para Diego e os amigos iniciarem as ações, sobretudo por não poderem atender as expectativas dos familiares.

“Na verdade, nosso primeiro desafio foi fazer nossas famílias aceitarem, porque todo pai sonha o que? Que o filho seja advogado, médico… até porque, nossos pais foram pessoas botar na cabeça que a moda, o teatro pode sim foi a chave maior foi essa. Pro aluno fazer parte tem que todos um requisito.

‘Mudou a minha vida’

 

Aos 17 anos, Osaiane Santos da Costa, é uma das ‘jóias’ encontradas pelo projeto. Ela descobriu a ação por meio da Secretaria Municipal de Cultura de Xapuri, onde mora e, desde então, participa do grupo.

“Tinha ido fazer minha inscrição para uma oficina de teatro e no mesmo local também está sendo realizadas as inscrições para o projeto, então só para me distrair resolvi me inscrever também, mas não imaginei que chegaria tão longe e que esse projeto iria fazer parte da minha vida. De início eu era muito tímida e não conversava muito com ninguém então não aproveitava muito os ensaios, o aproveitar que digo é de socializar e fazer amizades, os ensaios sempre foram muitos enriquecedores, sempre foi maravilhoso passar um tempo com os participantes do projeto. É uma experiência incrível cada momento, cada fase do projeto, estou no projeto desde do início, vi muitas coisas acontecerem, vi as dificuldades que passamos e as vitórias que conseguimos”, destaca Osaiane.

“Acredito que o projeto mudou a vida de todos os participantes, não só a minha, notei que no início todos eram iguais a mim, tristes, depressivos, não saiam de casa, não tinham amigos, tinham muita ansiedade, um belo exemplo sou eu, tinha tudo isso e mais um pouco, não conseguia me aceitar, não sabia lidar com as minhas questões pessoais e era muito isolada, com o projeto fui evoluindo aos poucos, minha cabeça era sempre cheia de pensamentos negativos, melhorei muito, quando consegui controlar minha mente, quando consegui mudar meu psicológico, vi que as coisas não eram tão complicadas como achava, comecei a ser sociável, tinha medo de não conseguir me enturmar e não ser aceita, mas foi quando percebi que estava tudo bem, tudo bem se eu não conseguisse, o importante era que tinha tentado, para mim o mais importante foi tentar, claro conseguir alcançar seu objetivo é maravilhoso, mas o que vale a pena de verdade é o caminho que você trilha, as pessoas que você conhece, são as dificuldades que te deixam mais fortes e maduros”, relata a jovem.

Dentro do projeto, a estudante conta que conseguiu amadurecer e se abrir para as relações interpessoais. “Hoje tenho esse meu jeito um pouco extrovertido, mas foi tudo graças ao projeto. Cada gota de ânimo hoje reflete nisso, no que sou, no que me tornei e no que vou me tornar, consigo me manter focada e com uma visão de futuro sempre, pois o projeto me ajudou a não desistir, então fui renovada pelo projeto”, reforça.

A jovem também reforçou o que leva consigo do projeto. “Acho que o mais levo comigo do projeto são os ensinamentos, os bons momentos, as risadas, os choros também, os momentos descontração, os desfiles, me lembro até hoje do primeiro desfile, lembrar do primeiro e viver o último é uma sensação incrível, você sente uma nostalgia e um orgulho pois viu cada participante que está ali evoluir junto com você, você se sente acolhido, parte de algo, de sua segunda família”, completa.

A mãe de Osaiane, Ozilene Santos, foi e continua sendo uma de suas maiores apoiadoras (Foto: Arquivo pessoal)

Entre os maiores apoiadores de Osaiane está a mãe, a recepcionista Ozilene Santos. “Minha mãe me apoia muito nisso, minha família toda e meus amigos também, até hoje eles se cansam de me ouvir contar empolgada sobre os ensaios e desfiles”, conta Osaiane. A mãe não poupa elogios.

“[A participação dela no projeto] mudou muitas coisas. Eu só tenho a agradecer primeiramente a Deus segundo o projeto Juventude Módel, ao Nycollas e o Isaías que são os coordenadores. Hoje nossa família vive mais tranquila por nossa menia estar bem”, disse Ozilene Santos, mãe de Osaiane.

“O projeto é parte de mim agora e sempre será. Não prendendo sair nunca, mas, se um dia for necessário me afastar por qualquer motivo, se o projeto um dia chegar a acabar também, vou continuar lembrando de tudo isso, vou falar com orgulho que fiz parte da família PJM a melhor família”, finaliza a jovem que venceu a depressão com a ajuda do projeto.

 

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Agnes Cavalcante: