“Cresci dentro de uma loja de brinquedos. Lá, tive momentos muito divertidos, experiências e história. Mas, sabe o que marca bastante minha memória? O medo. Lembro de olhar produtos ‘femininos’ com o canto de olho e muito, muito medo de perceberem que eu achava a Casa da Barbie legal. Pode parecer engraçado, e até caricato, mas lembro também de sair correndo se ouvisse alguém chegando e pudesse me ver olhando a sessão de bonecas. Esse sentimento fomentou diversas dores, e me acompanhou por muito tempo. E pra ser sincero? Acredito mesmo que ainda me acompanhe”.
Foram com essas as palavras que o jornalista Vinicius Charife, de 26 anos, começou o relato emocionante que fez nas suas redes sociais, no Dia Mundial do Orgulho LGBTQIAP+, 28 de junho, última terça-feira. Após muita terapia e apoio de uma rede de amigos, o acreano conseguiu empoderar-se, romper as barreiras do preconceito e assumir publicamente a sua orientação sexual.
Concluindo o curso de Jornalismo na Universidade Federal do Acre (Ufac), Vinicius é um homem cis gay – cisgênero, que é o indivíduo que se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu.
Foi em dezembro de 2020, que Vini decidiu compartilhar a orientação sexual nas redes sociais. À época, fez outro relato emocionante sobre as dificuldades que enfrentou com o abandono de pessoas que, em suas palavras, deveriam lhe acolher.
“O processo de aceitação é muito difícil, é sobre entender que você é gay e que está tudo bem”, observou, destacando que não recebeu acolhimento de sua religião [evangélica]. “Porque todo o discurso que é pregado na igreja é o discurso do amor, mas, ele encara a homossexualidade como pecado, e vai tentar te mudar ou te reprimir”, explica.
Ao mesmo tempo que sofreu com o pensamento fundamentalista religioso, o jornalista explica que também foi acolhido por uma liderança. “Eu tive repressão na igreja, principalmente, pela minha posição, por ser uma pessoa bem relacionada e me envolver nas atividades. Mas, uma pessoa específica, uma liderança que foi muito importante na minha história, me disse para fazer uma escolha e ser feliz. E aí foi muito tempo de terapia, ainda faço terapia para entender que a gente não pode perder tempo fingindo ser o que não somos, não se amando. Por muito tempo, eu me odiei, e eu percebi que perdi tempo odiando uma parte de mim que é normal”.
Atualmente, Vinicius não se denomina mais evangélico. “Talvez, aos olhos da igreja seja pecado. Mas, eu entendi que eu não preciso de uma validação desse fundamentalismo. A questão do empoderamento é uma luta diária e é uma escolha diária você se empoderar, não ter medo de quem você é e ter força para falar. Na própria postagem do meu instagram, eu tive medo”, revela.
Ao final do texto que compartilhou em suas redes sociais, Vinicius declara: “Me perguntam o porquê de demonstrar o orgulho, e eu digo porque: é motivo de orgulho ter a liberdade de ser quem você de fato é. Hoje posso dizer que entendo o que é ter orgulho de ser gay”.