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O pacto e o medo

A emoção mais antiga e forte da humanidade é o medo, e o tipo mais antigo e forte é o “medo do desconhecido” (Lovecraft).
São cinco os tipos fulcrais de medo de que todos os outros derivam: – Extinção (medo da aniquilação, deixar de existir). – Mutilação (perda de qualquer parte de nossa preciosa estrutura corporal). – Perda da autonomia (medo de ser imobilizado, paralisado, restringido, embrulhado, oprimido, aprisionado, sufocado ou controlado por circunstâncias além do nosso controle). – Separação (abandono, rejeição, tornar-se uma não-pessoa). – Morte do ego (humilhação, vergonha, perda de integridade do eu).
De acordo com a psicanálise, todos os medos são disfarces do afeto que nos atormenta, a saber, a angústia, sem objeto. Para o qual, não temos resposta.
Mas como explicar os altos índices de audiência de podcasts e séries que envolvem grandes desgraças. Não bastasse a enorme merd# atual que estamos vivenciando dia a dia no Brasil e no mundo, na hora de relaxar apertamos o play nessas coisas que não trazem nada de bom a não ser indignação e tristeza. E mais: buscam histórias do passado.
Daqui a pouco veremos grandes desgraças dos anos 1960, como o Chico Picadinho, a seita suicida de Jim Jones ou o bizarro Crime da Mala dos anos 1920. EOEM!!!
Isso posto, preparei um lanchinho, sentei em frente à televisão e dei play em Pacto Brutal – O assassinato de Daniella Perez, que está em alta, todo mundo comentando e decidi ver também.
Bastou vinte minutos assistindo para eu perder a fome, chorar em cima do prato. Juro que desidratei de tanto chorar, acho até que emagreci de tantas lágrimas que derramei e do medo que senti.
Depois fiquei rindo sozinha do absurdo: achar que poderia jantar tranquilamente vendo tamanha atrocidade. Ainda não cheguei nesse grau de dessensibilizassão, embora as redes e a produção do documentário se esforcem bastante para que isso aconteça. Não, não recomendo, mas se quiser assistir, pode. Você vai saber o que cada um viu e sentiu naquela fatídica noite do assassinato da Daniella Perez. Se é que do seu interesse saber o que o Alexandre Frota sentiu (spoiler: ele foi um amigo exemplar para o Raul Gazolla). Também dá muito nojo da espetacularização que rolou e das insinuações sobre um possível romance entre a vítima e o algoz que já está solto e virou, adivinhem? Isso mesmo: Pastor!

Beth Passos
Jornalista

 

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