As “sabatinas” anunciadas insistentemente no final da semana passada pela Rede Globo, sobre as participações dos presidenciáveis no Jornal Nacional, foram decepcionantes. Na entrevista com o presidente Jair Bolsonaro, Willian Bonner e Renata Vasconcelos, em nada lembraram a dupla irritada que ocupou a mesma bancada em 2018. Deu vergonha alheia de assistir.
Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi diferente. Ele também conduziu a entrevista e respondeu o que quis. Preguiça ver discurso batido.
A boa surpresa foi a presença lúcida do candidato Ciro Gomes que surpreendeu os apresentadores com um programa de governo claro, sucinto e respondendo a todas as perguntas sem nenhum truque habitual politiquês.
Fechando a rodada Simone Tebet, que precisa de experiência política para almejar a cadeira de presidente sim, mas se não for eleita, como terá?
Como Senadora teve notória relevância na CPI da Covid, onde atuou com firmeza e sabedoria jurídica. Ela foi excelente na última sabatina do JN. Articulada e muito enfática, todas as respostas compridas na ponta da língua, insistiu em sua própria biografia política para falar de experiência de governante. Bonner e Renata Vasconcelos não perguntaram grande coisa, e o que martelaram, isso de que Tebet não tem o apoio do seu próprio partido, não tem resposta simples em sabatina, e não teve resposta. (Aliás, nem do PSDB tem grande apoio.)
Os âncoras foram civilizados, não usaram a expressão “candidata de mentirinha”. Individualmente ficou claro que é a mais competente dentre os candidatos. Verdade que sua repetida menção a “economistas liberais”, referido em geral aos economistas que a apoiam, ficou incompreensível no contexto (ao menos para o grande público), se consideramos que Paulo Guedes no governo Bolsonaro desmoralizou o que seja um “economista liberal”.
Mas falou de custo de vida, de inflação, e como isso afeta as mulheres que tem que providenciar a alimentação da família. Foi contundente na crítica aos gastos “secretos”, gastos “sob sigilo”, privilégios de alguns, e as prioridades nada sociais ou propriamente democráticas no orçamento, inclusive no fato de que os mais pobres pagam proporcionalmente mais impostos que os mais ricos. Mas “candidatura” vai além da pessoa da candidata ou candidato. E aí, tristemente, mesmo reconhecendo as qualidades de Simone Tebet, o apoio feminino que não acontece, (que novidade!) e o ceticismo não se evaporou. Resumo: “too little too late”.
Se a candidata mais preparada não encontrar uma forma de “causar” nos próximos dias, empatará com Ciro Gomes, se chegar a tanto. E ela encontrou no Debate promovido pela Rede Bandeirantes de Televisão, domingo, 28, bater de frente com Jair Bolsonaro, evidenciando fatos com elegância e conhecimento de causa a ponto de fazê-lo perder o autocontrole que vinha demostrando até então.
Acuado o presidente atacou a jornalista Vera Magalhães, sendo prontamente repreendido pela adversária, que foi solidária a mediadora e em poucas palavras acusou-o também de misógino. Enquanto Lula e seus assessores suavam sem saber como parar a máquina Simone Tebet.
Mesmo com todos esses méritos, o imprevisível Ciro Gomes ainda parece ter probabilidade maior, mas o cara está há 30 anos na estrada e “não vira”.
A divisão dentro do MDB e as indecisões do PSDB postergaram a candidatura que deveria ser articulada desde início do ano. O CIDADANIA teve essa clareza, mas não teve força para se impor.
Que triste vermos uma Simone Tebet não ganhar e termos que votar em um para nos livrarmos do outro.
Beth Passos
Jornalista