O passado é muito romantizado. Sempre vejo com desconfiança, essa ideia de que “antigamente era melhor…”. Vivemos no hoje, temos que ter cuidado com o saudosismo desinformado e hipócrita. Diante de mais uma notícia de criança que morre após ser esquecida dentro do carro, pipocaram um zilhão de comentários do tipo: “hoje em dia está cada vez mais comum crianças morrerem por negligência dos pais, antigamente não era assim”.
Quem comenta isso confunde realidade com notícia. Atualmente ficamos sabendo com mais frequência das mortes acidentais (por causas externas) de crianças.
* “Ah, mas hoje as mães não cuidam direito dos filhos, ficam distraídas no celular. Antigamente as mães ficavam com a criança sempre nos braços, não se descuidavam”, (este tipo de comentário aparece muito, da mãe hoje só no celular/ no geral, do pai o povo esquece).
Antes de julgar saiba que antigamente, quando as mulheres tinham 7, 10, 15 filhos, elas conseguiam vigiar todos o tempo todo? Sabe-se que isso é humanamente impossível naquela época e sempre será.
* “Mas esse tipo de situação, de esquecer criança dentro de carro, isso tem aumentado com o passar do tempo”. Lógico. Afinal, gradativamente aumentou o número de veículos, não o suposto nível de irresponsabilidade dos pais.
* Antigamente, há 50, 100 anos atrás, morriam muitas crianças de causas externas (que poderiam ser atribuídas à negligência dos adultos responsáveis). Mortes por afogamento, por exemplo. Quantas crianças morreram porque fugiram do olhar de um adulto e foram brincar em um rio? Claro que quando tinha menos carros circulando aconteciam menos mortes por acidente de carro ou por esquecimento de criança dentro do carro.
Nossa, como é irritante essa idealização do passado!
Quem mais comete esses “esquecimentos” são os pais, muitas vezes por causa de um jogo de futebol, uma pelada com os amigos ou um rolê aleatório, estou falando de estatísticas, mas que nem são publicados pela imprensa. Eu mesma vi pouca ou quase nenhuma notícia dessas onde a mãe esqueceu a criança por motivos tão fúteis.