Minha mãe e minha tia estiveram aqui me visitando. Voltaram pra casa ontem no finalzinho da tarde. Com elas, e por causa delas, sinto que também me visitei. Introvertidos me entenderão nessa; há na posibilidade de se estar 100% à vontade com alguém um valor que, em muito, ultrapassa qualquer prêmio de mega acumulada.
Viajamos juntas, tiramos férias de uma semana. E por juntas leia, tomar café, almoçar, jantar, dormir, escolher os passeios, dividir os produtos de beleza, as contas, as sobremesas, as aulas, as leituras, as músicas, as fotos, as histórias, as lembranças. Censuras de verniz social, filtros de será que me fiz clara, de posso ou não posso compartilhar essa impressão ou aquela deixados, pelas três, no fundo da mala.
Da viagem, recebi as duas aqui em casa. Cozinhamos ainda na noite da chegada. Convidamos as meninas e o Henri para dividir conosco a alegria do encontro. Falamos um monte. Um tanto de memória, de passado, mas um tanto ainda maior de hoje e de amanhã. Elas não param de planejar: a próxima viagem, os próximos anos, os passeios de sábado, a lavagem dos pratos de já já.
No segundo dia, quando me despedia para os atendimentos no consultório já tinham programação acordada, me contaram que cozinhariam, coxinhas sem glúten no cardápio. “É facinho, Beta, põe o recheio todo no mixer”. Eita, não tenho mixer. “Dá pra fazer no liquidificador”. Também não tenho liquidificador. Ficaram indignadas.
Hoje, enquanto tomava café e folheava o caderno de receitas da Lalá – na busca por uma de bolo que usasse o liquidificador que ganhei de presente naquele dia mesmo -, dei sentido à indignação delas. No spotify, Tulipa Ruiz cantava Efêmera. Na parte do “Congela o tempo pr’eu ficar devagarinho com as coisas que eu gosto e que eu sei que são efêmeras” pensei nas férias. Esse estar deslocado do seu lugar propositadamente com data de ida e de volta. Pensei no desejo de que o tempo congele, para que a vida seja férias, somado ao gosto com que as duas falam das próprias casas, “quando eu chegar vou fazer uma feira grande de frutas”, “como será que estão as minhas plantas?”, “vou buscar minha santinha que estava na restauração na restauração na segunda mesmo”.
O verso segue assim: “E que passam perecíveis, que acabam, se despedem, mas eu nunca me esqueço”. É o estar misturado, mixado aos nossos que faz com que o efêmero se torne maior, capaz de não ser esquecido. Esse estar à vontade com o outro que nos põe à vontade também conosco. E continua “Vou ficar mais um pouquinho para ver se eu aprendo alguma coisa nessa parte do caminho.” Aprendi um tanto com elas esses dias. Que sorte. Boa semana, queridos.