A candidata ao Senado Nazaré Araújo (PT) estava cedo na estrada rumo a Porto Acre para dar continuidade à Caravana da Esperança, no dia 8. Contudo, ela não esperava encontrar, durante a sua caminhada, um amigo de infância do seu pai José Augusto. E mais ainda, conhecer uma parte da história do ex-governador do Estado jamais relatada.
Por volta das 11h da manhã, Nazaré Araújo parou em frente ao portão do aposentado Targino Barbosa, 82, e foi muito bem recebida. O senhor de expressão gentil a levou para conhecer a pequena oficina onde conserta panelas e cabo de ferramentas. Durante a conversa, Targino acabou revelando que conheceu a família Araújo na época em que vivia em Feijó, quando ainda era um garotinho.
“Conheço o José Augusto lá de Feijó. Fomos criados juntos. Ele ia lá para casa e a gente passava o dia todo brincando entre os bananais e abacaxis, que o meu pai plantava. Nós o tínhamos como uma pessoa de casa. Da mesma forma, eu me sentia assim quando chegava na casa dele”, recordou.
Targino sofreu durante 12 anos com uma grave doença de pele, que o deixava com feridas expostas. Na época, não existia tratamento para esse problema no Acre. A solução seria levá-lo a Campo Grande – MS. Contudo, o governo da época alegava que não havia avião que pudesse fazer esse transporte.
Anos se passaram e os amigos seguiram por caminhos diferentes. Em 1963, logo após José Augusto tomar posse como o primeiro governador do Acre eleito democraticamente, ele encontrou com a mãe de Targino em Rio Branco. Foi uma feliz surpresa se deparar, durante a agenda, com aquele rosto conhecido no meio da multidão. Cumprimentou a mulher e logo foi perguntando por Tatá, apelido dado ao amigo de infância. “Ele perguntou por mim e minha mãe contou que eu ainda estava doente. Ficou sabendo por ela que o antigo governador não quis me auxiliar a encontrar tratamento em outro local”.
José Augusto, agora governador do Acre, sentiu uma extrema necessidade de ajudar aquela família. E assim o fez. No dia seguinte foi visitar Targino. Depois levou uma equipe da aeronáutica e um médico até o local. No terceiro dia após o reencontro, Targino já estava a bordo do avião com destino a Campo Grande, onde ficaria até melhorar.
Quando José Augusto teve o mandato cassado durante a Ditadura Militar por defender os mais pobres no estado, Targino tinha acabado de retornar para o Acre. Aqui, ficou sabendo que o governador estava em um hospital. “Ele estava internado. Então fui visitar. Lá, ele disse para mim: Tatá, aqui eu não estou internado, mas sim preso”.
Os dois conversaram sobre o futuro. José Augusto, conhecido por ações sociais e de muita humanidade, disse que, se voltasse ao posto de governador, iria ajudar o amigo de infância a encontrar um trabalho menos desgastante. “Ele disse para mim: eu vou cuidar de você e arranjar um emprego também”.
E ali estavam os dois. Amigos de uma infância feliz e simples. Uma história de carinho e respeito que tinha tudo para continuar por muitos outros anos. Almoços e jantares com as famílias reunidas, datas comemorativas, parceria para uma vida inteira. Tudo isso aguardava por José Augusto e Targino, o Tatá.
José Augusto tinha planos e compartilhou alguns com o amigo sem saber que aquele momento no hospital era o último encontro dos dois. Targino jamais voltaria a vê-lo com vida. Cassado, mesmo sem ter cometido crime algum, José Augusto, a esposa Maria Lúcia e os filhos Ricardo e Nazaré, tiveram que ficar exilados no Rio de Janeiro. Algo que o deprimiu profundamente o levando à morte.
Para Targino, o golpe não foi somente contra a família Araújo, mas sim contra todo o Acre. “Se ele tivesse terminado o seu mandato ou fosse o governador hoje, talvez as coisas não estivessem na situação em que está”, destacou. Após contar sua história, Targino declarou que Nazaré Araújo é a esperança de uma representante digna de confiança no Senado. “Tem o coração bom igual ao pai. Vai trabalhar muito bem, com certeza. Ela se mostrou acolhedora com todos e pode fazer muito pelo povo”.