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Jarissé

Eu tinha uns 8, tínhamos todos. Era início do ano letivo na Escola Dom Expedito Lopes, em Garanhuns. Naquele março a atividade mais importante do calendário – ao menos para nós, os alunos – era a campanha de representante de sala. O curioso deste ano em específico foi a candidatura única de Jarissé. Mais curioso ainda o fato de que, embora não houvesse nenhum outro candidato na disputa, a professora tenha optado por manter a campanha. Na primeira semana, a produção do material gráfico, a escolha, de pautas a serem discutidas, de projetos, o debate (com quem, meu deus?); e na segunda, o convencer a nós mesmos e a eleição.

Passamos então a disputar essa escolha. Uns queriam que as bandeiras contivessem corações, outros dragões, carros, ou casinhas. Uns queriam encher a escola com uma cor, outros com outra, ou outra, ou outra – nossas caixas de lápis costumavam ter 12 naquela época. Uns queriam brigar pela sempre popular pauta de aumentar o horário do recreio, outros preferiam a de poder levar Pogobol no dia do brinquedo. A única questão, quase unânime, foi a da frase que guiaria a campanha, o título que deixaria claras as intenções da plataforma única. Ganhou de lavada o insight de Cláudio: com chulé ou sem chulé, o melhor é Jarissé. Jarissé foi eleito, claro, só tinha ele. E hoje, quando lembrei dessa história, fiz uma busca rapidinha nas redes sociais pra tomar pé (risos) do meu candidato Baruel. Não o encontrei.

O mesmo Cláudio, publicitário precoce, foi candidato na quinta série, aí já tínhamos uns onze, já estávamos no Colégio Santa Sofia, para onde ia grande parte dos alunos do Dom Expedito. Claudio disputou voto a voto com Bruno. O primeiro seguia com a pauta campeã de Jarissé de aumentar o recreio, talvez influenciado por aquela vitória. Lutava também pela inclusão de refrigerante na cantina, e por fim, mas ainda com força, por plenos poderes para o representante, o que ele escolhesse, estaria escolhido. O segundo defendia a criação de reuniões mensais com a turma, a participação de um aluno nos conselhos de classe, a criação de um evento de trocas de livros e um tanto de outras coisas.

Ontem, ainda pela manhã, fui votar com a Lola, minha filha mais velha. Era a sua primeira eleição. Sempre comovente acompanhar as primeiras vezes. A menina parece até que acordou maior, mais viva, mais livre. No caminho, contei de Jarissé e Bruno, relembrei as diferenças de sensação na contagem de votos de cada uma dessas eleições, a galhofada de uma e o aperreio da outra. Rimos juntas com força – nervosas, mas esperançosas. Talvez sejam assim os próximos dias: juntos, na alegria e na força, a caminho, nervosos e esperançosos. Boa semana, queridos. E um beijo para Bruno, melhor representante de sala que já tive.

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