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Cláudio Porfiro

Cláudio Porfiro

Cláudio Motta-Porfiro é romancista, cronista, poeta e palestrante. Membro da Academia Acreana de Letras. Email: [email protected]

Refresca o vento sopra calma a maresia 

Cláudio PorfiroporCláudio Porfiro
03/11/2022
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Em meio a uma ainda quase bêbada preguiça crucial, como sempre, transcorriam aqueles dias pós-carnavalescos. As águas de março, meio lerdas àquelas alturas, ainda não haviam feito o barraco ir ou vir a pique, até porque não existia barraco e o endereço na zona sul sequer requeria reforma. Em verdade e afinal, a vida é uma comédia e rico ri à toa, até dos dissabores próprios das desilusões tardias. Dane-se.

Desde alguns dias, pois, gravara ela na memória poesia moderna segundo a qual refresca o vento sopra calma a maresia. Coisas de um marinheiro qualquer metido a devaneador.

A musa, então, se apaixonara ante a presença de um poeta invisível e não saído de nenhum conto de fadas, até porque as fadas estão fartas de tanta gente melíflua e cheia de dedos untuosos. Um horror, como um dia, mais tarde, ela veio a dizer.

Depois, ouvira melodia de Caetano que dizia e ela acreditava naquele lance de que você é linda, mais que demais, onda do mar do amor que bateu em mim. Apaixonara-se, ao mesmo tempo, pelo poeta evasivo e desconhecido, e pelo baiano Veloso cauteloso, zeloso e cioso da melhor poesia musicada do mundo.

Mas a vida agora começava a tomar tento. Talvez aos socos, a realidade estava a lhe bater à porta, insistentemente. Providências urgentes ou medidas cabíveis deveriam ser tomadas hoje, agora, antes das dez, ou mesmo um pouquinho depois da pequena ressaca obtida pela ingestão de um vinho branco cujas intenções malévolas é emagrecer beldades com alguns parcos gramas a mais.

Tomara sol no posto dez, entre sete e nove horas daquela manhã ensolarada, de fins de fevereiro. Almoçara frutas tropicais, açaí e granola zero cal. Tirara uma pestana depois do meio dia. Agora, de posse de uma taça com morangos e chantilly diet, repousava em um acolchoado amparado por cadeira de alumínio firme estrategicamente colocada na sacada de forma a que as pernocas trepadas e meio inclinadas, ficassem amparadas pelo balaústre do avarandado de vidro grosso. A brisa marinha lhe acariciava o espírito vago colado em belíssima fêmea. Estava a fazer hora para, às quatro da tarde, ir mostrar o corpanzil de modelo performática de trinta e tantas voltas, na Davor Fitness, uma academia de bacanas, na borges, em frente à lagoa.

Traquejada como ela só, fora assídua frequentadora de uma escolinha de vida fútil por anos a fio. Agora, nos finais de semana que antecederam o Carnaval, como em todos os outros, um mercedez cinza prateado conversível, zero bala, servia de condução rumo às indizíveis noitadas nas pousadas de Búzios e Macaé, na companhia de moços e moças muito dados à vida leve, levada e vadia ao mesmo tempo.

Acontecera-lhe o terrível dilema muito comum em meio às esposas dos magnatas. Há quatro meses, em meados do outubro anterior, o amante solteirão, sócio majoritário de um robusto conglomerado financeiro, de cinquenta e tantos de idade, se evadira com uma ninfeta argentina e agora morava em Bariloche.

Uma mesada de algo em torno de quarenta mil dólares mensais fora deixada para a cobertura dos pequenos luxos, inclusive, com as chandons básicas da vida afrodisíaca a perder de vista.

No acerto junto aos advogados, com reconhecimento de firmas em cartório, também o apartamento duplex que servira de ninho ao amor anterior, durante nove longos anos, ficara, agora, para ela sozinha, uma vez que o bacana viajado e fujão nunca quis crianças ao derredor.

Pois bem. Ela, a partir do dia em que o infiel se foi, começou a pensar, meticulosa e detalhadamente, de lápis em punho e um note sobre as coxas miraculosas, nas idas e vindas da vida farta. Atitudes deveriam ser tomadas, logo, hoje, agora, urgentemente, uma vez que dele o destino incerto foi, de início, a velha Europa, acompanhado de uma ninfeta na flor dos seus dezoito aninhos a cochichar sacanagens, em espanhol, aos ouvidos mais libidinosos do planeta azul.

Cá com os meus botões de madrepérola suja – dizia o poeta benfeitor – tenho insistentemente pensado que muitas são as pessoas que perseguem objetivos diferentes das outras. No entanto, mesmo que tentem ocultá-los, a sua atitude perante a vida denunciará seriamente os seus valores, sejam eles positivos ou negativos. Senão vejamos.

Justine era o nome talvez de guerra da musa de ancas alargadas pelos janeiros passados presentes vividos entre o sonho e o som, como na melodia do Belchior dos anos oitenta. Sorvendo o vento da sacada e a vidinha saudável até sexta-feira, fato é que já se conformara com a partida do coroa devasso. Engordara um tiquinho e, talvez por isso, tenha sido trocada pela Alexia portenha. Coisa comum entre os mais abonados que podem deixar uma linda mulher para viver romance fogoso com uma pós-adolescente de nariz empinado e cabelos louros nas axilas.

Entre os bacanas, tornaram-se hábito, desde um tempão, alguns procedimentos tomados quando o marido ou a esposa se vão. Eis a receita ditada ao poeta insone, ao redor de umas caipirinhas, pela musa loura abandonada de olhos azuis. Uma loucura. Ela ainda é daquelas que faz qualquer sujeito desatento perder o fio da meada.

Perguntada sobre uma fórmula inteligente que deixaria escrita, se for o caso, em livro, ou em bom papel, para quem precisasse, numa hora quase apocalíptica como a que ela viveu, a resposta veio aos borbotões, como gosta aquela gente descolada e cheia de muito ritmo, cadência e jogo de cintura cabível nas mais diversas situações, sejam desabonadoras ou não, assim do tipo a ocasião é que faz ou desfaz o cidadão.

Como ela é fluente no seu português cheio de musicalidade e bossa. Quase os olhos do poeta se apaixonaram porque a libido estava aos gritos.

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– Meu caríssimo! Consideremos, de início, o óbvio. Que a consulente, ou vítima, ou algoz, como quer que seja, tenha largado o marido, ou tenha sido largada por ele. O primeiro e o mais importante procedimento é buscar, urgentemente, matrícula em uma academia de fitness conceituada, de preferência, sob as vistas e o auxílio luxuoso de um personal trainer bonito e sem caráter, o que não é difícil, de forma alguma. A depender do caso, é preciso perder ou ganhar alguns quilos, até porque muita energia ainda há que ser gasta e você precisará dela e da que for acumulada pelo condicionamento físico originário também de outras atividades ainda mais saudáveis e gostosas.

– E daí qual seria o próximo passo? – Foi a pergunta estilo lantejoula, entre uma piscadela e outra. O bardo da poesia arrastada estava no auge.

– Tomada a providência acima, você deve se instalar, confortavelmente, numa poltrona, ou sobre um tapete felpudo e limpo, claro. Plugue-se a uma rede social de grande fluxo de animais sociais. A partir de agora, hás de usar todos os truques e ardis que te levem à cata de um acompanhante que venha a tirar a tua alma da porra da sofrência. Só assim, você esquecerá o Ricardaço que lhe frustrou muitos planos… Experiência própria, meu lindo!

O poeta encardido não ficou surpreso. Acostumara-se a essas rasantes sazonais do destino. Daí ele, já não tão sóbrio, apenas conseguiu dizer para si próprio:

– Pior mesmo é que esta que se diz vítima é um pedaço de céu. Encantadora. Um deslumbre.

Ela ouviu a pequena récita. Agora, as coisas tomarão o melhor dos rumos.

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