Terça passada fui ao show do Milton Nascimento. Compramos o ingresso há meses. Até contei pra vocês, lembram? Fazia tanto tempo, que por mais de uma vez, tive medo de ter deixado passar a data, “Eita! Será que o show já rolou?”. Lembrei na segunda, e na segunda mesmo, Lalá, minha companheira na programação, disse que não ia. Sofi já tem um pré aviso de que ninguém compre show pra ela. “Tô com muita vontade desse show não”, me disse a desavisada. Instalei a mãe didática e despejei 10 parágrafos de Milton na cabeça da menina. Bem Wikipediazinha, coitada da Lola. “Lembra daquela música e daquela outra, e qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor valeráaaaaaaaaa”. Oxe, mãe, eu sei quem é. Mas é que quarta tenho que acordar às 6h.
Meu amor, “nada a temer, senão o correr da luta. Nada a fazer, senão esquecer o meeeeeeeeeeeedo”. Não teve jeito, “obrigada, mas não”. Eu fui. Mas fui magoada com a renúncia. Cheguei às 20h30, os portões abriam às 20h. Nosso ingresso era de pista. Eu meio deslocada, pensei em me arriscar na frente do palco, coladinha. Fui andando, um povo em pé, outro povo sentado no chão. Calculei uns dez na minha frente e sentei também.
Do meu lado, uma moça olha, tira o olho, olha. Puxei assunto. Tá frio, tá quente, isso e aquilo. Uns 15 minutos depois ela já estava no “quando eu tinha 14 anos”. Meia hora, já era íntima o suficiente pra me dizer que foi ao teatro triste, não tinha arrumado companhia para o show, se sentia mal por estar só. Disse que quando me viu, segura da minha avulsice se alegrou de novo, se sentiu moderna, feliz, por isso os olhares. Contei que a impressão não batia 100% com a realidade. Contei da Lola, da recusa, da sensação que tenho de que não tirei dez no quesito criar memórias, da outra de que não evitei um futuro arrependimento. Enfim, melhores amigas em uma hora e meia. Pulamos juntas em Nada será como antes, cantamos Coração de Estudante abraçadas quase aos berros e dividimos o táxi da volta.
Encontrei a Sofi na quarta, combinaríamos os detalhes do aniversário de 14 anos dela no dia seguinte. Contei do show sem economizar no agridoce. “Ô mama, e antes de comprar o ingresso, perguntasse se ela queria ir?” O óbvio. Perguntei nada. Lembrei da moça e de como, muito automaticamente, ela colocou em mim uma imagem que não condizia com a realidade. De como coloquei em Lalá, uma certeza que não condizia com a realidade. Enfim, o show foi lindo, assim como o aniversário. Minha Sofi vê o mundo com uma clareza que me comove. Para ela, para Lola, para a moça, para Milton e para nós um só desejo: o de ser cada vez mais Sofi, deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo. Boa semana, queridos.