Estudar filosofia tem sido um desafio e uma viagem maravilhosa em todos os aspectos da minha vida. É a ferramenta para o autoconhecimento, também para distinguir melhor o outro ser humano e assim conviver melhor com as diferenças.
No que escrevo, eu rio e me divirto, refiro-me ao humor e à ironia que aprofundam as contradições no homem, justamente aí Machado de Assis distingue-se de Laurence Sterne, que joga com os contrastes esperando o efeito.
Não sei dizer se o escritor inglês sabe rir de si mesmo, nesse ponto se sobressai a sua ambiguidade, poderíamos pensar não na contradição, mas no paradoxo, que se levado às últimas consequências traz o estranhamento, afinal de contas seria estranho que alguém sério se transforme de repente, no contrário.
O paradoxo é risível, as contradições serão assustadoras e as risadas mais gostosas. Muito já se falou do mulato inglês, mas sem atentar a originalidade brasileira não se percebe o estilo machadiano, que é bem revolucionário, porque diz respeito ao trato humano, na verdade aprendemos a lidar com as contradições.
Sílvio Romero percebeu a profundidade do pensamento, sem abandonar o jogo dos contrastes que mexe com o ânimo, a um lance se rebate com outro, a uma cor ele opõe a outra, como contrastamos o preto e o branco; o desafio é compreender a lucidez de quem é livre e a clareza de quem é puro, sabendo que a luz ascende do fundo da escuridão para brilhar com força.
Neste sentido a crítica é levada ao questionamento. Quero dizer que a zombaria e o deboche são faltas que reduzem a crítica à negação, na medida em que buscamos questionar o entendimento.
O ato de desenvolver o argumento, o que foi tirado precisa ser devolvido, o empréstimo deve ser pago; sim, o crítico cobra o desenvolvimento, só existir não conta para muita coisa, como dizia Tobias Barreto.
Seguindo esse raciocínio o riso machadiano é questionável, a exigência diz respeito à lógica.
É quando vem a insatisfação e reclama-se o argumento forte, não dá para ficar pela metade por uma questão de coerência, quem fala de honestidade intelectual quer chegar ao tema da moral.
Opomos o homem de bem e o mau caráter, descobrimos naquele a pretensão e neste o mal-entendido; a malandragem, muito diferentemente, é um conceito digno e elevado, sutil e elegante.
Vai da inteligência que se apropria dos termos para desenvolver o conceito. Senhor de si, o malandro está acima dos preconceitos e despreza a ignorância, ele exerce a crítica e trabalha pelo esclarecimento.