*Texto:Marcela Mastrangelo / Ilustração: Anna Mastrangelo Jorge
Olá, queridos leitores! Bem-vindos a mais um ano de devaneios! Sim, porque, atualmente, a maior proteção que podemos dar ao nosso ego é o devanear sobre as nossas percepções de mundo e filosofar sobre a nossa existência nua e crua, afinal, precisamos de uma dose de humor e de fábula para conseguir sobreviver.
Li, recentemente, uma frase do gênio Belchior, que me tocou profundamente: “Passado é uma roupa que não nos serve mais”. É, querido Belchior (com todo respeito), ninguém vive de passado. Mas, reflitamos um pouco mais sobre isso: é fato também que ele ajuda na construção do nosso futuro. Daí, a importância de cuidarmos sempre dessas “roupas” guardadas no armário, lavá-las, conservá-las, tirar as manchas – embora algumas nunca mais saiam-, para, pelo menos, mantê-las cheirosas, bem acondicionadas, RENOVADAS. Doá-las, talvez, neste caso, nem sempre seja uma boa ideia. A não ser quando emprestá-las para outrem possa valer de experiência, como forma de compartilhamento de aprendizado.
Digo isso porque, fazendo uma analogia com a nossa vida interior, não lembrarmos dos acontecimentos, das dores, do “museu” de nossas emoções e sentimentos, traumas, vivências, aprendizados, deixaria a gente muito exposto para um futuro incerto, ingênuo e inocente.
Tenho pensado muito sobre isso, dentro de um movimento natural de uma terapeuta sistêmica, que sou, e que, a todo momento, no seu labor diário, se debate e depara com culpas, rancores, medos, fobias, ilusões e idealizações que provocam muito adoecimento.
A propósito, estamos no mês de “Janeiro branco”, dedicado a pensarmos na saúde mental, este bem tão “caro” e, cada vez mais, raro e precioso.
Estatísticas alertam para a grande ameaça dos tempos atuais, não somente para algumas faixas etárias, mas para toda a sociedade e, principalmente, para as nossas crianças e jovens (o que, para mim, causa uma tristeza profunda). Vivemos um dilema e, apesar de muitos atribuírem responsabilidade à pandemia, eu, em minhas humildes análises extemporâneas, já vislumbrava esse “caos contemporâneo”; já previa, juntamente, com leituras e os próprios dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que a pandemia de doenças psíquicas e emocionais (tão grave e preocupante quanto a do coronavírus) estava prestes a eclodir. E, pasmem, tendo o Brasil como um dos países que apresentam dados mais alarmantes.
Quase que como uma “cigana”, que lê as mãos de suas clientes, ou belíssimas cartas, ou (poético) na borra do café do fundo de uma xícara (acho mágico essa técnica), já previa o adoecimento nefasto de nossas mentes e emoções humanas. Agora, meio que com uma precisão da matemática e ciências exatas, ao meu ver, está tudo tão óbvio, que chego a me sentir uma pessoa amordaçada, acorrentada por não poder fazer mais para ajudar a cuidar de nossa sociedade adoecida.
Estamos olhando para cima, como o filme “Não olhe para cima” (2021), ou para uma direção equivocada. Quando o nosso movimento deve ser para dentro, dentro, dentro; repito três vezes, já que é cabalístico. Nesse sentido, faço, novamente, um alerta urgente e necessário: por favor, esqueçamos por um segundo, minuto, hora, “o fora”. E passemos a investir no nosso autoconhecimento.
E o que é o tão propalado e, por vezes até, banalizado autoconhecimento? Voltando à analogia do início do texto: é revisitarmos a nós mesmos, o nosso “guarda-roupa” antigo, sempre que algo, do passado, nos entrave o presente. Revisitar emoções e sentimentos, histórias vividas e não concluídas; observar em que fase estamos do “luto”, daquele momento cristalizado dentro de cada um de nós. Um processo totalmente individual, subjetivo, personalizado…E possível, TRANSFORMADOR, principalmente, a partir de vivências terapêuticas; sem dúvidas, um excelente caminho para encontrarmos ou reencontrarmos o nosso tão almejado bem-estar e, consequentemente, a nossa indispensável SAÚDE MENTAL.
*Sou Marcela Mastrangelo, mãe, filha, generosa, alegre e muito encantada com o mundo e suas curiosidades; amante da arte, da música e de qualquer expressão que traduza a subjetividade humana. Estudei sociologia, antropologia, ciência política, educação, direito, vários cursos livres e habilitei-me para atender clientes que querem adentrar no mundo do autoconhecimento. Agora, dedico-me à formação da vida Psicologia. Nada mais que um ser humano em suas buscas.
*Anna Mastrangelo Jorge tem 11 anos, é estudante do colégio Anglo, em Rio Branco-AC, filha carinhosa e sensível, artista nata e conectada comigo e meus devaneios…