A professora Sonaira Souza da Silva, do campus Floresta da Ufac, participa como coautora do artigo “The Drivers and Impacts of Amazon Forest Degradation” (Fatores e impactos da degradação florestal na Amazônia), publicado na revista Science (vol. 379, n.º 6.630), cujo tema é “Amazônia Perdida: Degradação e Destruição da Floresta”. O estudo é assinado por 35 pesquisadores de instituições nacionais e internacionais.
O artigo aponta que cerca de 38% do que resta da área de floresta sofre com algum tipo de degradação, o que provoca tanto ou mais emissões de carbono quanto o desmatamento. As conclusões resultam de uma revisão analítica de dados científicos baseados em imagens de satélite e dados do chão publicados anteriormente sobre mudanças na região amazônica entre 2001 e 2018.
Os autores definem o conceito de degradação como sendo mudanças transitórias ou de longo prazo nas condições da floresta causadas por humanos. A degradação difere do desmatamento na medida em que este envolve mudanças na cobertura do solo; ou seja, no desmatamento a floresta deixa de ser floresta.
Foram considerados quatro fatores principais de degradação: fogo na floresta, efeito de borda (as mudanças que acontecem em áreas de floresta ao lado das áreas desmatadas), extração seletiva (como desmatamento ilegal) e secas extremas. Diferentes áreas de florestas podem ser atingidas por um ou mais desses fatores, que têm diferentes origens.
Além dos efeitos sobre o clima e das perdas de biodiversidade, os cientistas avaliam que a degradação da Amazônia tem impactos socioeconômicos significativos que devem ser investigados de forma mais profunda. “A degradação favorece poucos, mas leva fardos a muitos”, afirmou o líder do estudo, David Lapola, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura, da Universidade de Campinas (Unicamp).
Em uma projeção feita pela equipe para 2050, os quatro fatores de degradação continuarão sendo as principais fontes de emissão de carbono na atmosfera, independentemente do crescimento ou cessão do desmatamento da floresta. “O Estado do Acre é um exemplo dessa degradação”, disse Sonaira Souza da Silva. “Já são mais de 500 mil hectares afetados por incêndios florestais e parte dessa floresta tem sido queimada de forma recorrente, potencializando as emissões e parte de biodiversidade.”
Os autores do artigo propõem a criação de um sistema de monitoramento para a degradação, além de prevenção e coibição do corte ilegal de madeira e controle do uso do fogo. Uma das sugestões é o conceito de “smart forests”, que, assim como na ideia de “smart cities” (cidades inteligentes), usaria diferentes tipos de tecnologias e de sensores para coletar dados úteis a fim de melhorar a qualidade do ambiente.
O trabalho é fruto do projeto Análise, Integração e Modelagem do Sistema Terrestre (Aimes, na sigla em inglês), ligado à iniciativa internacional Future Earth, que reúne cientistas e pesquisadores que estudam a sustentabilidade.