O advogado rondoniense Cristian Delgado concedeu entrevista ao site A GAZETA, relatando a angústia que sofreu com a família no Peru, nos dias em que ficaram retidos em Puerto Maldonado, capital do Departamento de Madre de Dios, distante quase 500 quilômetros de Rio Branco. Na sexta-feira, 13, ele, a esposa, a técnica de enfermagem Anícia Rodrigues da Pascoa, a filha de dois anos, e o enteado dele, de 11 anos, faziam parte do grupo de 36 brasileiros que estava no país andino e que conseguiu atravessar a fronteira, com apoio das forças de Segurança dos dois países.
“Saímos de Porto Velho, no dia 2 de janeiro, rumo a Cusco. Nossa ideia era passar uma semana naquela cidade, e ir para Puno. Porém, averiguamos como estava a situação no local, e decidimos retornar da viagem. De lá, iriamos até Arica, no Chile; depois retornaríamos ao Brasil. Foi quando estávamos retornando ao nosso país, já em Puerto Maldonado, que vimos que a situação estava complicada, que não dava para seguir viagem! Conseguimos retornar até a ponte sobre o Rio Madre de Dios, foi então que encontramos outros turistas que estavam retidos naquela região”, narrou Delgado.
O advogado comentou que passaram dois dias em Santa Rosa, distrito peruano, local onde ocorreu alguns confrontos. “Lá, os caminhoneiros já estavam há seis dias sem poder seguir viagem. Eles entraram em confronto com os manifestantes. Nossos carros estavam na frente, e na hora da confusão, as pedras acertaram os veículos dos brasileiros. No momento da confusão, a polícia local não interviu, não fez nada. Porém, conseguimos sair daquele local. Era uma cena de guerra! Umas 500 pessoas batendo pedra, batendo em nossos carros, pedindo para a gente ir embora, para não voltar. Foi bem traumático! ”.
Depois de toda confusão, Cristian relatou que conseguiram chegar em Puerto Maldonado. “Depois que mandaram abrir os bloqueios, conseguimos chegar a 40 quilômetros próximo a Puerto Maldonado. Dormimos na estrada e, pela parte da manhã, conseguimos entrar na cidade. Ficamos em um hotel, o Cabana Quinta. Uma representante do Consulado Brasileiro falou com a gente, relatando a situação, de tudo que estava ocorrendo naquele país. Ela falou que iria tentar fazer um corredor humanitário, para que pudéssemos retornar ao Brasil, mas a ação não teve êxito. Fiquei muito preocupado e relatei a minha situação à OAB, que, juntamente com a Secretaria de Segurança Pública de Rondônia, intercedeu, entrando em contato com os órgãos de Segurança do Acre”.
Delgado falou que todos estavam buscando uma solução, uma maneira de sair do Peru, sem arriscar a vida de ninguém.
“Fiquei em contato com o coronel Dantas, da Secretária de Segurança do Acre, por três dias. Ele me passou toda situação, do que estava acontecendo nos locais de conflito. Na sexta-feira, 13, já eram dez carros, com brasileiros, 30 pessoas querendo deixar o Peru. Então, começamos a viajar por conta própria, porém, avisamos as forças de Segurança do Acre. Nisso, um comandante peruano, da polícia carreteira, começou a disponibilizar viaturas para acompanhar a gente, pelo menos até onde havia os bloqueios. Paramos em vários bloqueios, alguns passamos rápido, outros demoramos. Saímos de Puerto Maldonado, às 6h30. Foi desse jeito que conseguimos fazer os 220 quilômetros, em 12 horas, chegando quase 7h na fronteira, em Iñapari. A polícia de fronteira já estava nos aguardando e conseguimos fazer a saída do Peru, dando entrada no Brasil, graças a Deus”, relata o advogado.
Ele disse disse que essa foi a segunda vez que visitou o país andino. “Minha filha e meu enteado foi, nesta primeira vez, que viajaram ao Peru. A situação em alguns países da América do Sul e Latina está muito complicada. Vamos dar uma pausa nas viagens aos países que fazem parte do nosso continente. Passamos por momentos muito complicados”, concluiu.
As manifestações estão acontecendo, principalmente, em cidades turísticas, como Lima, Cusco, Arequipa e Puno. Os atos pedem novas eleições no Peru e a renúncia de Dina Boluarte, que assumiu o poder, após o ex-presidente Pedro Castillo ser preso por tentar um golpe de estado, além do fechamento do Congresso e de mudanças constitucionais. Segundo registros oficiais, 48 pessoas já morreram nos confrontos.