Texto: Marcela Mastrangelo/ Ilustração: Anna Mastrangelo Jorge
Olá, devanetes queridos, tudo bem?? Pós-carnaval, março…Empolgada que o ano, enfim, começou! Ou será essa só mais uma desculpa que nós, brasileiros, contamos, para fugir dos afazeres que a luta cotidiana nos impõe??
De uma forma ou de outra, nem “desculpas” temos mais. E quando arrancamos a largada, vem um feriado do Dia das Mulheres! Nada contra, mas, fico me perguntando sempre nessa data: o que estamos comemorando?? Para mim, não deixa de ser a luta para ser mulher… Sim, caros leitores, ser mulher é muito mais do que gênero feminino ou desejo por outro homem, ou gerar filhos, ou trocar de sapato todos os dias…
Ser mulher vai além de mim, de ti e de nós; é um sentir que nos teletransporta para um mundo de acolhimento, graça e intuição. O que me deixa do veras chateada é que, tantas vezes, não usamos isso para nossa “alcateia”, muito pelo contrário, somos lobas de nós mesmas, rivalizamos umas com as outras, e isso começa em nossos próprios lares, mães com filhas, sogras e noras, irmãs, amigas e assim por diante. Obviamente que sei como, culturalmente e historicamente, construímos os conceitos, mas, na mesma proporção que erguemos esses muros, podemos derrubá-los.
Ai ai ai, será que estou atrasada?? Risos. Não, definitivamente não. Sou uma “rebelde” (pausa); gosto de provocar fora de data, gosto de fazer as pessoas pensarem, abstraídas do que a maioria está pensando, discutindo; gosto da singularidade de ser quem se é, mesmo que não coincida com a grande manada. Sabe aquele ditado popular: “Maria vai com as outras”? Enfim, não vejo nada mais entediante do que pensar, sentir e ser como todo mundo está sendo….
Entretanto, volto à queixa inicial: estamos pouco mais de sete dias após o tão propalado “Dia da Mulher”, mas a nossa sociedade dita um ritmo tão louco, que já temos ovos da Páscoa no supermercado e já falamos em “Dia do Consumidor”, concomitante com a Quaresma e já de olho no “Dia da Mentira” e no “Dia do Trabalhador”. Fora os “hoje é dia de (de uma rede social qualquer)”. E a pergunta que não quer calar: “Que cargas d’aguas estamos fazendo??”. E, debruçando-me sobre a psicologia social, temo (não, não tenho certeza), que estamos, verdadeiramente, desconectados do real sentido da vida.
Vicktor Emil Frankl, o conhecido psiquiatra do século XX, aquele que foi prisioneiro, num campo de concentração, e perdeu toda a família, pois tinha linhagem judaica, “os perseguidos” pelo Hitler, viveu uma das experiências mais traumáticas que um ser humano pode experimentar: ser prisioneiro e vivenciar horrores de privação de sono, comida, trabalho escravo, violência e agressão moral…
Em 1945, Frankl escreveu o livro que o consagraria, “Em busca de um sentido”, no qual ele conta sobre os sofrimentos desumanos aos quais foi submetido, pelo olhar de um profissional da saúde mental. Ele, na sua bela e triste narrativa, evidencia a importância de termos um sentido de vida e buscar formas de lidar com nossos vazios existenciais.
Pois bem, este grande pensador (aos meus olhos) é o fundador da Logoterapia e Análise Existencial, considerada a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, e foi responsável pelo pensar filosófico em relação ao sentido da vida, tanto que é dele a célebre frase: “(…) quem tem um ‘porquê’ enfrenta qualquer ‘como’”. Baseada numa fala de Friedrich Nietsche, também estudioso dos “porquês” humanos e como vivenciá-los.
Tudo bem, já entendi, fiz toda essa explanação por que?? Bom, simplesmente porque estou aqui devaneando, sobre os “roubos”, os “latrocínios” que nós, homens e mulheres, vivenciamos, cotidianamente. E até os mais lúcidos e críticos estão sujeitos a essas vicissitudes rotineiras, e, quando percebemos, estamos à beira de um vazio que nos torna incapacitados para vida.
A ideia é: cautela, caros devanetes. Reflexão e, principalmente, permissão para, conforme Freud: “Recordar, repetir e elaborar.” Para, enfim, deixarmos de elaborações gloriosas e ideias megalomaníacas, conforme Victor Frankl disse: “Escrever um livro não é uma grande coisa, saber viver é muito mais e ainda mais é escrever um livro que ensine a viver. Mas, o máximo é viver uma vida sobre a qual se possa escrever um livro”. Então, vivamos!
*Marcela Mastrangelo, mãe, filha, generosa, alegre e muito encantada com o mundo e suas curiosidades, amante da arte, música e qualquer expressão que traduza a subjetividade humana. Estudei Sociologia, Antropologia, Ciência Política, Educação, Direito, vários cursos livres e habilitei-me para atender clientes que querem adentrar no mundo do autoconhecimento. Atualmente, dedico-me à formação da vida Psicologia. Nada mais que um ser humano em suas buscas…
*Anna Mastrangelo Jorge tem 11 anos, é estudante do colégio Anglo, em Rio Branco-AC, filha carinhosa e sensível, artista nata e conectada comigo e meus devaneios…