Sexo é assunto mais do que frequente no consultório. Tanto nos atendimentos de terapia de casal quanto nos individuais. Não há um único dia em que um psicanalista não escute de pelo menos um analisando, mas quase sempre de mais de um, reflexões, dúvidas, reclamações e desejos relacionados ao tema.
Na semana que passou – coincidentemente ou não, vida real do pós-carnaval, corpos dançantes, pele à mostra, e o espírito dionisíaco ocupando seu espaço – escutei bastante a constatação do sexo morno no relacionamento. Mas o que me chamou mais a atenção foi a forma como os analisandos dividiam a vontade de experimentar acessórios sexuais com o medo de que os parceiros se ofendessem com a ideia. Século XXI e ainda estamos nessa. Surpreendente, não é? Lembrei-me imediatamente do subtítulo de um dos capítulos de “Novas formas de amar”, de Regina Navarro Lins (Editora Planeta): Inteligência erótica. Será que está em falta?
O que faz com que a adição de novos recursos assuste tanto? No mesmo livro, Regina começa a resposta. “Saber descobrir e sentir o prazer pode ser um talento e uma arte que precisa ser cultivada. E com toda a repressão sexual da nossa cultura, não é tão simples”. Ainda há muito a ser aprendido no terreno da sexualidade, mas estamos caminhando. O fato de que quem se queixa se lança também à possibilidade de aprimorar a parceria, traga para o discurso o desejo de experimentar, já diz de algum decréscimo, ainda que mínimo, desta repressão.
Na minha investigação sobre o tema, perguntei a Henrique Saponi, proprietário da recém-inaugurada Pele bem-estar, qual é o perfil do consumidor que já venceu o constrangimento e o medo. A seguir, um trecho dessa conversa.
Quem consome brinquedos eróticos? Esse é um estereótipo que nossos consumidores já ultrapassaram, por exemplo. A Pele é uma loja de bem-estar sexual. Os acessórios estão incluídos, mas são apenas parte de nosso acervo. Quem entra no site vai encontrar óleos, velas, sabonetes, livros, lubrificantes e também vibradores. Nos interessa tudo que cria atmosfera para o sexo. Aquela ideia dos dildos enormes, com formato realista, dos sites que muitos têm vergonha de manter no histórico do navegador de internet (risos) não corresponde à nossa loja, embora também não seria nenhum problema se correspondesse. Na sua grande maioria são mulheres, mas temos também um público masculino no desejo de ganhar estrelinhas em casa.
É comum que escrevam para contar de suas experiências? Para a nossa surpresa, sim. E a maioria de quem escreve são os casais. A sensação que tenho é a de que logo mais falaremos deste preconceito como algo do passado. Pelo menos torço pra que seja assim. Quanto mais gente contente nessa vida melhor.
Concordamos com ele, não? Boa semana queridos, com mais liberdade e menos medo.