Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Cacique explica como ashaninkas do Acre tiveram sucesso em unir preservação e sustentabilidade

Francisco Piãko, cacique ashaninka. Foto: Domingos Peixoto

Quando os ashaninkas tiveram sua terra demarcada no Acre, encontraram um solo exaurido, com poucos animais para caça e pesca insuficiente. Depois de 30 anos, a reserva se tornou autossustentável e um modelo de preservação, onde se realizou, entre os dias 1º e 8 deste mês, um encontro inédito da etnia com os caiapós do Pará.

O líder ashaninka Francisco Piãko conta abaixo como foi essa mudança ao longo de 30 anos e o que espera que frutifique com o encontro.

 

O que representa a aldeia Apiwtxa no contexto ashaninka ?

Apiwtxa, que quer dizer união, surgiu no processo de demarcação, em 1992. A gente não tinha terra nossa, a gente estava sempre na terra dos outros. Foi um projeto pensando que não iríamos mais poder sair daqui, mas sairíamos das mãos dos patrões.

E o que explica a fórmula do sucesso 30 anos após a demarcação?

A gente viu um território com poucas árvores, poucas caças, poucos peixes. Passamos por um processo de recuperação. Investimos em madeiras de lei. Ocupar uma área que era fazenda com espécies mais ligadas à produção de alimentos. Fomos enriquecendo com outras espécies, tirando da floresta e trazendo algumas que já eram conhecidas e cultivadas. Recuperamos o rio, a floresta, esses espaços, e hoje temos um dos melhores lugares do mundo de segurança alimentar, dentro de uma forma natural. Esse estoque não está numa geladeira, num freezer. Você todos os dias tem de coletar, de pescar, de caçar. Assim a gente também faz com que as crianças não percam esse hábito de se relacionar direto com as frutas que temos.

O que você leva desse encontro com os caiapós?

Ninguém quer que os caiapós virem ashaninkas nem que ashaninkas virem caiapós. A gente quer que nessa troca cada um possa melhorar mais o seu modo de vida e poder estar mais próximo um do outro também ao mesmo tempo. O nosso modelo pode ser referência para ajudar a melhorar algumas questões, mas ele não resolve o problema de todo o mundo, talvez resolva o nosso. Tem algumas coisas em comum que a gente precisa debater juntos nesses intercâmbios. O primeiro é a importância da união do grupo interno, a firmeza das lideranças. Meu pai sempre diz: “você tem que ser um tronco, como uma pedra, como um âmago de madeira para você resistir ao movimento do vento, da água”. Para crescer, é preciso ter claro onde você quer ir. Por mais que você faça várias curvas para ir lá, precisa estar muito claro onde você quer chegar.

Escrito por: O Globo

Sair da versão mobile