A maioria das pessoas servem por algum interesse, na medida em que se acostumam à servidão esquecem que a liberdade é o maior bem da vida. Nascemos livres e poucas vezes o ser humano é capaz de buscar ser feliz de verdade, muitos preferem se acomodar satisfeitos.
O fato é que para buscar a felicidade precisamos vencer o sofrimento, faz-se preciso lutar, a luta compreende o indivíduo em sua unidade existencial, pois em meio ao mundo estamos dentro de nós mesmos.
La Boétie dizia que os amigos vivem em condições de igualdade na medida em que se completam, Marilena Chaui percebeu na luta “o poder político da amizade”, a sociedade faz sentido para nós que nos entendemos na medida em que aprofundamos o relacionamento.
O encontro abre a perspectiva do mundo, eu vivia preso à origem, cumprindo determinações, fechado dentro de mim mesmo só compreendia a ordem do velho que me obrigava a servi-lo.
O medo de ultrapassar a fronteira para chegar do outro lado me limitava ao horizonte da terra, ignorava todo o azul do céu que dá para o desconhecido, no fundo eu estava subjugado pelo autoritarismo que dita o que tenho de fazer e proíbe a livre expressão do pensamento.
A realidade de quem sai de casa dando abertura para conhecer a verdade que dá para o mundo é o ensimesmamento, deixando para trás o passado e tudo o que lhe diz respeito eu andava metido em mim mesmo.
Colocando-me avesso e incomunicável via-me solitário como um lobo à espreita do homem; foi quando se deu o encontro feliz que me tirou do abismo para onde eu caminhava, eu não me desviei tentando fugir, eu peguei o caminho da verdade para ascender das profundezas e vir à luz.
Vou usar como exemplo a cidade de São Paulo, linda e moderna. Ela fala para o mundo, ansioso por ouvi-la! A cidade criou a cordialidade, que no começo ficou reduzida pela dependência, vamos libertando o conceito do provincianismo que condena o homem cordial alienando o seu juízo, a pegada crítica não pode ser calada pelo arbítrio, negamos o personalismo e o acusamos de conformação, as situações desafiam o gênio que se coloca nos seus próprios termos.
La Boétie reclama da subserviência das pessoas, obrigadas a servir elas estreitam-se interessadas nos privilégios que possam angariar sem perceber que estão sendo usadas. Já Marilena Chaui eu poderia dizer que o cidadão se define através da luta pelo direito, sem a luta o direito não passa de privilégio, a luta que levamos adiante estreita os laços de amizade.
Estamos envolvidos nas mesmas causas, temos motivos insuspeitos, as razões que iluminam as partes iluminam o todo. O direito que subiu para os olhos abre o semblante e liberta a alma.
Beth Passos
Jornalista