Na bancada do meu banheiro, um potinho de vidro com as pastas e as escovas de dente, os hidratantes e protetores de corpo e de rosto, as maquiagens das meninas e as minhas, os perfumes. Sempre que limpo a casa, me pergunto se faz sentido manter na bancada aquilo tudo. Pensando no diariamente, não usamos nem metade. O ideal seria acomodar nas gavetinhas vazias o que fica na categoria ‘de vez em quando’, ou na ‘quase nunca’. Por alguma razão, não é o que eu faço. Ontem no devaneio da faxina, me peguei olhando, assim mais de pertinho, a embalagem do meu perfume. É um perfume de camomila, de criança, só pra dar contexto. Pela primeira vez, prestei atenção na ilustração escolhida para embalagem. É uma raposa sorridente com echarpe de listras azuis e brancas no pescoço. Agora, me expliquem: por que? Na cabeça de vocês, as raposas são cheirosas? E calmas? Antes de escrever pesquisei aqui no google a relação entre raposas e camomilas. Não há. Pois bem, pra começar a semana, está lançada nesta coluna a primeira edição do prêmio “Como assim? Isso não faz o menor sentido!”.
Medalha de ouro para a raposa cheirosa com dor de garganta. Ocupando um honradíssimo segundo lugar, está a queda do acento em joia. Sim, aconteceu. Na reforma ortográfica de janeiro de 2016, entre outras mudanças de difícil incorporação, esse acessório que mais parecia um brinco, um pingente, uma coroa, que combinava perfeitamente com a palavra, foi para as cucuias. Os corretores de celular ignoram o fato, os do word também. E têm toda razão. Eu fiz o mesmo por muito tempo. Mas é 2023 já, não dá pra dizer que a gente não se acostumou ainda. Meu truque é cantar a musiquinha do e-mail do Jô Soares, vocês lembram? “É sem acento, é sem acento”.
Antes de anunciar o terceiro lugar, desculpas antecipadas aos linguistas e aos designers, parece que acordei um tantinho implicante. Mas vamos lá, os títulos dos livros, nas lombadas, estão cada vez mais, cada uma pra um lado. Lombada é aquela lateralzinha que fica à vista nas estantes, nas nossas e nas de plano de fundo dos jornalistas da GloboNews e do povo em reunião de zoom. Que passa com o de cima pra baixo, da esquerda pra direita? Ou de baixo pra cima, vocês que sabem, mas bora combinar um padrãozinho? A bagunça faz convite à labirintite. Percebe? Chega até a rimar. Medalha de bronze.
Eu poderia ficar a semana toda engordando essa listinha de incômodos, mas pouparei o querido leitor da minha versão garota enxaqueca. De qualquer forma, me divirto com ela. É também no exercício de reclamar que buscamos sentido. E buscar sentido é parte do que quer um processo analítico. Mais do que buscar, questionar, criar novos sentido. Eu acho bonito. E vocês? Faz sentido?