Ontem, enquanto eu lavava os pratos, Bethânia cantava “Trabalhei o ano inteiro na estiva de São Paulo, só pra passar fevereiro em Santo Amaro”. Nunca esqueço dela, tão charmosa, o cabelo voando, um sorrisinho de canto de boca, falando em Fevereiros, aquele documentário que todo mundo devia assistir: “A vida toda foi assim, tudo que eu fizer, quando eu viajar, o que eu comprar, o que eu gostar, o que eu achar que é bonito, eu separo pra fevereiro”.
Minha tia Ruth tem isso com o natal. No fim do ano, todo fim de ano, a casa dela fica pra lá de decoração de shopping. Tem toalha de pinheiro, rena e estrela no banheiro, na cozinha e na mesa da sala, tem enfeite na porta, tem louça verde e vermelha, tem copo de boneco de neve, presépio na mesinha de centro, árvore quase até o teto e uma coleção de sei lá quantos papais noéis a desafinar musiquinha de dezembro.
Fiquei pensando que deve ser meio assim pra todo mundo, né? Seja carnaval, natal, São João ou aniversário, deve haver aquela uma semana do ano para a qual a gente separa as nossas expectativas. Pra mim, essa semana se aproxima e não, não é Tiradentes. É a semana do lançamento do curso que ministro duas vezes por ano desde 2020: “O que vem depois do fim – Workshop para mulheres em processo de separação”. A ideia de falar sobre esse tema começou como começa quase tudo, numa agoniazinha pessoal. Quando me separei, bem no meio daquela época horrorosa de COVID, embora soubesse que a vida seguiria, que ficaríamos todos bem, bastava parar um minuto de fazer qualquer coisa prática, para a pergunta vir à minha cabeça: e agora? O que vem depois?
Foram as leituras, o estudar, o ouvir as histórias de outras pessoas que já atravessaram este mesmo terreno, e o tempo, claro, que me ajudaram a sair de um ponto para o outro. E é essa justamente a proposta do curso, montar rede. E, no paralelo, conversar sobre as fases do luto, as origens sociais e históricas do casamento, do amor romântico, as fantasias de completude e os recomeços (de longe, a melhor parte).
Além das aulas, monto sempre com as alunas um grupo de whatsapp para que elas coloquem a rede pra girar. Desses grupos já saiu amizades internacionais, encontros presenciais, trocas de experiências, um dar as mãos que transforma. Tô feliz. Agendei para o três de maio, achei bonito um recomeço assim depois do dia do trabalho. Há de trabalhar para se transformar, não é? Quem ficou curioso, acha a explicação completinha no Sympla.com.br, é só pesquisar “O que vem depois do fim – Workshop para mulheres em processo de separação”. Vou adorar encontrar vocês por lá. Boa semana, queridos.