A família da tutora de Benjamin, um cachorro da raça pug, usou as redes sociais, nesta quarta-feira, 12, para falar sobre a morte de ‘Ben’, como era chamado carinhosamente por todos. O animal morreu no último dia 4 de abril, após ser esquecido, dentro do carro, pela proprietária de uma creche de animais em Rio Branco.
Ben tinha seis anos de idade e era considerado membro da família para sua tutora, Margareth Cavalcanti.
Segundo o filho da tutora, Caio Cavalcanti, o pug era considerado um irmão para ele. A família decidiu se manifestar sobre o caso, após a proprietária da creche para animais, Ana Fonseca, se manifestar, nas redes sociais, no dia 8 de abril, quatro dias após a morte do animal.
“Ele morreu de forma brutal. Ele era meu irmão. A gente ainda não tinha se manifestado porque lembrar da forma como ele foi morto é muito triste e ainda dói, principalmente na minha mãe. Mas não vamos mais ficar calados. Depois que vimos como o ocorrido foi exposto pela proprietária da creche, fez doer ainda mais”, disse Caio.
Segundo Caio, a proprietária do estabelecimento buscou Ben às 7h45, do dia 4 de abril, para levá-lo para mais um dia de creche. E, por volta das 9h, teriam chegado no local, que fica nas proximidades do Horto Florestal, em Rio Branco.
“Ele ficou dentro da caixinha de transporte e, simplesmente, esqueceram ele dentro do carro”.
A esposa de Caio, a dentista Larissa Ribeiro, também falou sobre o caso. Ela rebate a proprietária, que disse que Ben ficou por cerca de 40 minutos dentro do carro.
“Se ela chegou na creche às 9h, isso não condiz com o relatório da veterinária que atendeu o Ben. Pegamos a ficha dele e tem que ele deu entrada no hospital às 11h. Você não demora das 9h40 até as 11h para sair de perto do Horto Florestal e chegar perto do Skate Park, que é onde fica o hospital que ele foi atendido. Ele ficou mais de 1 hora dentro do carro e, quando ele chegou no hospital, o termômetro do veterinário não conseguiu medir a temperatura dele de tão alta que estava. Ele foi cozido dentro do carro, não tinha muito o que os veterinários pudessem fazer. E eles fizeram todas as manobras que puderam”.
Caio conta ainda que a família só ficou sabendo do ocorrido após às 15h, ou seja, cinco horas após o animal dar entrada na emergência do hospital veterinário.
“A gente só ficou sabendo dessa situação depois das 15h, que foi quando a dona da creche entrou em contato com minha mãe. Eu liguei pra dona da creche, que não me falou o que aconteceu, e só falava que ele estava no hospital e estava estável. Em nenhum momento se explicou de uma forma clara. Eu fui correndo para o hospital pra ver ele. Quando cheguei lá, a dona da creche não estava lá. E ela ainda teve a crueldade de dizer que ele se agitou depois de me ver. Ele não teve nenhuma reação, ele estava praticamente em estado vegetativo, não sentiu minha presença, nem meu cheiro, não se mexia. A doutora me explicou que ele podia ter tido um dano neurológico pelo tempo que ficou sem oxigênio. Ele teve um espasmo na minha frente e esticou as patas, saí da sala e percebi que não estava tudo bem”, relatou.
Assim que entendeu o estado de saúde do animal, Caio foi buscar sua mãe, a tutora de Ben. “Quando a gente chegou de volta no hospital, não deixaram eu entrar, que a doutora estava vindo falar com a gente. E ela informou que nosso irmão tinha falecido”, lembra.
Ainda segundo a família, Ben fazia exames de rotina para garantir que estava saudável, inclusive, uma semana antes de sua morte, o animal fez uma bateria de exames. “Ele estava bem de saúde, todos os exames mostraram isso”.
Negligência ou fatalidade?
Larissa também acrescentou que o sobrepeso ou a raça do animal, que costuma ter problemas de respiração, não é justificativa para a morte de Ben, que estava sob os cuidados da creche.
“Quando você tem um animal com essas particularidades, você tem mais atenção. Todo mundo sabe que é uma raça que exige mais cuidado, você precisa de mais atenção. Isso não justifica. Ele foi negligenciado, não tem como tentar terceirizar uma culpa. E depois que escutamos tudo isso, não podíamos ficar quietos. A gente só queria esquecer o aconteceu, mas depois de tudo que escutamos não dava mais”.
Emocionado, Caio fez um desabafo no final do vídeo: “Minha mãe entregou ele saudável, feliz e, simplesmente, foi buscar ele morto, no hospital. A demora sobre o que estava acontecendo fez minha mãe perder os últimos momentos com ele. Não foi uma fatalidade, foi uma negligência”.
O outro lado
A reportagem de A GAZETA teve acesso ao vídeo publicado pela dona da creche no Instagram, no dia 8 de abril. A dentista Larissa conta que o vídeo foi publicado no story, que fica online por 24 horas, por isso a família resolveu salvar e guardar o relato.
No vídeo, Ana Fonseca justifica a demora para se pronunciar sobre o assunto e afirma que, antes de tomar qualquer iniciativa, precisava conversar com a tutora de Ben e os outros tutores que têm animais matriculados na creche.
“A situação tem sido muito difícil. Na terça [4 de abril] fomos buscar alguns cães e, infelizmente, quando a gente retornou, um desses cães acabou ficando por um tempo a mais dentro do carro. Esse cão era o Ben, que é um pug, que é um cão que naturalmente já tem dificuldade respiratória, ele estava sendo transportado dentro de uma caixa de transporte no banco de trás do carro. Ele ficou por acredito que uns 40 minutos, uma hora, não vou saber precisar o tempo. Mas a partir do momento que a gente verificou que ele estava dentro do carro, imediatamente eu liguei para a veterinária que acompanhava ele e a gente foi para o hospital veterinário”.
A proprietária da creche disse que ficou no hospital até às 14h, quando saiu do local, juntamente com a veterinária “acreditando que o cachorro estava bem”.
“A gente saiu de lá a temperatura dele já estava normal para um cachorro. Ele ficou lá em observação. Depois disso, liguei para a tutora, informei o que tinha acontecido. O filho dela foi até o hospital e viu o Ben, e acabou que após isso o Bem se agitou, algo nesse sentido, começou a passar mal e evoluiu a óbito”.
Sobre a responsabilidade da empresa com o animal, Ana afirma que tomou todas as medidas necessários naquele momento. “Inclusive, eu liguei para todos os tutores que tem um cãozinho com a gente para contar o que aconteceu. Para que soubessem do que aconteceu por mim”.
A proprietária negou ainda boatos de que Ben era o terceiro animal a morrer no local. “Isso nunca aconteceu. Infelizmente a gente tá tendo que lidar com esse óbito e que foi uma fatalidade. Eu enquanto dona da Pretioca Pets eu venho pedir um voto de confiança de cada que acredita no nosso trabalho”.
E acrescentou: “Jamais vou me eximir de uma responsabilidade, porque sei que ela existe, e eu lamento profundamente. A partir de agora eu só falo sobre essa situação com as partes envolvidas”.
Denúncia no MP
Segundo a advogada da família do cachorro, Vanessa Facundes, o caso já foi denunciado ao Ministério Público titular para esse tipo de ação. A família também registrou um boletim de ocorrência.
“Agora estamos fazendo a reparação do dano moral de forma cível, porque ela estava prestando um serviço e foi negligente, acarretando a morte do animal. Eu acredito que a dona do estabelecimento cometeu crime de maus-tratos, que inclusive teve pena aumentada recentemente”.