A Fundação Itaú Cultural lançou uma plataforma inédita que mensura o Produto Interno do Brasil (PIB) da Economia da Cultura e Indústrias Criativas (ECIC). O lançamento ocorreu nesta segunda-feira, 10, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo.
A coletiva de imprensa contou com a participação do presidente da Fundação Itaú, Eduardo Saron, e do professor e pesquisador da University of Manchester e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Leandro Valiati, além de jornalistas, convidados pela Fundação, de todas as regiões do Brasil. A GAZETA representou o Acre no evento, a convite do Itaú Cultural.
Mas qual a importância desse novo PIB? A nova metodologia permite avaliar de forma estruturada a contribuição dos setores criativos para a economia brasileira. Os setores criativos reúnem moda, atividades artesanais, indústria editorial, cinema, rádio e TV, música, desenvolvimento de software e jogos digitais, serviços de tecnologia da informação dedicados ao campo criativo, arquitetura, publicidade e serviços empresariais, design, artes cênicas, artes visuais, museus e patrimônio.
Segundo o indicador, o segmento respondeu por 3,11% das riquezas geradas no país em 2020, o que equivale a R$ 230,14 bilhões dos R$ 7,4 trilhões movimentados pela economia no período. O PIB de 2021 e 2022 ainda não estão disponíveis porque dependem da atualizaçao de bases oficiais de dados.
Renda e emprego
São mais de 7,4 milhões dos empregos formais e informais gerados pela cultura e economia criativa no Brasil, em 2022 (dados do quarto trimestre), o que equivale a 7% do total dos trabalhadores da economia brasileira. O número é 4% maior que o verificado em 2021. Só no ano passado, a cultura e a economia criativa geraram 308,7 mil novos postos de trabalho no país.
Para se ter uma ideia da magnitude da participação, em 2020 o setor automotivo respondeu por 2,1% do PIB (dado IBGE), um ponto percentual a menos que a cultura e as indústrias criativas no mesmo intervalo.
De acordo com os dados do PIB do Observatório Itaú Cultural, em 2020, existiam mais de 130 mil empresas de cultura e indústrias criativas em atividade no país.
PIB da Cultura e indústrias criativas
A pesquisa foi elaborada a partir do critério de renda, que inclui massa salarial, massa de lucros e outros rendimentos auferidos por empresas e indivíduos no país.
Quanto à metodologia, a Fundação explica que foi desenvolvida por um grupo de pesquisadores, liderado por Leandro Valiati. Os pesquisadores levaram em consideração dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNADc/IBGE), da Relação de Informações Sociais (RAIS), do Programa de Avaliação Seriada (PAS) e da Pesquisa Anual de Comércio (PAC), além das Tabelas de Recursos e Uso do IBGE (TRU) para contabilização dos impostos e o histórico de prestação de contas da lei Rouanet.
“Não se trata de substituir órgãos de estatísticas, como o IBGE, mas é um exercício de construção de uma narrativa específica, que produz conhecimento. Cultura e indústrias criativas são relevantes e essenciais para se realizar estratégias de desenvolvimento econômico. Mais 30 especialistas nacionais e um conjunto de especialistas internacional validaram a metodologia, apontando possíveis melhorias para o futuro”, explica o pesquisador.
Este primeiro levantamento mostra que o PIB da Economia da Cultura e Indústrias Criativas (ECIC) vem crescendo de forma mais acelerada que o total da geração de riquezas no país nos últimos anos. De 2012 a 2020, o PIB dos segmentos criativos, em números absolutos, experimentou crescimento de 78%, enquanto a economia total do país avançou 55%. A participação do PIB da ECIC era de 2,72%, em 2012, e saltou para 3,11%, em 2020.
A participação do PIB destes segmentos no país é maior, por exemplo, do que na África do Sul (2,9%), Rússia (2,4%) e México (2,9%).
“É fundamental que a gente possa provar também a importância da Cultura no campo do desenvolvimento econômico. Há um sentimento muito poderoso de que nós desenvolvemos economicamente o país, por isso esse trabalho de um ano e meio para que pudéssemos chegar a essa metodologia, que nos traz o tamanho e poder da Cultura, nos referenciando internacionalmente e em outros campos da economia”, disse o presidente da Fundação Itaú.
Cultura e produção criativa no Norte
O levantamento também traz números que mostram a contribuição do ECIC para o PIB dos estados e das regiões.
A Contribuição do PIB Economia da Cultura e Indústrias Criativas para a região Norte corresponde a 0,3%. Já para o Acre, a contribuição é de 0,22%, a segunda menor contribuição da região norte, ficando atrás somente para Roraima, que é de 0,21%.
As regiões Sul e Sudeste são as regiões com maior contribuição do PIB da cultura e indústrias criativas. Veja abaixo a contribuição por estados e regiões.
Impacto real
Se você chegou até aqui, deve estar se perguntando: como esses números vão impactar na vida de quem vende/produz/empreende na área de cultura e indústria criativa?
O pesquisador da University of Manchester e Universidade Federal do Rio Grande do Sul explicou como os números, que estarão sendo atualizados periodicamente, pode ajudar um artesão que trabalha com produtos regionais, por exemplo.
“O pequeno empreendedor pode saber quantas empresas existem no setor que ele quer trabalhar ou já trabalha, quantos empregados formais e informais estão na área que ele quer empreender ou já empreende. São indicativos importantes para que o empreendedor olhe para o mercado e tenha mais informações para tomar decisões. No momento em que houver mais dados estaduais e municipais, mais fácil fica pra você ter a micro informação”, explicou.
E por falar em dados estaduais e municipais, a programação do lançamento inclui a construção de uma agenda cultural com representantes de diversos estados, municípios, governo federal e da Fundação. O encontro será realizado nesta terça-feira, 11, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo.
Sobre o Observatório Itaú Cultural
O Observatório Itaú Cultural foi criado em 2006 com foco na gestão, na economia e nas políticas culturais e promove, desde então, estudos e debates desses temas, estimulando a reflexão sobre a cultura em seus vários aspectos e analisando os indicadores nacionais. A atuação do observatório é ampliada com seminários, cursos, encontros e palestras; uma linha editorial de livros e da Revista Observatório, disponíveis gratuitamente na web; e a promoção de pesquisas sobre o campo cultural.
Entre 2009 e 2019 realizou, ainda, um curso de especialização em gestão cultural em parceria com a Cátedra Unesco de Políticas Culturais, a Cooperação da Universidade de Girona, Espanha, e com o apoio da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI). Em 2021, o Observatório lançou o Mestrado Profissional em Economia e Política da Cultura e Indústrias Criativas em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).