Apesar de ter vencido a disputa para a Presidência da República, com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Partido dos Trabalhadores (PT), no Acre, enfrenta uma crise. Além de não ter conseguido eleger representantes, em 2022, a sigla tem sofrido com a desfiliação de lideranças históricas, a exemplo do ex-prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre, e, mais recentemente, do ex-presidente do PT-AC, Manoel Lima.
Manoel presidiu o PT-AC, durante as últimas eleições, e era o atual vice-presidente da sigla. O pedido de desfiliação foi enviado neste domingo, 16.
À GAZETA, Cesário Braga, presidente do PT-AC, disse que respeita a decisão. “Lamentamos e respeitamos a respeitamos a decisão que ele tomou”, afirmou.
Em carta aberta, publicada neste domingo, Lima afirma que a decisão foi tomada em comum entendimento com minha família diante de novos desafios que a vida lhe apresenta.
“Aos amigos que ficam, desejo muita sabedoria na condução do PT para que esse partido, fundado pela força da mão de obra operaria desse país, continue sendo um instrumento de luta a favor dos mais necessitados”, disse Manoel.
Confira a carta da íntegra:
Carta aberta aos amigos e amigas
Meus amigos e amigas, companheiros de longas lutas, venho por meio dessa carta comunicar a todos o teor de uma decisão pessoal tomada em comum entendimento com minha família diante de novos desafios que a vida me apresenta.
A maioria de vocês sabe que aos 14 anos de idade eu inicie minha luta por uma sociedade mais justa e igualitária ao liderar um movimento, vitorioso, de trabalhadores rurais ameaçados de expulsão por um fazendeiro conhecido por Lucrécio, no seringal Nova Empresa, na região da estrada Transacreana.
Não tive nem tempo de celebrar, de fato, aquela vitória e logo o sofrimento de outras pessoas me convocou para novas batalhas na defesa da massa trabalhadora e, aos 16 anos, ao lado de valiosos companheiros do movimento social e sindical fundamos o Sindicato dos Extrativistas e Trabalhadores Assemelhados do Estado do Acre, SINPASA.
Naquele momento, nossa grande batalha foi tirar os sindicatos e associações de movimentos de base das mãos da direita, que utilizava o poder de mobilização dessas entidades a favor do próprio patrão.
A cada conquista, eu sempre fazia questão de me colocar à disposição da nova diretoria como coordenador sindical por entender que naquela função estaria, diretamente, na frente de batalha por mais respeito e dignidade ao trabalhador acreano.
Antes de completar a maior idade, eu assumir um departamento na direção do SINTEAC, na gestão da professora Naluh Gouveia frente ao Sindicato dos trabalhadores em Educação do Estado do Acre.
Depois fui eleito presidente da Central Única dos Trabalhadores CUT, no Acre e, sucessivamente presidente do SINTEAC levando a nossa categoria da educação ao patamar de uma das mais respeitadas na mesa de negociação com o governo e prefeituras.
Não é segredo para ninguém que sempre fui um militante de esquerda filiado ao Partido dos Trabalhadores e que sempre defendi o projeto esquerdista em nosso Estado e em nosso país, mas sempre prezei por minha autonomia e liberdade. Por isso, nunca ficava calado, mesmo quando tinha que enfrentar governos que ajudei a eleger.
Mas, de uns tempos desses para cá, comecei a perguntar para mim mesmo o que está acontecendo que já não me sinto mais acolhido e nem querido dentro do PT. Mesmo tendo muitos amigos e uma história de vida nesse partido, já não me sinto mais em casa.
Depois de ter ajudado a fundar o SINPASA, resgatado a FETACRE, reorganizado a CUT, ter sido presidente da CUT, presidente do SINTEAC, ter conquistado o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Branco, ter sido o décimo quinto candidato mais votado para deputado estadual entre mais de trezentos candidatos em 2010, ter sido secretário municipal de articulação comunitária de Rio Branco, sinto que é chegado o momento de me afastar dos quadros do PT.
Neste domingo, dezesseis de Abril de 2023, renunciei ao cargo de vice- presidente da executiva estadual do Partido dos Trabalhadores do Acre e me desfiliei do PT.
Aos amigos que ficam, desejo muita sabedoria na condução do PT para que esse partido, fundado pela força da mão de obra operaria desse país, continue sendo um instrumento de luta a favor dos mais necessitados.
Prof. Manoel Lima