Ainda que seja legítima tive ânsia de vômito ao ler pessoas discutindo aumentar os muros porque inevitavelmente vai aumentar a violência e necessitados pedindo comida nas portas. Boa parte delas também não vi se manifestar para ajudar os famintos dos sinais e calçadas de Rio Branco com alimentos básicos. Ainda assim tenho noção do imenso privilégio que temos nessa hora, a situação da grande maioria das pessoas é infinitamente mais delicada que a nossa.
Que bom se você tem casa própria, dinheiro no banco que daria para sustentar sua família por 2 anos, pessoas amigas que poderiam socorrê-lo (a) num momento de aperto.
Não diga que tem medo de “passar fome” porque a economia inevitavelmente vai se retrair ainda mais nesses tempos incertos em que o governo luta para ter um entendimento com seu próprio partido. É preciso também mecanismos eficazes para que o presidente e o palácio não sejam surpreendidos a cada abertura de contagem do painel eletrônico de votações da Câmara e do Senado. Tenho calafrios de pensar no destino dos 500 milhões para o Fundo da Amazônia.
Como bem disse Vera Magalhaes em seu artigo no jornal O Globo: “O nó da governabilidade de Lula é bem mais cego, e até aqui a questão tem passado ao largo das cobranças do presidente, das atenções de seus auxiliares e de uma reflexão mais madura e realista dos partidos que integram a coalizão governista”.
Na capital acreana o índice de violência é altíssimo para quem sai de seus muros altos. As facções tomam conta dos bairros periféricos e sequer são mencionadas. Residencias invadidas, bens tomados a força, casas de famílias queimadas. Silêncio!
Mas você sabe que nunca vai passar fome. O que é uma força de expressão para você é realidade concreta para milhões de pessoas. Sua preocupação é cair o padrão de vida, o que é uma preocupação legítima.
Medo de perder o carro, ter que passar os filhos da escola particular para a pública, ter que gastar suas reservas. Fome é outra coisa. Ah, também não diga que está preocupado (a) com quem efetivamente vai passar fome.
Quando no fundo a sua preocupação é com o aumento da violência. O que também é uma preocupação legitima, embora nada solidária. O medo da violência urbana é em certa medida o medo da fome dos outros nos ferir.
As pessoas com mais de 2 neurônios se preocupam com justiça social mesmo não sendo compassivas e solidárias. O ser humano não tem fome só de comida, mas tem medo de perder privilégios e a segurança ilusória a que foram amestrados a acreditar.