Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Fique à vontade

Encontrei meu primo na semana passada. Eu tenho muito primo. Mainha tem 11 irmãos e meu pai, 4. Nem sei dizer quantos somos. Deixa eu fazer uma continha aqui, pera: Zélia, Jaime, Fred, Maria, Pedro, Ana, Ruth, Maria Helena, Eduardo, Marta, Ana Lúcia e Dulce. Minha mãe, Ana, sai contando os irmãos assim quando quer definir a lista de convidados de uma festa, o número de lembrancinhas, o tanto de aniversário do mês, desde que eu sou menina. Tem um ritmozinho que ela faz, sabe, quase uma cantiga.

Pronto, esses são os Monteiro. Contando com os D´Albuquerque somos pelo menos 34. Encontrar um de 34 nem devia ser notícia tão noticiosa assim, né? Mas é que não tem nenhum morando em São Paulo, e foi Betinho, meu primo carnal. Tem quem chame essa modalidade de parentesco de primo germano. É assim, minha mãe, é irmã da mãe dele e nossos pais também são irmãos. Um DNAzinho bem parecido. Fora isso, passamos quase todas as férias da infância juntos, verão em Recife na casa deles e inverno lá em casa em Garanhuns, e tem mais, moramos também juntos entre meus 13 e 15 anos.

A gente se vê todo ano, pelo menos uma vez no ano. Na última em que aconteceu, minha filha mais velha disse que conseguiu me imaginar criança de tanto que rimos. Ele, e Tiaginho, meu outro primo Germano, me pôem mesmo a voltar à infância. Mês passado, no primeiro de abril, Betinho e eu, maquinamos uma mentira para pegar Thiaguinho e Poly, minha irmã. Ninguém caiu, de tão preparados que já estavam os dois para as nossas galhofadas. Ainda assim, passamos o dia a cutucar um ao outro no grupinho que o quarteto mantem no whatsapp.

Voltando ao encontro do sábado, marcamos um almoço. Era pra ser coisa rápida. Ele e Tici, a esposa – uma querida total – com a agenda cheia de compromissos culturais para gastar no feriado paulistano. Chegamos meio dia em ponto no restaurante, saímos perto das 7h. Eu já rouca de tanto que falei. Saiu de um tudo. O tanto de “Só posso dizer isso a vocês” que eu repeti nessa tarde, dá até medo. A sorte é que bebemos o suficiente para esquecer metade dos segredos que espalhamos a mesa.

Chegamos os três tão educadinhos, lá pela metade, rolou cantoria, trecho livro, poema recitado, “tu lembra disso?”, “e naquele dia?”, “eu já te contei a história de bla bla bla”. Teve uma sobremesa pra três colheres, garfo de um prato para o outro, assalto da batata frita alheia. Na hora de agradecer a companhia a primeira coisa que me veio a cabeça foi dizer: como foi confortável. E tô contando isso tudo só pra lembrar, se aproxime de quem te faz sentir assim. Não tem nada mais delicioso no mundo do que estar à vontade. Boa semana, queridos.

Sair da versão mobile