Nas vésperas do Dia das Mães, nesta sexta-feira, 12, o Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) realizou a edição do projeto “Abraçando Filhos”. A ainiciativa proporcionou reencontro de 25 mulheres que estão cumprindo pena na Unidade Feminina Prisional da Penitenciária Francisco de Oliveira Conde (FOC), em Rio Branco, com seus 52 filhos.
Na abertura do evento, a presidente do TJAC, desembargadora Regina Ferrari, dedicou uma mensagem especial às reeducandas, provocando a reflexão sobre a necessidade da presença materna pelos(as) filhos(as). Ferrari encerrou seu discurso enaltecendo a importância do projeto: “o mundo requer amor e bondade, por isso somos gratos em abrir as portas do tribunal para vocês abraçarem seus filhos(as)”.
A coordenadora da Infância e Juventude, desembargadora Waldirene Cordeiro, sintetizou a missão da iniciativa com a frase “é melhor estar aqui fora”. Deste modo, mais do que humanizar os atendimentos das pessoas que estão em conflito com a lei, a desembargadora evidenciou o papel das reeducandas enquanto protagonistas de sua ressocialização.
Para felicitar as mães, a decana da Corte acreana, desembargadora Eva Evangelista dirigiu palavras emocionadas sobre o valor da maternidade. Assim, declarou seu sentimento de felicidade por ter contato com o “Abraçando Filhos”, pois simboliza acolhimento e superação.
Traduzindo a gratidão
A servidora do TJAC Iris Acácio estava com a fantasia de um grande coração, ilustrando o que o escritor brasiliense João Doederlein, autor do “O livro dos Ressignificados”, conceituou sobre o que é ser mãe:
“Mãe é o termo usado para designar um coração capaz de amar infinitamente”.
Como sugerido pelo próprio nome da ação, a imagem que melhor ilustra essa oportunidade são os abraços, andar de mãos dadas e por fim o transbordar da saudade – a palavra mais dita no dia.
Entre tantas histórias, foi notável uma das mães que reuniu seus cinco filhos. Quatro meninas e um menino, com idades 2, 6, 9, 15 e 17. Já é difícil levar os cinco filhos a qualquer lugar, mas com a prisão esses estão com os cuidados distribuídos, por essa razão é ainda mais complicado tê-los juntos. Ela disse que não tinha contato presencial há um ano e quatro meses, portanto essa é a lembrança mais feliz dos últimos tempos. “Desde que eu soube a notícia do projeto estou sonhando com esse momento aqui. Passei a semana ansiosa. Ontem quase não conseguia dormir e agora sou só gratidão”, afirmou.
Contando os dias para o fim dos dias no cárcere, outra reeducanda compartilhou suas convicções: “eu quero agradecer primeiramente a Deus e a todos envolvidos por proporcionarem esse dia tão maravilhoso! O amor por nossos filhos é uma coisa inexplicável. Eu sempre fui mãe e pai dos meus filhos, porque eu perdi muito cedo o pai deles. Eles só têm a mim. Todo mundo erra, mas eu me sinto muito culpada por não estar cuidando deles. Eu creio que vou poder restaurar minha família, rever meus erros, cuidar dos meus filhos, cuidar da minha família, porque mãe pra mim é cuidar e eu vou fazer isso”.
Depois das emoções iniciais, as mães sentem uma centelha efêmera da normalidade. Perguntam sobre as atualizações de casa, o relacionamento com os irmãos, cobram boas notas na escola, acham graça dos causos infantis e sentem o calor do afeto correspondido, aquele que é incomparável na existência humana e é entregue na inocência genuína dos gestos dos filhos.
O reencontro foi possível devido a parceria com o Iapen. O diretor do Iapen Marcelo Lopes falou sobre a iniciativa: “esse é um projeto que visa a convivência familiar e o Iapen entende que esse é um projeto que fortalece a reestruturação familiar, faz com que o comportamento delas mude no cárcere. Então tirá-las das celas e trazer para um ambiente como esse, mostra para elas que existe a possibilidade palpável de estar com os filhos por mais tempo”.
“Eu tenho tanto pra te falar, mas com palavras não sei dizer”
Antes de começar a solenidade, uma das mulheres já não conseguia segurar as lágrimas com sua filha nos braços. Contudo, a comoção foi amplificada com a apresentação ao vivo dos alunos do programa “Amigos Solidários”, seguida pela servidora Milene Moura, gerente de Qualidade de Vida e dos cantores Lidson Martins e Ivana Pacífico, que embalaram os encontros familiares.
Durante a música “Oh Happy Day”, mãe e filha dançavam. Entre um passo para lá e outro para cá sorriam no compasso ritmado pela felicidade. A reeducanda tem três filhas, que possuem 4, 11 e 17 anos de idade. Ela não as via há três anos, porque moram em Plácido de Castro, logo repete-se o enredo da vulnerabilidade que circunda a maior parte da população carcerária. Ela destacou a dificuldade de ir até a Oca para tirar carteira de visitação, bem como o sacrifício logístico em levar as crianças no presídio.
Os filhos, que pouco ou mal entendem sobre o cumprimento da pena, também têm dificuldade de expressar suas emoções. A alegria se confunde com tristeza e a incompreensão sobre o fim do encontro.
A ação terminou com troca de presentes. Lembranças doadas pelo TJAC foram entregues dos filhos para as mães. Outros mimos doados pelo sindicato foram doados para as mães servidoras. As crianças também receberam presentes e por fim, todos compartilharam um lanche no átrio da instituição.
Abraçando Filhos
O projeto “Abraçando Filhos” tem por objetivo diminuir o distanciamento entre mães encarceradas e seus filhos, e, ainda, os efeitos colaterais negativos sofridos pelos filhos com a separação e a distância materna. O projeto tem a função de promover um apoio material e acolhimento afetivo dos menores, sendo, também, uma medida preventiva de segurança pública.
A iniciativa da Coordenadoria Estadual da Infância e Juventude recebeu uma menção honrosa no Prêmio Prioridade Absoluta 2022, realizado pelo Fórum Nacional da Infância e Juventude e a Secretaria Especial de Programas, Pesquisa e Gestão Estratégica.
Miriane Teles | Comunicação TJAC