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‘Nunca foi fácil pra mim ou para as minhas filhas’, diz universitária que concilia trabalho, estudos e maternidade

"Momento em que a uma professora parou a aula pra consolar a minha filha Mariana, que não parava de chorar", relembra Silvania, que leva as filhas para o trabalho e sala de aula". (Foto: Cedida).

Mulheres que trabalham e estudam, enquanto vivem a maternidade, lidam com as jornadas múltiplas da vida familiar, acadêmica e profissional e com as dificuldades para conciliar esses espaços.

A servidora pública Silvania Patrícia de Araújo Miranda, tem 32 anos, é estudante de Direito, e conta ao site A GAZETA sobre a dedicação e as doses de sacrifício de uma mulher que se desdobra para trabalhar e concluir a graduação durante a maternidade.

Silvania tem duas filhas, de 7 e 3 anos. Sua primeira filha, Manuela, nasceu no primeiro ano da faculdade. “Nunca foi fácil para mim ou para minhas filhas, mas com ela [Manuela] foi tudo mais difícil”, contou.

“Quando ela tinha 2 anos, coloquei em uma creche porque eu trabalhava o dia inteiro. Só que meus horários eram incompatíveis com o da creche, então, eu a deixava com o pai (ex-companheiro). Tentava vê-la entre o intervalo de sair do trabalho e ir para a faculdade a noite, mas quando eu ia pra aula, ela chorava muito e eu também”, relembra a mãe.

Ela conta que a filha ficou na creche por dois meses: “Era muito difícil ficar longe dela e todo dia me ligavam às 11h da manhã para ir busca-la por problemas na creche. Então, eu tive que me virar com trabalho e criança pequena pra cuidar”.

Para a psicóloga Iasmin Castro, a sobrecarga da saúde mental de mulheres mães advém de um sistema que não ajuda e acolhe mulheres com seus filhos e filhas. “É necessário garantir o bem viver dessas mulheres dentro da Universidade e do mercado de trabalho. Estruturas físicas como berçários e creches, auxílios financeiros dignos (por parte da Universidade) e uma rede de apoio são algumas das ações necessários, além de ouvir essas mães a apontarem suas próprias necessidades”.

Segundo o último censo de Educação Superior, as mulheres são maioria nas universidades brasileiras.  Ainda assim, muitas ainda precisam escolher entre cuidar dos filhos ou estudar por conta das dificuldades que encontram durante a trajetória.

Silvania, que leva as filhas ao trabalho e também para a sala de aula, acredita que a primeira medida a ser tomada para facilitar que mães consigam trabalhar e concluir a graduação, são creches de qualidade e em tempo suficiente.

“Tudo que uma mãe precisa pra conseguir desempenhar suas funções com maestria é saber que os filhos estão seguros e sendo bem cuidados”, explica.  Ela afirma ainda que o tempo fornecido pelas creches do estado, que funcionam até às 16h da tarde, são insuficientes. “Ninguém sai às 16h do trabalho”.

A mãe conta que a segunda filha, Mariane, veio sem planejamento. Durante a licença-maternidade, chegou a pandemia: “O que era difícil ficou praticamente impossível: home office e duas crianças pequenas”.

Terminando uma graduação em Direito, ela afirma ser muito difícil pra uma mãe estudar e cuidar dos filhos: “Pretendo terminar minha monografia esse ano. Mas como? Não sei de onde tirar tempo pra sentar e escrever”, observa.

Silvania explica que uma das formas de facilitar o processo de vida acadêmica, carreira e vida familiar para mulheres, que maternam, é uma rede de apoio com compreensão e ajuda.

“A rede de apoio é fundamental.  Com rede de apoio fica tudo mais fácil. Além disso, as pessoas precisam ser compreensivas com mães que precisam levar os filhos à universidade ou ao trabalho. Mas, o ideal seria não precisar levar a esses ambientes, ou seja, ter um lugar para que elas possam ficar em segurança. Porque uma criança em ambientes como sala de aula e trabalho, atrapalha sim”.

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