A população de Rio Branco é a que mais consome peixe contaminado por mercúrio entre os 17 maiores centros urbanos da Amazônia. É o que diz um estudo realizado por pesquisadores de seis instituições. A potencial ingestão da substância nociva à saúde humana ultrapassa, na capital acreana, mais de 30 vezes o recomendado.
O levantamento foi feito em todos os seis estados amazônicos, com o objetivo de avaliar o risco à saúde em função do consumo de peixes contaminados pelo uso de mercúrio em garimpos na região. Para isso, os pesquisadores visitaram, entre março de 2021 e setembro de 2022, mercados públicos, feiras-livres e pontos de desembarque pesqueiro, simulando o dia a dia dos consumidores locais.
Mais de 1 mil exemplares de peixes de 80 espécies distintas foram avaliados para a pesquisa, desenvolvida pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Greenpeace Brasil, Iepé, Instituto Socioambiental e WWF-Brasil.
No Acre, 36% das amostras coletadas apresentaram índice de contaminação por mercúrio acima do limite recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No ranking estadual, os acreanos só perdem para roraimenses, que tiveram 40% das suas coletas contaminadas em excesso.
De acordo com o pesquisador da Ensp/Fiocruz, Dr. Paulo Basta, a população está diante de um problema de saúde pública. “Sabemos que a contaminação é mais grave para as mulheres grávidas, já que o feto pode sofrer distúrbios neurológicos, danos aos rins e ao sistema cardiovascular. Já as crianças podem apresentar dificuldades motoras e cognitivas, incluindo problemas na fala e no processo de aprendizagem”.
Ele reforça que, de forma geral, os efeitos são perigosos, muitas vezes irreversíveis, com sintomas podendo aparecer após meses ou anos seguidos de exposição. “É urgente a criação de políticas públicas para atender as pessoas já afetadas pela contaminação por mercúrio e medidas preventivas, de controle de uso”.
Além de Rio Branco, foram analisadas amostras de peixes em Altamira (PA), Belém (PA), Boa Vista (RR), Humaitá (AM), Itaituba (PA), Macapá (AP), Manaus (AM), Maraã (AM), Oiapoque (AP), Oriximiná (PA), Porto Velho (RO), Santa Isabel do Rio Negro (AM), Santarém (PA), São Félix do Xingu (PA), São Gabriel da Cachoeira (AM) e Tefé (AM).
Para reverter o problema, os pesquisadores recomendam maior controle do território amazônico e a erradicação dos garimpos ilegais, além de outras fontes emissoras de mercúrio para o ambiente.