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Irmãos de 7 e 9 anos sobreviveram 27 dias perdidos em floresta na Amazônia

Irmãos Glauco e Gleison — Foto: Divulgação

Dois irmãos passaram 27 dias perdidos no meio da mata, em Manicoré, interior do Amazonas, em fevereiro de 2022, quando tinham 6 e 8 anos de idade. Assim como as crianças colombianas, ter uma certa familiaridade com a floresta ajudou a mantê-los vivos. 

Moradores da Zona Rural de Manicoré, no interior do Amazonas, as crianças indígenas Gleison Carvalho Ferreira, de 9 anos, e Glauco Carvalho Ferreira, de 7 anos, desapareceram em 18 de fevereiro de 2022, quando saíram da comunidade onde moram para caçar pássaros.

Após 27 dias, os irmãos foram encontrados com diversas picadas de gafanhoto, formigas, aranha e mordida de morcego.

“Tinha muito gafanhoto, que roía, formiga, que ferrava, morcego, que mordeu a orelha dele. Tem uma mordida na mão dele. Aquilo foi uma aranha. O maior matou uma cobra”, detalhou a mãe das crianças, Rosinete da Silva Carvalho.

Enquanto os irmãos indígenas da Colômbia de 13, 9 e 4 anos e 1 ano sobreviveram comendo farinha de mandioca e frutas da floresta com que tinham familiaridade, os amazonenses Gleison e Glauco beberam água da chuva, de um pequeno rio e se alimentaram de sorva, uma fruta típica da região amazônica.

A mãe das crianças amazonenses acredita que o fato de eles serem indígenas foi fundamental para a sobrevivência. “Porque eles têm aquele modo, aquele costume que a gente fala ‘da terra’, de comer as frutas que eles conhecem. E foi isso mais que alimentou eles”, disse.

As buscas

Os meninos sumiram em uma sexta-feira e, no domingo seguinte, dia 20, dois grandes grupos de buscas foram montados. Segundo os bombeiros, o raio de procura foi de aproximadamente 15 quilômetros na mata.

No dia 25 de fevereiro, oito dias após os desaparecimentos, as buscas foram encerradas pelo Corpo de Bombeiros, mas indígenas de aldeias que ficam em Capanã Grande, em Manicoré, continuaram a procurar pelas crianças na região.

Dois dias depois, em 27 de fevereiro, as buscas foram retomadas depois que a comunidade encontrou novas pistas. Uma indígena voluntária, que atuou diretamente nas buscas, informou, na época, que foram encontradas pegadas e até uma possível “cama” feita de palha.

Como foram encontrados

O agricultor Manoel Pio Wilkes localizou os dois irmãos no dia 15 de março de 2022. Na ocasião, ele disse que estava procurando madeira no meio da mata quando ouviu um barulho.

Veja o relato dele:

– Eu bati em uma árvore e foi quando eles gritaram: “Ei”.
– Eu conheci e disse: “Vocês estão perdidos?”.
– E um deles respondeu: “Vem me buscar!
Manoel concluiu: “Pera aí um pouco que eu tô buscando vocês”. Saí em disparada pra lá”.

As crianças foram resgatadas apresentando um quadro grave de desnutrição e escoriações na pele.

Após serem encontrados, os irmãos receberam atendimento emergencial no hospital de Manicoré, mas tiveram de ser transferidos para Manaus.

A transferência foi autorizada após o Ministério Público do Amazonas pedir que os dois fossem examinados por um especialista até quatro horas após o resgate.

Internação

Os dois apresentaram machucados infeccionados. Um deles tinha uma úlcera na região sacra (no final da coluna), além de feridas no ouvido causadas por larvas de mosca. Ambos passaram por constante monitoramento e, após a alta, retornaram para Manicoré.

Como as crianças estão atualmente?

Um ano e quatro meses após a experiência, as crianças retornaram à vida normal na Aldeia Paraíso, no Lago da Acará, Zona Rural de Manicoré, local onde nasceram.

Nesta segunda-feira (12), a secretária de assistência social de Manicoré, Inara Socorro, contou que as crianças estão saudáveis, vivendo com a família e que retornaram aos costumes que tinham antes de desaparecerem.

Da esquerda para a direita, Glauco e Gleison — Foto: Arquivo pessoal

Cláudia Carvalho, tia das crianças, compartilhou uma foto dos irmãos feita em dezembro de 2022 durante um aniversário de uma familiar, nove meses depois de Glauco e Gleison serem resgatados da floresta. Os dois aparecerem fazendo poses juntos.

“É difícil ter contato com eles devido a localidade onde moram, mas todo fim de mês eles viajam até a cidade acompanhados dos pais para fazer visitas”, explicou a tia.

Portal G1 Amazonas

 

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