“Foi a Cigana quem me deu”. A frase compõe a rima da música escolhida pela estudante de Medicina Yohanna Malta, 18 anos, para entrar no auditório da Uninorte, na noite desta sexta-feira, 2, em Rio Branco, em uma Cerimônia do Jaleco.
Umbandista da Tenda de Umbanda Luz da Vida, a jovem decidiu homenagear a sua madrinha espiritual Cigana Rosa Madalena no recebimento do seu equipamento de proteção individual (EPI), utilizado pelos acadêmicos de Medicina durante o seu curso e sua vida profissional.
“Inicialmente, eu fiquei apreensiva, pois quase ninguém sabia que eu era umbandista, principalmente a família dos acadêmicos. Fiquei com medo de sofrer algum tipo de preconceito, mas, não deixei isso me abalar. Levantei o meu lenço, levantei minha rosa e agradeci por aquele momento, porque se não fosse a Dona Cigana, eu não teria tido a fé em mim mesma para estar ali”, revelou a futura médica.
Praticante da religião de Umbanda há quase dois anos, Yohanna de Iansã, como é batizada em seu terreiro [templo religioso], faz questão de destacar a sua gratidão e amor à energia de Cigana Rosa Madalena, uma entidade na linha de Pombagira, recebida por sua Mãe de Santo, Marajoana de Xangô. Para realizar a homenagem, a jovem utilizou uma música autoral do Flor de Ogum, “Cigana Mãe Maior”, levou um um lenço cigano e uma rosa amarela, que representavam a homenageada.
“Ela é muito importante para mim e, ontem, eu quis homenageá-la por toda essa caminhada que eu tive na Umbanda, sendo filha da Mãe Marajoana de Xangô. Por isso, ignorei qualquer julgamento que pudesse surgir e simplesmente levantei o lenço e a minha rosa. A rosa amarela para mim representa muito, porque no dia do meu cruzamento [batismo], ela [Cigana] me deu uma rosa amarela e disse que sempre estaria comigo”, destacou Yohanna.
Para a sacerdotisa e dirigente espiritual da Tenda Umbanda Luz da Vida, Mãe Marajoana de Xangô, a homenagem emocionou e levou um recado de respeito à diversidade religiosa.
“A alegria de ver uma filha de santo louvando o seu Sagrado publicamente é imensurável. Pois, ver os filhos crescendo, se encontrando consigo mesmo e melhorando para o mundo, não tem dimensão. A Yohanna me emocionou ao declarar abertamente: ‘eu sou filha de uma Pombogira’. São as honrarias que os Ciganos nos dão, vendo a menina Yohanna pegando o jaleco e, em breve, o canudo de doutora. A emoção é tão grande que faltam palavras para descrever o quanto é lindo ver os filhos desabrochando, é lindo ver as filhas empoderando-se desse sagrado que baila na nossa vida”, salientou a sacerdotisa.
Yohanna Malta cursa o 3° período de Medicina na Uninorte, estava acompanhada da família e amigos. Sua irmã mais velha, Drylle Malta, também é umbandista e foi quem gravou o vídeo da irmã.
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