É habito, especialmente dos brasileiros dizermos que Deus escreve certo por linhas tortas, quem cuida de endireitar é o diabo, que gosta de andar alinhado. Shakespeare acertou quando disse que o diabo é um cavalheiro, seu cavalheirismo, no entanto define-se pelo trato humano, você vai ouvi-lo até ficar convencido, ele tem a palavra certa para a ocasião.
O diabo é sedutor e vai fazer você mudar de opinião sempre que tiver uma decisão a tomar.
Machado de Assis falou da igreja, mas penso que deveríamos nos ater, não ao sacerdócio, que é sempre devotado à comunidade. Já o diabo é uma criatura individualista, calha que os interesses trabalham para o mesmo fim, me refiro ao aspecto intelectual. A figura torna o homem apaixonante.
Gramsci pensou em sua organicidade, acho que em sua genialidade, o diabo é belo e inteligente nas páginas de Goethe e Schiller.
O traço é absurdamente desafiador, está sempre pelo melhor, as suas linhas seriam inexpressivas se fossem finas e delicadas. Não tem o rosto efeminado, ao contrário, são marcas de uma expressividade digamos que dissimulada.
Nenhum sinal de opressão, o diabo se resolveu com o passado de sofrimento. O fato é que ele se apresenta triunfante e vitorioso. Suas feições são másculas, falo de uma masculinidade que superou a tentação e a violência, é aí que o diabo se mostra propriamente diabólico.
No entendimento então, ele não vai iludir como se pretendesse colocar você na linha, ele vai nos fazer seguir nosso próprio caminho.
O moralismo imagina que o diabo quer desvirtuar e corromper, ledo engano das pessoas que estão acostumadas a pensar dentro da caixa e não sabem que massa é sempre massa de manobra.
Como disse o autor dos “Cadernos do Cárcere” muito sensato e lucidamente, pois diferenciamos para distinguir e misturamos sem confundir, os militantes e o agente revolucionário.