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Os chapéus do poeta

Acreano de Sena Madureira, educado, galante, junto com sua parceira de vida a escritora Edir Marques me recebiam com carinho em seu apartamento, num condomínio de Rio Branco.
Os assuntos eram diversos e a delicadeza em receber era própria do casal.
O poeta Mauro Modesto acompanhava tudo que acontecia na imprensa, na política, na sociedade. Quando cumprimentava olhava nos olhos, parecendo que os verdes de seus olhos enxergavam nossa alma.

Colecionador de chapéus, comprava um em cada lugar que passava. Em cada entrevista ou visita, me presenteava com uma peça de sua coleção, ainda me mandava escolher. Gostava de ouvir alguns de meus textos lidos por mim. Paciente dava dicas, elogiava, mas sobretudo, incentivava.

Lendo suas poesias penso que o verdadeiro poeta não se distrai. Escreve com o sangue, sua força fere a página, é como rir até chorar, capaz de transformar o prazer para converter a felicidade que pode se misturar ao sofrimento com o qual sentimos as dores do mundo.
Resolve o problema da continuidade misturando-se aos fatos que ganham sentido com o acontecimento, os capítulos se sucedem e na medida em que a narrativa se aprofunda o desenvolvimento é colocado no caminho da evolução.
A experiência o fez ganhar a fluência necessária aos bons, adquiriu desenvoltura devido ao pronome oblíquo e tônico, a história passa por ele, através dele porque o narrador existe junto, não separado da realidade da vida.

O recém falecido escritor checo Milan Kundera disse: “… A vida é uma armadilha que sempre conhecemos; nascemos sem ter pedido para ser, trancados em um corpo que nunca escolhemos e destinados a morrer”.
Considero admirável a honestidade intelectual de quem nasceu num lugar tão distante dos grandes centros e conseguir escrever, publicar, enaltecer sua terra e motivar a cultura local.

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