O relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), divulgado no último dia 26, mostra que o Acre tem o quinto maior número de mortes de crianças indígenas entre 0 e 4 anos em 2022. Os estados que registraram o maior número de óbitos de crianças indígenas entre 0 e 4 anos em 2022 foram Amazonas (233), Mato Grosso (133) e Roraima (128).
No período de 2019 a 2022, os mesmos três estados, na mesma ordem, também foram os com maior número de registros: 1.014, 487 e 607 óbitos, respectivamente. Juntos, os três somam 59,3% do total de mortes registradas nestes quatro anos.
E seguida, aparece Pará, com 269 mortes e o Acre com 235. Em todo o país, foram registrados 3.352 óbitos nessa faixa etária nos últimos quatro anos.
O ano com maior número dessas mortes no Acre foi em 2019, com 76 registros. Em 2021, esse número chegou a reduzir para 46, mas, no ano passado ficou em 51 registros.
“Com base nas causas de óbitos informadas pela Sesai, foram identificadas pelo menos 356 mortes de recém-nascidos e de crianças com até 4 anos de idade que morreram por causas evitáveis. Isto é, que poderiam ter sido controladas por meio de ações de atenção à saúde, imunização, diagnóstico e tratamento adequado. A análise foi feita com base na lista de óbitos por causas evitáveis – 0 a 4 anos, disponibilizada pelo Ministério da Saúde”, destaca o relatório.
Os dados mostram ainda as mortes por desassistência à saúde. Em todo o país, foram 76 mortes de indígenas por falta de assistência à saúde. No Acre, 15 morreram desta forma.
Com relação a suicídios de indígenas, no ano passado o estado acreano não registrou nenhum caso, porém, registra nove casos nos últimos quatro anos, segundo o relatório.
Desde 1972, o Cimi, em parceria com a CNBB, atua na promoção da diversidade étnico-cultural e dos direitos dos indígenas. O Conselho, com sede em Brasília, conta com 11 regionais espalhadas pelo país e atua junto a mais de 180 povos originários em todos os 26 estados.
Assassinatos
De 2019 a 2022, 13 indígenas foram assassinatos no Acre. No ano passado, foram 4 mortes, sendo uma mulher e outros três homens. Uma dessas mortes foi do indígena José Ribamar Kaxinawá, de 32 anos.
Ele foi achado morto no dia 9 de janeiro de 2022 em uma cova próximo a um igarapé na zona rural de Feijó. Ele estava desaparecido desde o dia 7 de janeiro. Segundo a Polícia Civil, foram pelo menos nove suspeitos do crime. A motivação teria sido dívida por drogas. Ele pertencia a uma organização criminosa e estaria dando guarida a membros de outro grupo e foi pedida a morte dele. A vítima foi torturada, amarrada e enterrada em uma cova profunda na região.
O outro caso foi em abril de 2022. A indígena Anita Kulina caiu no Rio Envira em Feijó, interior do Acre. A primeira informação da polícia era de que ela se afogou depois de ter sido esfaqueada pelo marido, que também feriu a filha de 15 anos com uma facada nas costas. A adolescente foi levada para o Hospital do Juruá, em Cruzeiro do Sul, após ter o pulmão perfurado.
A terceira vítima citada no relatório foi indígena João Barbosa Marcelino Kaxinawá, de 25 anos. Ele foi assassinado com mais de 30 facadas na madrugada no dia 7 de maio no Centro da cidade de Jordão. Quatro pessoas foram presas em flagrante e um menor de 15 anos apreendido.
O delegado responsável pelo caso, Valdinei Soares afirmou ao g1 na época que, na delegacia, dois dos presos confessaram que deram facadas no indígena e os outros disseram que teriam ficado assistindo o crime. Todos foram autuado em flagrante e indiciado por homicídio qualificado por motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima.
Homicídio culposo
A morte do jovem indígena de apenas 10 anos, David da Silva Katukina, da etnia Noke Koi, aparece no relatório como o único homicídio culposo registrado no estado. Ele foi atropelado por um caminhão quando voltava da escola na Terra Indígena Campinas Katukina, entre Cruzeiro do Sul e Tarauacá, no dia 25 de março de 2022 e morreu após passar mais de 10 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) d Instituto de Traumatologia e Ortopedia do Acre (Into-AC).
Tentativa de assassinato
O Acre teve duas tentativas de homicídio contra indígenas. Um dos casos é da adolescente, que foi esfaqueada pelo pai e que teve a mãe morta.
E o segundo caso foi de uma família de indígenas retornava da cidade de Santa Rosa do Purus, no dia 17 de agosto, quando pararam para pegar uma melancia e se alimentar. Nesse momento, escutaram o vizinho de sua aldeia, que não é indígena, gritando: “Seus ladrões, vou te matar”. Zequinha viu o homem descer para a praia com um remo na mão e atacar-lhe. Zequinha teve vários ferimentos na cabeça e no braço, sendo socorrido por Bil Madijá, que o levou para o hospital na cidade, onde ficou internado. No dia 22 de agosto, foi feito o boletim de ocorrência policial, em Santa Rosa do Purus.